Com cerca de 3,7 milhões de residentes distribuídos por 52 concelhos e 355 freguesias a região de Lisboa e Vale do Tejo está agora no centro das preocupações da Direção-Geral de Saúde devido à constante subida de novos casos.
Se, na semana passada era responsável por 75% dos positivos diários, hoje chegou aos 96%. Não é caso para alarme, dizem os especialistas, mas é preciso perceber o que está em causa.
Para Gustavo Tato Borges, vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, há quatro fatores que explicam a complexidade desta região: grande densidade populacional, testagem mais tardia, deslocações casa/trabalho e algum alívio nas medidas de proteção individual.
O médico recorda que “o Norte começou a testar mais cedo, até porque houve casos mais cedo, mas houve um certo atraso em Lisboa”. Por si só, isto não justificaria o aumento, mas o caldeirão de elementos faz com que a situação tenha de ser analisada com cautelas.
“É uma zona onde há muitos dormitórios com grande densidade populacional e, também, com agregados familiares maiores”, explica, lembrando que quando alguém sai de casa para ir trabalhar tem, sempre, de pensar que no regresso ao lar pode trazer consigo o vírus. O cansaço que já se vai verificando, nota, leva a que algumas pessoas comecem a “aligeirar” as medidas de contenção, como beijos e abraços.
O desconfinamento e, consequentemente, o regresso ao trabalho de milhares de pessoas, são fatores de risco. Porque, como notou a diretora-geral da Saúde na conferência diária, “muitas destas pessoas vivem num local e trabalham noutro, portanto a vigilância implica vigiar o local de trabalho e o local de habitação.”
Graça Freitas sublinhou que este aumento em Lisboa e Vale do Tejo “deve-se a alguns fatores, entre eles alguns surtos mais ou menos localizados”. E explicou: “Na área dos centros de saúde de Almada e Seixal, temos três pequenos focos comunitários que têm identificadas 32 pessoas como positivas.” Um dos “focos”, confirmou, é no Bairro da Jamaica, no Seixal, onde já estão contabilizados 16 casos de contaminação.
As autoridades de saúde do Seixal e de Almada estão em campo para identificar novos infetados nos bairros onde foram identificados estes surtos “e nos aglomerados familiares destas pessoas”.
A região de Lisboa e Vale do Tejo tem, neste momento, 43% dos casos que estão em vigilância pela DGS. São 11 359 pessoas em contacto permanente com as autoridades sanitárias, muitas delas relacionadas com estes focos com o objetivo de quebrar a cadeia de contaminação.
Quanto à situação na Azambuja, onde existe uma plataforma logística, estão confirmadas 125 pessoas positivas, mas a situação encontra-se “estável e controlada”, referiu Graça Freitas.