A liguagem corporal é isso mesmo, uma linguagem. Tem códigos aos quais atribuímos significados que podem determinar a opinião de um entrevistador em relação ao entrevistado. Além de escolher a roupa certa, o discurso certo, de se preparar para as perguntas que lhe podem ser colocadas, deve usar uma linguagem corporal que exponencie esses esforços.
As dicas são da autoria de Carol Goman, oradora na área do coaching para líderes e autora do livro “A linguagem silenciosa dos líderes”. Tem por base algumas investigações científicas sobre perceção mental das posturas corporais. Segundo ela “há duas conversas a decorrer em paralelo numa entrevista de emprego. A verbal e a não verbal. Quando o seu corpo reflete algo completamente diferente das suas palavras as pessoas vão acreditar no seu corpo”.
Aqui ficam então as dicas para que o seu discurso diga o mesmo que o seu corpo – “contrate-me”:
Procure fazer pose de alguém com superpoderes
Pode parecer estranho, mas um estudo de 2010 demonstrou que bastam alguns minutos a fazer uma pose poderosa para nos sentirmos realmente poderosos.
“As pesquisas mostram que isto aumenta a hormona da testosterona, o que nos faz sentir mais confiantes e reduz a hormona do stresse, o cortisol”, diz Carol Goman. Amy Cuddy, coautora do estudo, falou recentemente à VISÃO sobre o assunto.
Portanto, chegue antes da hora da entrevista, procure a casa de banho e, em frente ao espelho, afaste os pés e coloque as mãos na cintura como um verdadeiro super-homem ou uma verdadeira super-mulher. Bastam dois minutos. Empoderar o corpo ajuda a empoderar a mente, concluiu esta pesquisa.
Leia o jornal em papel em vez de estar no telemóvel
Quase sempre uma entrevista de emprego implica esperar. Saiba agora que o que faz enquanto espera pode ter influência na sua contratação.
Estar no telemóvel a fazer scroll no facebook faz com que tenhamos uma postura torta e reprimida, totalmente o oposto de da “pose poderosa” acima defendida.
Sobre isto Carol Goman diz: “Quando nos debruçamos sobre o telemóvel, com o queixo para baixo e os ombros encurvados, os níveis de cortisol aumentam e a testosterona começa a descer.”
Assim, ler um jornal é uma opção melhor. “O seu corpo expande-se naturalmente enquanto agarramos num jornal e as costas e o pescoço ficam direitos”, diz. Esta postura vai ajudá-lo a reter a pose superpoderosa que anteriormente treinou na casa de banho.
Atenção ao aperto de mão
Aperte a mão ao seu entrevistador com firmeza e enquanto o olha nos olhos.
“Não devemos olhar fixamente alguém nos olhos, claro, mas muitas pessoas têm tendência para desviar o olhar e isso dá a impressão de que temos algo a esconder”, diz Carol Goman. E deixa o conselho de olhar nos olhos do entrevistador o tempo suficiente para captar a sua cor de olhos.
Além disso, enquanto lhe aperta a mão, diga o nome do seu entrevistador. “Prazer em conhecê-lo, António”, por exemplo. Isto porque, segundo a leadership coach, “há uma palavra de que gostamos acima de todas as outras: o nosso nome”.
Mostre o sorriso certo
No máximo 200 milissegundos: é o tempo que o nosso cérebro leva a observar e interpretar uma expressão facial para entender o estado emocional daquela pessoa e poder definir a sua opinião relativamente a ela. Quem o prova é um estudo da Universidade de Glasgow feito em 2009. Por isso, a expressão conta e a primeira impressão também. Muito.
Segundo o estudo, há claramente seis expressões faciais que o cérebro interpreta de forma quase imediata: a felicidade, a tristeza, o medo, a repulsa (nojo), a raiva e a surpresa. Depois de observadas inicia-se um processo de interpretação rápido e automático no nosso cérebro sem qualquer intervenção do raciocínio lógico.
“À mínima expressão de dúvida ou preocupação, o entrevistador vai perceber e ter isso em conta” diz Carol, que sugere também: “Um sorriso pequeno que cresce é mais cativante porque sugere que a nossa felicidade é uma resposta ao outro”.
Quando se sentar não se desvalorize
A postura durante a entrevista também transmite uma imagem de nós mesmos. “Estudos das Universidades de Harvard e de Columbia descobriram que as mulheres tendem a ter uma postura reprimida. Sentamo-nos com as pernas cruzadas ou muito juntas e os braços fechados e junto ao corpo. E como resultado parecemos mais pequenas”, diz Goman. Ora, esta não é certamente a postura confiante que queremos passar.
A autora acrescenta ainda: “O que fazemos com o nosso corpo afeta o nosso estado de espírito e reflete-se no nosso corpo”. Ou seja, não se reprima, relaxe os braços sobre a cadeira, assente os pés no chão como quem sabe o que quer e veio para ficar. Incline-se ligeiramente para a frente como quem mostra entusiasmo e interesse.
Aposte nos gestos
Já se provou que um discurso sai a ganhar quando acompanhado de um discurso gestual – dá força ao nosso raciocínio e ajuda-nos a evitar aquelas muletas de linguagem tão desnecessárias como “ah, tipo, hum…”
Mas procure os gestos certos: movimentos relaxados e nada de gestos que sugerem nervosismo como mexer na cara, no cabelo, nos anéis, esfregar as mãos. “Se vir que está a fazer isto, relaxe as mãos no colo por um momento e recomece”, aconselha Carol Goman.
Por isso fale através das mãos, desinibidamente, sem medos.
Seja um espelho do seu entrevistador
À partida não vai conhecer a pessoa que está à sua frente naquela entrevista e, por isso, é útil que force uma conexão. Fazer mais ou menos o que ela faz, como um espelho, ajuda.
Se o seu entrevistador junta as mãos no colo e inclina a cabeça para um lado, espere alguns segundos e repita esse movimento. Ao fazê-lo ativa os “neurónios espelho” daquela pessoa e isso reforça a empatia e fortalece a ligação da relação.
Além de dar a entender que são pessoas parecidas e que podem resultar juntas, “também nos ajuda a compreender o que o entrevistado está a sentir, o que lhe pode dar uma vantagem na entrevista”.