Partos prematuros anteriores, certas complicações como pré-eclâmpsia, stress ou diabetes gestacional aumentam a probabilidade de uma gravidez não ser levada até ao seu termo. Mas e se houver forma de prever esse risco mesmo quando não estão presentes estes fatores, permitindo uma intervenção no sentido de o minimizar ou controlar?
“Isso permitir-nos-ia focarmo-nos nelas numa forma que não agora não conseguimos”, responde Larry Rand, professor na Universidade da Califórnia, em São Francisco, que liderou uma investigação publicada no mês passado no Journal of Perinatology, um dos dois estudos separados, publicados recentemente, com vista ao desenvolvimento deste teste.
“É realmente intrigante ser capaz de identificar quando uma mulher tem um risco maior do que o resto da população de uma complicação tão séria como o parto prematuro”, afirma.
Os testes descritos nos dois estudos – o outro foi publicado esta semana na Science – ainda estão numa fase muito precoce de desenvolvimento, mas estão a entusiasmar os investigadores.
A análise ao sangue descrita pela equipa de Rand visa prever o risco de parto prematuro em grávidas com e sem pré-eclâmpsia, uma complicação caracterizada pela pressão arterial elevada. Para o estudo foram recrutadas 400 mulheres no segundo trimestre de gestação, avaliadas quanto à presença de 25 biomarcadores ou substâncias do sangue que dessem sinais de inflamação ou ativação do sistema imunitário e aos níveis de certas proteínas indicadoras de um possível risco de parto prematuro. Os investigadores concluiram que fazer esta avaliação e, ao mesmo tempo, ter em conta a idade e a condição social das mulheres poderá identificar o risco de parto prematuro na maioria das mulheres, logo no segundo trimestre.
“O nosso teste conseguiu prever 80,3% das mulheres que acabaram por ter um parto prematuro, entre as 15 e as 20 semanas de gestação”, explica Laura Jelliffe-Pawlowsk, que assina o estudo como primeira autora. Já no caso das grávidas com pré-eclâmpsia, a capacidade de prever o nascimento antes do tempo foi de 95 por cento.
O outro teste em desenvolvimento propõe-se não só prever o parto prematuro como avaliar a idade gestacional de uma gravidez (que, atualmente, se faz com recurso a ecografia) com base no ácido ribonucleico.
“O RNA [na sigla em inglês] dá-nos uma ideia das células no corpo estão a fazer em certos pontos no tempo e, por vezes, o RNA encontrado no sangue é indicativo do que está a correr mal”, explica Mira Moufarrej, da Universidade de Stanford, co-autora deste estudo-piloto.
Neste caso, foram avaliadas 31 mulheres grávidas saudáveis da Dinamarca, comparando a idade gestacional obtida a partir da medida de nove moléculas de RNA com o resultado ecográfico, obtendo uma taxa de correção de 45% contra os 48% por imagiologia. Depois, em 38 mulheres em risco de parto prematuro, os investigadores identificaram outras sete moléculas de RNA capazes de distinguir entre as gestações que seriam levadas até ao final e as que não. Foi possível prever um parto prematuro até dois meses antes.
“A capacidade de monitorizar de forma não invasiva o desenvolvimento fetal e prever o risco de parto prematuro através de marcadores na circulação pode ter um enorme impacto na gestão e monitorização da gravidez”, acredita Noelle Younge, neotalogista ouvida pela CNN a propósito destes dois estudos.
Em todo o mundo, nascem anualmente uns estimados 15 milhões de bebés antes de completar 37 semanas de gestação e, segundo a Organização Mundial de Saúde, este número está a aumentar. As complicações decorrentes dos partos prematuros são, por seu lado, a causa mais frequente de morte de crianças com menos de 5 anos, no total de um milhão de mortes em 2015.