A carta dirige-se a Mark Zuckerberg, do Facebook, Jack Dorsay, do Twitter, Sundar Pichai, da Google, e ainda Susan Wojcicki, do Youtube. E tem um pedido fora do comum: que aumentem a fiscalização – e a remoção – de conteúdos com informação falsa que, num contexto de pandemia, rapidamente se torna viral.
Disponível no site da Avaaz, uma rede de mobilização social através da internet – ocupando ainda uma página inteira da edição impressa do New York Times, reza assim:

“Há histórias a alegar que o uso de cocaína elimina a Covid-19. Ou que este coronavírus foi desenvolvido como uma arma biológica pela China e pelos EUA. As duas espalharam-se pelo mundo de forma mais rápida que o próprio SARS CoV-2. É verdade que as empresas de tecnologia têm removido este tipo de conteúdo, depois de sinalizado, publicando em seu lugar a informação divulgada pela Organização Mundial de Saúde.
Mas os seus esforços estão longe de serem suficientes”, seguem os autores da carta, grupo em que se inclui também o português Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.
“Este tsunami de conteúdos falsos e enganosos”, como lhe chamam, “não é um surto isolado de desinformação, é parte de uma praga global”, consideram.
“No Facebook, já lemos alegações de que o dióxido de cloro ajuda pessoas que sofrem de autismo e cancro; que milhões de americanos receberam um “vírus do cancro” através da vacina contra a poliomielite; e até que o Transtorno de Défice de Atenção e Hiperatividade é algo inventado pela grande indústria farmacêutica. E a lista continua”, assinalam.
No rasto das mentiras…
Só que…” ao promoverem-se curas falsas e acusações infundadas sobre os efeitos das vacinas e outros tratamentos comprovadamente eficazes em meios que alcançam todo o planeta, a situação torna-se muito mais difícil de combater. “São mentiras que, com a ajuda da tecnologia, viajam a uma velocidade inimaginável”, apontam. E o exemplo que se segue é esclarecedor: “Um post a alegar que o gengibre é dez mil vezes mais eficaz no combate ao cancro do que a quimioterapia teve perto de 30 mil likes, partilhas e comentários.”
É por isso, continuam os autores da carta, segue agora este pedido aos gigantes da tecnologia. “para que tomam medidas sistémicas e imediatas para conter o fluxo de informações erradas sobre a saúde e a crise de saúde pública que está a desencadear.”
“A trabalhar em hospitais, clínicas e departamentos de saúde pública em todo o mundo, estamos todos familiarizados com os impactos desta infodemia no mundo real. Somos nós que tratamos as crianças hospitalizadas por sarampo, uma doença completamente evitável, uma vez eliminada em países como os EUA, mas agora em alta, graças principalmente à propaganda anti vacinas”
É que, explicam, a desinformação também afeta a moral de profissionais que agora atravessam dos momentos mais difíceis de que há memória. Além de que o curso financeiro de combater os efeitos de tanta informação falsa acaba por ser muito maior.
…Que se espalham com a ajuda da tecnologia
Por tudo isto, lançam um desafio: “Sim, o diagnóstico é sombrio, então o que pode ser feito?”. No seu entender, há duas etapas óbvias e urgentes. Antes de mais, aqueles responsáveis da tecnologia devem corrigir a informação errada e avisar quem esteve naquela cadeia de transmissão. Ou seja, isso significa ainda alertar e notificar todas as pessoas que viram ou interagiram com as informações incorretas. E depois, partilhar a correção de forma bem visível, para evitar que os utilizadores acreditem em mentiras prejudiciais.
É verdade que algumas plataformas já passaram a remover a informação falsa. Mas, insistem, isso não chega. “Milhões de pessoas podem tê-la lido antes disso”:
Na carta, é ainda pedido aos magnatas da tecnologia que alterem os algoritmos, de forma a não sugerirem informação não verificada – e que possa levar os utilizadores a incorrerem em erro. “Atualmente, esse sistema serve apenas para manter as pessoas online, e não para salvaguardar a sua saúde. Só que isso, per si, acaba por prejudicar o bem-estar da humanidade. (…) Para salvar vidas, e restaurar a confiança nos cuidados de saúde baseados na ciência, é preciso parar de fornecer oxigénio às mentiras e fantasias que nos ameaçam a todos. “
Como sublinha Ricardo Mexia, da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, e um dos subscritores da carta, trata-se de um apelo para que os responsáveis das redes sociais sejam mais proativos e menos reativos. “Contra a desinformação, temos todos um papel importante”.