Um grupo de especialistas publicou na revista Science, na sexta-feira, um artigo em que defende que a vacina contra a poliomielite pode resultar também contra a infeção com o vírus Sars-CoV-2.
O vírus da poliomielite é extremamente contagioso e atinge principalmente as crianças pequenas. Invade o sistema nervoso e pode causar paralisia total numa questão de horas, segundo o Serviço Nacional de Saúde. Para combater este vírus desenvolveu-se uma vacina oral que hoje é considerada segura, barata e fácil de administrar. Na constituição da vacina é usada uma versão enfraquecida do vírus e esta produz uma resposta imune forte e duradoura. Graças a esta vacina, a doença poliomielite está quase erradicada em todo o mundo. Neste sentido, os investigadores confirmam que será benéfico testar a vacina para confirmar o seu efeito contra o novo coronavírus.
A ideia da realização dos testes não é necessariamente que estas vacinas possam prevenir completamente a Covid-19 mas que possam diminuir a gravidade da doença e preparar o sistema imunológico inato para combater o vírus durante um curto período de tempo. Se se mostrarem eficazes, estas vacinas poderiam fornecer proteção contra uma eventual segunda vaga de coronavírus, que provavelmente chegará antes que exista uma vacina específica. Mas para que esta teoria seja comprovada são necessários apoios monetários e a realização de testes em humanos.
“Propomos o uso da OPV (vacina oral contra a poliomielite) para melhorar ou prevenir a Covid-19. Tanto o vírus da poliomielite quanto o coronavírus são vírus de RNA de cadeia positiva [ADN dos vírus]. Portanto, é provável que possam induzir e ser afetados por mecanismos comuns de imunidade inata”, lê-se no estudo. Significa isto que como a poliomielite e o coronavírus têm um ADN semelhante, as defesas do nosso organismo (imunidade inata) podem atacar as duas doenças da mesma forma. “A vacina oral contra o poliomielite, em particular, poderia fornecer proteção temporária contra a doença do coronavírus”, afirmam os investigadores.
Vincent Racaniello, professor de microbiologia e imunologia da Universidade de Columbia, disse num e-mail ao Washington Post que este estudo pode ajudar a entender se a vacina contra a poliomielite funciona ou não. “É uma vacina que é segura, que está disponível e que é de fácil administração por via oral”, disse Racaniello. “Se a vacina conferir três a quatro meses de proteção, seria útil para os profissionais de saúde, especialmente no outono, quando as infecções por SARS-CoV-2 aumentarem novamente”, disse o professor.
Esta teoria é também fundamentada por Robert Gallo, investigador que descobriu o vírus HIV.