Que as mulheres tendem a viver mais tempo que os homens em condições de vida normais, já não é novidade. E, segundo diz a ciência, o mesmo acontece em situações extremas e inóspitas.
Um grupo de investigadores da Universidade do Sul da Dinamarca (SDU) analisou as taxas de sobrevivência de ambos os sexos em populações de vários períodos da história que foram vítimas decondições extremas de vida, como escassez de alimentos, epidemias ou escravatura.
A conclusão foi sempre a mesma: independentemente da situação, as mulheres sobreviveram sempre durante mais tempo que os homens.
O estudo envolveu dados de 250 anos de história, relativos à mortalidade de sete sociedades de todo o mundo:
– Os escravos norte-americanos que, em 1820, foram libertados e migraram para a Sibéria, onde encontraram um ambiente rico em doenças;
– Os escravos britânicos que trabalhavam na Ilha de Trinidad, nas Caraíbas;
– A Ucrânia em 1933, que foi vitimizada pela escassez de alimentos;
– O período de fome na Suécia, com início em 1972;
– A Islândia em 1846 e em 1882, que sofreu epidemias de sarampo;
– A escassez de alimentos vivida na Irlanda em meados de 1800.
Em todos os casos, a esperança média de vida das populações era, no máximo, de 20 anos, chegando nalguns casos a ser inferior.
Na Ucrânia de 1933, por exemplo, as raparigas sobreviviam, em média, até aos 10 anos de idade, enquanto os rapazes morriam por volta dos sete. Fora desse período, a esperança média de vida no país era de 45 anos para as mulheres e 41 para os homens.
“Em todas as populações, os homens tinham uma mortalidade igual ou superior à das mulheres, em quase todas as idades”, conclui o estudo.
Outra conclusão foi que tal disparidade era também observada à nascença: as raparigas bebés recém-nascidas tinham, em geral, uma taxa de sobrevivência superior aos recém-nascidos rapazes.
“A hipótese de a vantagem de sobrevivência das mulheres ter bases biológicas fundamentais é apoiada pelo facto de que, sob circunstâncias muito severas, as mulheres sobrevivem melhor que os homens; mesmo em idades infantis, em que as diferenças sociais e comportamentais possam ser mínimas ou favorecer os homens”, relatam os investigadores.
A “vantagem biológica” de sobrevivência defendida pelos autores pode ocorrer também devido ao estrogénio – a hormona sexual feminina – potenciar a ação do sistema imunitário.
“Os nossos resultados indicam também que a vantagem feminina difere entre ambientes e é modulada por fatores sociais”, finalizam.