Que ninguém se meta no seu carro a caminho da Rua Vitorino Magalhães Godinho, em Sacavém, a morada que o GPS reconhece como boa para levar o condutor até ao novíssimo centro de rastreio que a Câmara de Lisboa e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo inauguraram esta semana.
Não, não é suposto os cidadãos tomarem a iniciativa de se dirigir a esta unidade de diagnóstico do vírus Covid-19. Nem a esta, nem à que foi instalada na Escola Básica Quinta dos Frades, no Lumiar.
Os testes de despistagem só serão realizados nesses dois centros de rastreio a quem tenha uma prescrição médica passada pelo Serviço Nacional de Saúde. Sem ela na mão e bem à vista, nada feito, pede para avisar quem passou todo o dia de estreia do drive-thru do Parque das Nações com medo de ter de recambiar pessoas de volta para as suas casas.
Quando a equipa de reportagem da VISÃO chegou ao descampado de terra batida que tantas vezes recebeu o chapitô do Circo Cardinalli, junto ao Tejo e ao Trancão, os agentes da polícia municipal e os técnicos dos laboratórios Germano de Sousa e Unilabs que ali estavam já tinham várias horas nas pernas. O centro abrira às 9 da manhã e iria funcionar até às 7 da tarde. Mesmo assim, vimos como continuavam a repetir o procedimento com os mesmos passos, o mesmo cuidado e a mesma calma. Incansáveis.
O centro tem capacidade para fazer 150 testes por dia (ou o dobro, se for necessário no futuro). Não podemos aqui escrever quantos foram realizados na primeira segunda-feira de todas porque essa informação não é considerada importante. “O que importa é que, a cada dia que passa, o País possa fazer cada vez mais testes. E nós temos capacidade para aumentar o número de testes, tanto no Parque das Nações como no Lumiar”, disse à VISÃO um porta-voz da autarquia lisboeta.
Podemos, ainda assim, contar que, em duas horas e meia, vimos uma dúzia de carros com, pelo menos, uma pessoa de prescrição na mão. Para ali chegar, seguiram as indicações a encarnado com a palavra Covid-19 bem visível. E, à entrada do espaço vedado por grades de metal, só tiveram de esperar ordens para ir avançando, por etapas. Primeiro, mostraram o salvo-conduto e receberam em troca um formulário, depois foram avançando até uma grande tenda branca onde é realizado o teste.
O caminho é sempre feito de carro e num único sentido, sem inversões de marcha. Agentes e técnicos, está tudo de máscaras e de luvas, sendo que os elementos que têm de se aproximar mais das pessoas que poderão estar infetadas usam também fatos de proteção e viseiras. E, mesmo estes, não correm riscos desnecessários. “Abra só um bocadinho a janela”, ouvimos uma técnica dizer, uma e outra vez, exemplificando com os dedos em pinça.
Tudo isto que acabámos de escrever no parágrafo anterior, à mistura com as várias tendas, os carros da Polícia Municipal e os grandes banners encarnados que parecem gritar “Stop”, “Não saia da viatura”, “Mantenha os vidros fechados”, chama a atenção de quem por ali passa. E passa muito boa gente. Gente a caminhar, gente a correr, gente a andar de bicicleta ou a passear o cão e a brincar com filhos pequenos. O cenário é lindo, muito graças à enorme colónia de flamingos que quase sempre ali se encontra no sapal. Os birdwatchers conhecem-no bem.
Se os dias estão bons, como esteve esta segunda-feira, há sempre alguém por ali mesmo em plena campanha #euficoemcasa. E, à noite, até há pouco tempo também se viam carros junto às árvores frente ao Tejo, de portas abertas para uma prática sexual conhecida como dogging.
Não vá já pesquisar essa palavra no Google. Primeiro, leia só mais isto: todos os testes são gratuitos e certificados e validados pela Associação Nacional de Laboratórios; este centro e o do Lumiar (que tem capacidade para 200 dias/dia) vão estar abertos ao fim de semana e inserem-se numa rede de dez unidades a instalar nos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa.
Dez, pelo menos, já disse o presidente da Câmara da capital, Fernando Medina. Não nos podemos esquecer de que a ordem da Organização Mundial da Saúde é, agora, testar, testar, testar. Para reduzir as hipóteses de contágio na comunidade.