Os dados são claros e entre os especialistas não há grande dúvida: diminuir o risco de ataque cardíaco e de AVC passa obrigatoriamente por fazer baixar os níveis de colesterol LDL no sangue. Apesar dos estudos sólidos, continua a haver “uma grande passividade, quer por parte dos doentes, quer por parte até de alguns médicos”, denuncia o cardiologista e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Pedro Monteiro.
A participar no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, que acontece esta semana em Barcelona, o médico reforça a relevância do tema para a população portuguesa, em que um em cada três adultos tem níveis de colesterol elevado. A maior parte do colesterol que existe no organismo vem do fígado e não da alimentação.
“Manter uma alimentação saudável é muito importante para outros problemas de saúde (risco de enfarte, diabetes, cancro), mas é pouco relevante para o colesterol”, sublinha o médico. Gaetano De Ferrari, responsável pelo unidade coronária do Policlínico de San Matteo de Pavia, Itália, e um dos maiores especialistas a nível europeu em problemas cardíacos de origem genética, também reforça o fraco impacto da mudança de estilo de vida no caso específico do colesterol.
“A influência da alimentação no nível de LDL é 10 a 15 por cento”, afirma. “É quase impossível atingir os objetivos apenas com uma dieta saudável.” E a questão é que, a seguir ao tabaco, o colesterol elevado é o fator de risco modificável, ou seja, que é possível controlar, com maior impacto na doença cardiovascular – a principal causa de morte nos países ricos.
A questão é que, mesmo bem tratados com estatinas, o medicamento mais usado para o controlo do colesterol, 20 a 25 por cento dos doentes de risco não atinge os níveis recomendados, que são so 70 mg/dl, depois de ter ocorrido um episódio agudo, como enfarte ou AVC. Para estes doentes, está a surgir uma nova classe de medicamentos, os inibidores da proteína PCSK9. Da classe dos anticorpos monoclonais, estas substâncias bloqueiam a atividade da PCSK9, que atua ao nível dos recetores de LDL no fígado. Quando no organismo se impede ou diminui a sua atuação o resultado é a diminuição dos níveis de LDL no sangue.
“Os doentes tratados com o evocolumab ficam com menos LDL e mais HDL”, refere Pedro Monteiro. Ou seja, com menos colesterol mau, o que se acumula e danifica as artérias, e com mais colesterol bom. Neste momento, há dois medicamentos deste tipo, em fase de aprovação e definição de esquema de comparticipação: o evolocumab e o alirocumab. “Não vamos deixar de prescrever estatinas, mas estes novos medicamentos vão ser muito importantes no tratamento de doentes de risco elevado”, remata Pedro Monteiro.