“Uma dieta pró-inflamatória pode induzir inflamação sistémica e isto pode aumentar diretamente o risco de depressão”. Foi esta a conclusão de uma investigação que reuniu especialistas britânicos, espanhóis e australianos, nas palavras da principal autora, Camille Lassale.
Publicado na revista científica Molecular Psychiatry, o estudo resulta da análise de 41 trabalhos de investigação sobre a relação da alimentação com a depressão.
Se quem adota uma dieta tradicionalmente mediterrânica tem um risco de ter uma depressão muito inferior, graças à abundância de peixe, fruta, vegetais e frutos secos, quem ingere regularmente junk food vê esse risco “significativamente” aumentado, concluíram.
Grandes quantidades de açúcar ou gordura nos alimentos, assim como o serem processados, leva a processos inflamatórios não só nos intestinos como em todo o organismo, o mesmo que faz o tabaco, a poluição, a obesidade ou a falta de exercício.
Quando se torna crónica, esta inflamação sistémica “pode afetar a saúde mental ao transportar até ao cérebro moléculas pró-inflamatórias e também pode afetar os neurotransmissores responsáveis pela regulação do humor”, esclarece Lassale, do departamento de epidemiologia e saúde pública da University College London.
A responsável sublinha ainda que o grupo de investigadores não acredita que a conclusão possa ser explicada por um maior consumo de comida de plástico por parte das pessoas deprimidas, mas antes por uma provável ligação causal (e não apenas uma associação) entre a alimentação e o problema de saúde mental. Os estudos analisados excluíam, de resto, as pessoas a quem tinha sido diagnosticada depressão.
A conclusão não espanta Cosmo Hallstrom, especialista na doença ouvido pelo The Guardian: “A química do intestino é muito semelhante à química do cérebro. Portanto, não é surpreendente que o que influencia o intestino possa influenciar também o cérebro.”
Em Portugal, a depressão afeta cerca de 400 mil pessoas por ano.