Além de representar uma nova esperança para o tratamento de doentes com Alzheimer, o resultado da experiência agora divulgada oferece também a possibilidade de compreender melhor os mecanismos por detrás da tão temida demência.
Segundo os investigadores da Universidade de Buffalo, Nova Iorque, a “mudança dramática” na memória de curto prazo, espacial e funcional leva-os a acreditar que será possível reverter a perda de memória que caracteriza a demência.
Publicados no Brain, os resultados do estudo liderado por Zhen Yan sugerem que o “segredo” está em olhar para as alterações nos genes que não são provocadas pelas sequências de ADN.
“Neste estudo, não só identificámos os fatores epigenéticos [que não envolvem mudanças na sequência de AND] que contribuem para a perda de memória, como também encontrámos formas de os reverter temporariamente num modelo animal da doença de Alzheimer”, congratula-se Zhen Yan.
Além de usar roedores portadores da mutação genética de Alzheimer familiar (quando mais do que um membro da mesma família tem a doença, que passa de geração em geração), os investigadores analisaram também tecidos cerebrais post-mortem de doentes com Alzheimer.
Yan explica que as alterações epigenéticas acontecem sobretudo nos estágios mais avançados da doença, deixando os pacientes incapazes de reter informação recente, ao mesmo tempo que apresentam o declínio cognitivo mais dramático. “Descobrimos que na doença de Alzheimer, muitas subunidades de recetores de glutamato no córtex frontal estão desreguladas, interrompendo os sinais excitatórios, que prejudicam a memória funcional”, continua a investigadora. Esta perda de recetores de glutamato (o principal neurotransmissor que estimula o cérebro), descobriram ainda, resulta de um processo conhecido como “modificação repressiva da histona”, observada tanto nos ratos como nos tecidos cerebrais dos doentes humanos.
Traduzindo, a compreensão do processo pôs a descoberto os alvos potenciais para um tratamento, uma vez que a modificação repressiva da histona é controlada por enzimas. E é aqui que entra a promissora injeção, destinada a inibir essas enzimas.
Aos ratos foram administradas três doses e os efeitos, além de verificarem rapidamente, prolongaram-se durante uma semana. A ideia agora é conseguir desenvolver forma de os efeitos se manterem durante muito mais tempo.