Não há como escapar dela, mas se enfrentarmos a morte com pensamento positivo, o nosso fim poderá não ser tão aterrador quanto o imaginamos. Uma recente investigação da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, nos Estados Unidos, concluiu que doentes terminais e condenados à morte têm pensamentos inesperadamente positivos. O estudo baseou-se nos testemunhos escritos de diferentes grupos de pessoas. De um lado, juntaram doentes de cancro e de Esclerose Lateral Amiotrófica em fase terminal e condenados à pena de morte; do outro, pessoas saudáveis que imaginavam encontrar-se numa situação tão limite como as do outro grupo. Foi aplicado um algoritmo para identificar as palavras que nestas confissões representam tanto sentimentos positivos como negativos. E cruzando dados, os investigadores chegaram à conclusão de que os que estão moribundos sentem emoções mais positivas do que aqueles que só imaginam a sua morte. O que equivale a dizer que a morte é muito mais aterradora mas num sentido abstrato. “Quem está quase a falecer desenvolve um sentimento de aceitação”, explica Kurt Gray, coordenador da investigação, ao jornal espanhol El Mundo. “Encontrámos gente mais feliz quando enfrenta uma situação irreversível, porque tem necessidade de justificá-lo. E, existe algo mais irreversível do que a morte?”.
As conclusões, publicadas na revista Psychological Science, advertem que as expectativas das pessoas sobre a morte diferem da realidade. Os doentes terminais que foram incluídos no estudo tiveram de escrever, no mínimo, uma dezena de posts num blogue, onde exprimiam os seus sentimentos durante pelo menos três meses. Outro requisito era que a sua morte tivesse ocorrido durante o período em que o blogue estava ativo. A maior tranquilidade de Gray ficou justificada com o emprego de um maior número de palavras como felicidade e amor. Não só se detetou um aumento destas emoções positivas, como um declínio das negativas à medida que se aproximava o Dia D. Tanto os doentes terminais como os presos no corredor da morte mostraram sociabilidade, afeto e sentido de humor.
Ao estudo faltaram testemunhos de idosos para valorizar a perceção da morte em idades avançadas. Sobre isso, já um trabalho de Thomas Pyszczynski, professor de Psicologia da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, apontava que as pessoas mais velhas sofrem de menor ansiedade. A chave é a falta de apego a muitas coisas que construíram durante a vida e lidarem, diariamente, com o pensamento da morte: quem chega aos 80 ou 90 anos de idade já viu morrer muita gente à sua volta.
Outra aspeto interessante é conhecer se o nosso pavor atávico pode ser anestesiado pela fé. Perguntaram a Kurt Gray e este reconheceu que no seu estudo não foram tidas em conta as preocupações religiosas dos participantes, embora se constate uma associação de palavras relacionadas com a religião e os comportamentos mais alegres. Pensamento positivo até ao fim.