Quem quiser procurar um exemplo do que é a “fase de crescimento exponencial da epidemia” do novo coronavírus, anunciado pela ministra da Saúde, Marta Temido, só precisa de olhar para o que se passou na Noruega na última semana: com 173 casos ativos registados a 8 de março (semelhantes aos 169 que Portugal tem, atualmente), o país escandinavo saltou para os 1086 infetados, no sábado, 14, acrescentando ainda a contagem de três mortos. Foi uma subida vertiginosa em apenas sete dias e que trouxe outro recorde negativo: a Noruega é hoje o segundo país em que maior percentagem da população está contaminada. As contas são claras: são 200 casos por cada milhão de habitantes (numa população de cerca de 5,3 milhões de pessoas), um valor muito superior ao registado em países como o Irão (151 por milhão), Coreia do Sul (157) e Espanha (136). Pior só mesmo a Itália que regista, atualmente, 350 casos por milhão de habitante.
Este “crescimento exponencial” em apenas uma semana fez disparar os alarmes na Noruega, obrigando o governo a tomar medidas nunca vistas desde a II Guerra Mundial. A partir de segunda-feira, 16, todos os aeroportos e portos serão encerrados, de forma a impedir a entrada de qualquer pessoa no país, apenas com a exceção de pessoal médico e dos noruegueses no exterior que queiram regressar casa – mas esses terão a obrigatoriedade de ficar em quarentena, durante um período de 14 dias. Desde a última sexta-feira, foi também decidido encerrar todos os estabelecimentos de ensino (dos jardins de infância às universidades), bares, discotecas, piscinas, ginásios, museus e salas de espectáculos. Foram cancelados também todos os eventos culturais e desportivos.
O ministro da Saúde norueguês, Bent Høie, já avisou que o país tem de começar a preparar-se para um cenário em que terá de hospitalizar cerca de 22 mil pessoas. Entretanto, ele próprio foi obrigado a entrar em quarentena, devido às novas regras que visam todos os noruegueses que, até ao final de fevereiro, tenham regressado ao país depois de uma viagem a qualquer país estrangeiro.
“Os últimos dias foram completamente irreais para mim e, acredito, para toda a população”, declarou Erna Solberg, a chefe de governo de Oslo, no final de uma reunião de emergência do seu gabinete. “Isto que está a acontecer, afeta as nossas vidas, o nosso sistema de saúde e a nossa vida”, sublinhou, recordando que apenas 15 noruegueses tinham sido identificados como casos positivos com covid-19 há apenas duas semanas. Agora, são mais de mil infetados e já três mortes a lamentar – todos eles idosos.
Solberg já anunciou que pretende reunir este domingo com os líderes de todos os partidos políticos, porque, nesta situação, “é preciso manter a unidade para aprovar as medidas necessárias para salvar vidas, empregos e empresas”. Segundo os jornais locais, cerca de 400 mil postos de trabalho estão em risco, com a epidemia.
A chefe de governo promete também fazer tudo o que for necessário e “gastar o dinheiro que for preciso” para assegurar a estabilidade social, sanitária e económica do país.
Este estado de emergência e os números elevados de infetados surgem em claro contraste com a imagem internacional que a Noruega foi construindo ao longo dos últimos anos. De forma consistente, o país tem ocupado o primeiro lugar no chamado índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, que “mede”, de certa forma, o “melhor lugar para se viver”, tendo em conta a riqueza, o acesso à educação, saúde e oportunidades de trabalho. Nos últimos anos, a Noruega tem ficado sempre também nos primeiros lugares nos índices de transparência, de democracia e de liberdade de imprensa.
Segundo a OCDE, os indicadores da Noruega na Saúde são dos melhores, com os seus habitantes a registarem uma esperança média de vida à nascença de 83 anos, três anos a mais do que a média dos países que compõem a organização. No entanto, agora, em relação à epidemia de Covid-19, a Noruega apresenta alguns dos piores resultados do mundo.