“Fui despedido quando trabalhava em atendimento ao público: o meu chefe achava que o meu eczema não se adequava à imagem da loja”.
“Falhei uma apresentação muito importante e comprometi todo o plano de negócios para o semestre. As minhas mãos estavam de tal forma feridas e irritadas que tive vergonha de cumprimentar os nossos parceiros”.
“Aconselharam-me a enveredar pela via profissionalizante. Não parar de me coçar toda a noite, todas as noites, fez-me estar desatento às aulas todas as manhãs da minha vida na escola”.
“O que se passa com as tuas mãos? Estás cheio de feridas…”
“O teu filho tem alguma infeção nos braços? Parece contagioso… Anda por aí um surto de sarna…”
“A tua cara está toda a descamar! Podias ao menos ter usado um hidratante!”
“São testemunhos reais que os doentes partilham diariamente na Consulta de Dermatologia”, explica Pedro Mendes Bastos, médico dermatologista no Hospital CUF Descobertas e na Clínica CUF Almada.
A dermatite atópica, também conhecida como eczema atópico, é uma doença crónica, mediada pelo sistema imunitário, que não tem uma causa simples ou única: é determinada pela interação de alguns fatores genéticos e outros ambientais.
“Para além do prurido que consegue enlouquecer até os mais pacientes, a dermatite atópica pode modificar drasticamente o nosso aspeto físico”, sublinha o especialista: “Aparecem manchas avermelhadas e descamativas na pele, que com o tempo se podem tornar mais espessas, com fissuras, erosões (feridas) e exsudativas (saindo líquido). Dependendo da idade e do padrão clínico de cada doente, as lesões podem surgir em qualquer área anatómica, embora as pregas ou ‘dobras’, mãos e pálpebras sejam muito caraterísticas.”
O dermatologista acredita que 10 a 20% das crianças e 1 a 3% dos adultos vivam com dermatite atópica. A maioria dos casos são ligeiros, mas alguns doentes sofrem de doença moderada ou grave.
O prurido (comichão) pode ser intenso, constante e diário e as manchas, placas ou feridas tanto podem aparecer em áreas cobertas como expostas, como a face ou as mãos, o que, sublinha Pedro Mendes Bastos, dificulta a escolha de vestuário e origina desconforto.
Em termos psicológicos, sabe-se que as pessoas com dermatite atópica têm maior propensão a perturbações psicológicas como depressão, ansiedade e má qualidade de sono. No caso das crianças, o médico afirma que o rendimento escolar “pode ser francamente comprometido”. A tudo isto, somam-se os custos diretos de consumo de idas aos serviços de urgências, gastos com exames complementares, cremes e medicamentos.
“Quem vive com dermatite atópica é frequentemente estigmatizado de uma forma violenta. Ouve diariamente uma subvalorização das suas queixas, quer por parte da sociedade civil, quer mesmo de profissionais de saúde”. O dermatologista enumera: “‘São apenas manchas na pele’, ‘disso não vais morrer’, recusa em cumprimentar com aperto de mão ou beijinho na face são partilhas que ouvimos no consultório diariamente.”
“Como dermatologista, é importante explicar que existem tratamentos eficazes que devem ser personalizados a cada doente e a cada momento da sua vida. O suporte a nível terapêutico e emocional é chave para aprender a conviver com uma doença crónica de pele e ultrapassar os desafios”, conclui.
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