O biólogo espanhol Juan Pedro González Varo e a sua equipa da Universidade de Cambridge usaram o Google Académico para pesquisar todos os documentos científicos sobre a conservação do meio ambiente publicados em 2014 nas 16 principais línguas. O resultado foi “bastante surpreendente”: das mais de 75 mil publicações, apenas 64% estava em inglês. Das restantes, 13% eram em espanhol, 10% em português, 6% em chinês e 3% em francês.
“Em teoria, fixarmo-nos apenas na ciência escrita em inglês poderia omitir 36% dos conhecimentos existentes”, alertam os autores do estudo, publicado da revista PLOS Biology.
E o exemplo é inquietante: em janeiro de 2004, quando alguns vírus da gripe das aves ameçavam a saúde global, cientistas chineses descobriam que uma das estirpes, o H5N1, tinha infetado porcos. A descoberta era alarmante, porque se suspeitava que tinha sido o porco a transmitir o vírus aos humanos na pandemia de 1918 que matou mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Mas o estudo passou praticamente despercebido porque estava apenas em chinês. Segundo o El País, só mais de seis meses depois a Organização Mundial de Saúde dava conta do estudo do Instituto de Investigação Veterinária de Harbin, no nordeste da China.
O japonés Tatsuya Amano, da equipa responsável por este novo estudo, acrescenta que o Ministério do Ambiente do Japão tem uma enorme base de dados de biodiversidade, com um milhão de registos de espécies, que apenas está disponível em japonês.
A solução? Para González Varo passa pela intervenção das publicações científicas, que, sugere, deveriam disponibilizar resumos dos artigos nos principais idiomas.