O conceito de “Bereitschaftspotential”, que pode traduzir-se por “potencial pré-motor” foi definido em 1965 pelo neurologista alemão Hans Helmut Kornhuber e é uma espécie de “potencial de prontidão”. O psiquiatra Pedro Varandas, que integra a Bolsa de Especialistas VISÃO, define este potencial como uma “onda electrofisiológica que expressa a atividade cortical que precede qualquer movimento muscular voluntário”. “Ao demonstrar que a atividade do córtex pré-motor antecedia os movimentos voluntários, H. H. Kornhuber descobriu o sinal cerebral da vontade que antecede a ação”, explica.
Até aqui, este sinal só tinha sido medido em laboratório – apesar dos numerosos estudos sobre o assunto – uma vez que a alteração de voltagem se situa na casa dos milionésimos de volt.
Mas Surjo R. Soekadar, psiquiatra e neurocientista da universidade alemã de Tübingen, conseguiu agora avaliá-lo pela primeira vez em condições reais. E extremas, neste caso: antes de um salto de uma altura de quase 200 metros.
De olhos postos no desenvolvimento de interfaces cérebro-máquina, a ideia de Soekadar e da sua equipa era descobrir se esse potencial de prontidão podia ser avaliado em ambientes quotidianos. E mais: se a vontade necessária para iniciar uma ação teria influência nas características do potencial do cérebro.
Para este estudo, os investigadores contararam com a colaboração de dois semi-profissionais de saltos de penhascos, a quem foram medidas as ondas cerebrais antes de saltar da segunda plataforma mais alta da Europa para bungee jumping: a Ponte da Europa perto de Innsbruck, na Áustria.
Alguns saltos bastaram para detetar o “Bereitschaftspotential” para lá de qualquer dúvida, o que, para Marius Nann, que colaborou na investigação, quer dizer que o potencial de prontidão antes de um bungee jump “é muito claro”.
Os resultados deste estudo vão estar disponíveis na primavera numa publicação internacional, mas já estão disponíveis online.