
Frazer Harrison
A febre do ‘running’ e das caminhadas está aí para ficar. Todos os dias, ao fim do dia e até bem cedinho na madrugada, muita gente sai de casa para correr ou andar nas ruas e nos parques, em nome da saúde. Afinal, todos sabemos que há uma quota diária de 10 mil passos a cumprir. É isso que os médicos garantem.
Na verdade, a origem dos 10 mil passos diários foi puro marketing. Não surgiu através de um estudo de laboratório, mas sim de uma campanha da marca japonesa Yamasa, com o intuito de vender pedómetros. E como falar de quilómetros assustava os clientes, a empresa converteu para 10 mil passos, na altura dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964. Ajudada pelo facto de ser um número redondo, a ideia pegou. A partir daí, profissionais de desporto e médicos começaram a aconselhar as pessoas a caminhar ou correr diariamente 10 mil passos.
Mas várias dúvidas começaram a surgir. Afinal, 10 mil passos são quantos quilómetros? Quanto tempo demora a dá-los? A resposta é relativa, uma vez que tudo depende da velocidade e até do comprimento da perna. Pessoas mais baixas teriam de andar mais para cobrir a distância de 10 mil passos. O mesmo se aplica à diferença de estatura entre homens e mulheres. Se as mulheres, em média, têm uma estatura mais pequena do que os homens, terão de andar mais. Logo, estão a fazer mais exercício.
Está instituído, entre muitos, que 10 mil passos equivalem a 8,5 quilómetros. Uma distância que obriga a caminhar bem mais de uma hora. “É uma meta ambiciosa, mas bem acima da meia hora de atividade física recomendada pela Organização Mundial de Saúde”, disse ao jornal El País Francisco Camarelles, do Grupo de Educação em Saúde da Sociedade Espanhola de Medicina Familiar e Comunitária. “Mas é possível.” Isto porque rotinas como andar até ao autocarro, pela rua ou no supermercado já representam muitos passos. É isso que ajuda os espanhóis a darem, em média, quatro mil passos por dia, segundo Francisco Camarelles. Mesmo assim, um número muito abaixo dos dez mil. Talvez por isso é que várias entidades de saúde sugerem um número mais realista. O Ministério da Saúde do Japão, por exemplo, sugere que se dê entre 8 mil a 10 mil passos. Por outro lado, o Forúm Nacional contra a Obesidade nos Estados Unidos baixa a barra um pouco mais: recomenda 7 mil a 10 mil.
Além de não ser necessário dar os tais 10 mil passos por dia, também não é preciso suar nem correr como se estivéssemos a fugir de alguém. Basta andar a um ritmo que permita acelerar o coração, mas que não nos tire o fôlego ao ponto de não conseguirmos manter uma conversa em desconforto. E independentemente do número de passos, o importante é mantemo-nos em movimento.