Estados a falar de investigadores que vivem num país onde se registam milhares de novos casos diários e e centenas de mortes por Covid-19 há várias semanas – daí que encontrar uma forma de tornar o teste que deteta o SARS CoV -2 o mais barato possível seja uma prioridade. E essa é a promessa implícita do kit conhecido como FELUDA, nome que homenageia um detetive privado fictício criado por Satyajit Ray, escritor e cineasta de renome na Índia. Mas que também é o acrónimo de FNCAS9 Editor Linked Uniform Detection Assay, o primeiro método de diagnóstico do mundo a utilizar uma proteína – chamada Cas9 – especialmente adaptada para detetar a presença do SARS-CoV. Além do preço mais em conta (qualquer coisa como cinco euros), o novíssimo kit promete resultados com uma rapidez comparável às dos testes de gravidez.
De acordo com os ensaios feitos no CSIR-Institute of Genomics and Integrative Biology, em Nova Deli, capital da Índia, e numa série de outros laboratórios privados, o processo demonstrou ter mesmo uma precisão de 98 por cento. O que significa que deteta praticamente todos os casos de pessoas infetadas – mesmo as que estão naquele período de incubação que escapa muitas vezes à maioria dos outros testes. O próximo passo é garantir a sua produção de forma simples, para ser usado em larga escala tal e qual qualquer outro teste caseiro. Autorizado já pelo organismo indiano que tutela o setor, o seu lançamento comercial deverá ocorrer em poucas semanas. Pelo menos é essa a esperança de Harsh Vardhan, o ministro da saúde da Índia.
Ligação Nobel
“É algo que não seria possível sem o CRISP”, assinala, desde logo, Luís Graça, imunologista do Instituto de Medicina Molecular, a referir-se ao método distinguido este ano com o prémio Nobel da Química pela Real Academia Sueca das Ciências. Emmanuelle Charpentier, do Max Planck Institute for Infection Biology, em Berlim, e Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia, Berkeley, descobriram aquela que é considerada uma das ferramentas mais afiadas da tecnologia genética. “Esta CRISPR consegue literalmente manipular o ADN de forma fácil e precisa”, sublinha o especialista.
Depois de quase uma década de ensaios feitos por aquela dupla de cientistas, no ano passado, o CRISP saiu dos laboratórios, entrando em ensaios com humanos sobre uma variedade de doenças. Pelo caminho os investigadores descobriram que pode ser utilizado como plataforma de diagnóstico para detetar praticamente tudo. E o seu potencial não se fez esperar em tempos de pandemia.
Na corrida, além do FELUDA, estão ainda os testes da Sherlock Biosciences e da Mammoth Biosciences, duas companhias da área da engenharia biológica que também já têm o aval da FDA, a agência americana que regula o setor, para aplicar aquela tecnologia à Covid-19. “O que nós queremos é a precisão do laboratório da palma da mão” disse Rahul Dhanda, CEO da Sherlock ao Business Insider. Jennifer Doudna, cofundadora da Mammoth e uma das laureadas Nobel deste ano, assumiu já que esse é também o seu próximo objetivo.