Está a tornar-se cada vez mais evidente que o corpo humano não está a reagir à infeção pelo novo coronavírus apenas com a produção de anticorpos. Está também a ser ativada uma resposta celular.
Pessoas que nunca foram expostas ao SARS-CoV-2 podem ter proteção contra ele se tiverem estado em contacto com outros vírus da mesma família
Assim, em vez de serem os linfócitos B a liderarem o contra-ataque ao vírus, logo que ele chega ao organismo, serão os linfócitos T a entrarem em ação, já depois de o SARS-CoV-2 infetar as células.
Este comportamento justifica a existência da chamada imunidade cruzada, uma vez que as células podem ter memória de infeções provocadas por outros coronavírus.
Desta forma, pessoas que nunca foram expostas ao SARS-CoV-2 podem ter proteção contra ele se tiverem estado em contacto com outros vírus da mesma família.
Um estudo conduzido nos EUA revelou que 40 a 60% dos indivíduos analisados conseguiriam defender-se do novo vírus, apesar não terem sido previamente infetados, porque já antes tinham interagido com coronavírus.
Esta imunidade não é reconhecida pelos testes serológicos, que apenas detetam anticorpos contra a doença. Já foram registados casos de doentes ligeiros e graves que, depois de recuperados, não tinham quaisquer anticorpos contra a Covid-19. Calcula-se que tal aconteça a 10 a 15% dos infetados.
No entanto, até agora, não existe evidência científica da possibilidade de reinfeção. O que poderá provar que mesmo pessoas sem anticorpos detetáveis poderão estar protegidas contra a doença.
Até agora, não existe evidência científica da possibilidade de reinfeção. O que poderá provar que mesmo pessoas sem anticorpos detetáveis poderão estar protegidas contra a doença
Quem contactou com o SARS-CoV-2 ou com outros coronavírus, mesmo sem saber, poderá ter imunidade. Durante quanto tempo, não se sabe. A proteção poderá durar entre seis meses a dois anos.
Se se confirmar a predominância da resposta imunitária celular, os testes serológicos serão pouco eficazes para aferir a imunidade de grupo (a percentagem da população protegida contra o vírus).
Se se confirmar a predominância da resposta imunitária celular, os testes serológicos serão pouco eficazes para aferir a imunidade de grupo
Mas não está posta de lado a importância da produção de anticorpos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a utilização de plasma sanguíneo com anticorpos de doentes já recuperados para o tratamento da doença.
Em Portugal, o Instituto de Medicina Molecular (iMM) está a analisar o plasma doado por voluntários que já ultrapassaram a Covid-19 para selecionar aquele que tenha mais anticorpos. Caso os ensaios clínicos internacionais confirmem que as transfusões de plasma com anticorpos são eficazes no tratamento de alguns infetados, os profissionais de saúde poderão recorrer a este banco de soros hiperimunes.