A questão está no ar e incide antes de mais no ar … condicionado. É normal. Um avião é um cubículo fechado, onde o ar circula apenas internamente, e daí a dúvida. Se houver vírus no ar não vai infetar outros? Os especialistas consultados pelo prestigiado site americano Insider garantem que não. Aliás, dizem mesmo que os aviões são essencialmente tão seguros quanto os hospitais.
Vamos por partes. O que explica aquela conclusão é o uso de filtros HEPA, os mesmo que são também usados em hospitais e removem 99,97% das partículas transportadas pelo ar. Segundo declara o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças, “a maioria dos vírus e outros germes não se espalha facilmente nos voos devido à forma como o ar circula e é filtrado nos aviões”.
A palavra aos especialistas
Joseph Allen, professor assistente de ciência da avaliação da exposição na Universidade de Harvard, concorda. Tendo estudado a qualidade do ar na cabine do avião há mais de uma década, Allen adianta: “temos de abordar isto não apenas do lado médico, mas também da engenharia. Ao observar a forma como um avião funciona, vê-se bem que está sempre a receber muito ar fresco.”
Segundo explica, o ar nos aviões sai do motor pelo lado de fora e geralmente é uma mistura 50/50 de ar fresco e reciclado. Este passa pelo tal filtro HEPA, também usado em hospitais, que remove 99,97% de partículas como germes e vírus. E, acrescenta, os aviões recebem cerca de 10 a 12 trocas de ar por hora, um valor similar ao que o CDC recomenda para as salas de isolamento de infeções transmitidas pelo ar, nos hospitais.
Não é o único a pensar assim. “Se um passageiro doente tossir ou espirrar, as gotas grandes caem no chão, não flutuam pela cabine. Já os pequenos aerossóis fazem-no, mas são facilmente eliminados pelo filtro HEPA”, assegura Howard Weiss, professor da Escola de Matemática da Georgia Tech e professor adjunto de biologia e saúde pública da Universidade Emory, nos EUA.
Afirmando ainda que o ar nos aviões é provavelmente mais fresco que o ar lá de casa ou no escritório, Weiss sublinha: “o que isso significa é que um aerossol infecioso não permanece longos períodos de tempo num avião”.
Mas e … o resto?
A Associação Internacional de Transporte Aéreo também declara na sua página oficial que “o risco de uma infeção numa aeronave é tipicamente menor do que num centro comercial ou no comum ambiente de escritório”.
Mas há outra questão, insiste outro especialista que estudou a proliferação de germes em aviões. “O mais importante, e que pode fazer a diferença, é ter cuidado com quem está ao seu lado e às superfícies em que toca”, sublinha Charles Gerba, professor de virologia da Universidade do Arizona. No entanto, também acrescenta que os atuais protocolos de limpeza implementados pela maioria das companhias aéreas já têm isso em atenção.
E isso explica igualmente que se concentrem cada vez mais na higiene, instalando divisórias de plástico entre os assentos e corredores de circulação. O lugar mais sujo, num avião, esse, continua a ser a mesa que baixa do banco da frente como bandeja. Aí é fácil detetar o vírus influenza, o que causa a comum constipação.
“Há uma razão para isso. É onde pousamos as mãos. Contra isso, basta usar um desinfetante para as mãos, evitar tocar no rosto (ou usar máscara…) e os riscos são logo minimizados.” Se puder evitar usar a bandeja, tanto melhor. Igual cuidado deve ser aplicado ao usar as torneiras e a porta da casa de banho. Weiss, o outro especialista, dá-lhe razão. A solução passa por usar o desinfetante para as mãos religiosamente sempre que tocar qualquer superfície da cabine do avião.
A distância é que faz diferença
O principal problema é, assumem todos, a dificuldade que temos em manter distância suficiente dos outros. Segundo Allen, existem “muito poucos exemplos de surtos que tenham ocorrido em aviões”, tendo em conta os milhões de voos que há anualmente. Mas, como também acrescenta, ”em qualquer situação, a proximidade com a pessoa infetada com uma doença contagiosa é o principal fator de risco.”
Gerba até concorda, embora garanta que “é apenas a área imediata à nossa volta” que coloca os passageiros em risco. Depois, insiste, trata-se também de ter alguma sorte e não ficar sentado ao lado de alguém que esteja infetado – nem assintomático. “Será o mesmo risco que corremos quando fazemos comprar, num supermercado. Quais são as hipóteses de parar ao lado de uma pessoa que esteja doente?”.
Daí Beamer fazer questão de lembrar que, num avião, o mais arriscado é mesmo essa incapacidade de controlar quem está ao pé de nós. “Se o voo vai cheio, e se sentar ao lado de alguém doente, aí já não consegue ter um grande controlo sobre a sua exposição ao risco como quando anda às compras. Não pode simplesmente afastar-se.”
No seu entender, podem estar até 20 passageiros a menos de metro e meio, num voo completo, mas assegura que esse valor é apenas uma indicação. “Não é isso que torna tudo seguro. Trata-se do alcance médio das partículas virais. Só isso.”
O melhor a fazer? Sempre e em qualquer situação em que não é possível manter distância social? Nisto, todos concordam: usar máscara e lavar as mãos. Religiosamente.