A economia circular devia fazer parte do quotidiano das pessoas, das organizações e da sociedade em geral. Na verdade, todos estamos preocupados com a sustentabilidade do planeta e o seu futuro. Para além da preocupação geral legitima, são as nossas práticas diárias que vão garantir ou condicionar o nosso legado para as próximas gerações.
Neste contexto, é essencial compreender este paradigma da economia circular que assenta na transição do modelo linear de produção de bens e serviços (extração de matéria-prima, produção, uso e rejeição dos produtos) para um modelo circular, onde há uma efetiva redução do consumo de matérias-primas e os materiais são devolvidos ao ciclo produtivo através da recuperação, transformação e reutilização.
Para o setor do saneamento de águas residuais, a circularidade da água é uma oportunidade para a adoção de novos comportamentos alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável com vista a uma gestão eficiente e sustentável do recurso “água”, recorrendo aos princípios acima referidos e tirando partido da tecnologia.
Neste setor de atividade encontram-se identificados três caminhos convergentes no âmbito da economia circular: o caminho da água, o caminho dos materiais e o caminho da energia. A recuperação de recursos apresenta alguns desafios, tais como encontrar mercados dispostos a trabalhar com produtos recuperados como alternativas a produtos recém-fabricados ou recém-extraídos. Outro aspeto prende-se com a escala das unidades de recuperação de recursos, para que seja economicamente vantajosa a sua adoção, uma vez que os potenciais utilizadores na indústria e na agricultura dependem de preços altamente competitivos.
Existem ainda outras barreiras associadas a esta temática, tais a aceitação dos consumidores à utilização de recursos recuperados e ainda a questão legislativa associada à definição de resíduos versus produtos.
No âmbito da estratégia da Águas do Tejo Atlântico e na mudança de paradigma que está em curso, estamos a transformar as estações de tratamento de águas residuais urbanas em Fábricas de Água, ou em sentido mais lato, fábricas de recursos. Este é o caminho do futuro e a materialização dos conceitos da economia circular, é o caminho da transformação da água residual que recebe e trata, que é uma matéria prima com valor, para produzir novos produtos como são a água para reutilização, fertilizantes orgânicos e o biogás para produção de energia verde.
Além da componente tecnológica de inovação, a comunicação deste novo conceito de circularidade é fundamental para envolver toda a cadeia de valor do ciclo urbano da água, incluindo os decisores políticos, os reguladores sectoriais e o mercado, sem esquecer o principal que é o valor gerado para a sociedade e para o ambiente.
A economia circular, além de estar na agenda da atualidade, é um conceito intrínseco ao ADN da Tejo Atlântico. Na criação da empresa, ficou estrategicamente definido a aposta na inovação, na eficiência e no desenvolvimento de ações, práticas e objetivos subjacentes à economia circular. Queremos contribuir para retirar a palavra “Resíduo” do léxico circular, uma vez que no sector de saneamento de águas residuais, quase tudo pode ser transformado em produtos com valor económico.
Neste contexto, consideramos que é necessário mudar as mentalidades, quer de perceção, quer de práticas e o primeiro conceito que criámos foi o da Fábrica de Água. Não se trata de uma “simples” ETAR, para tratar efluentes, é efetivamente uma fábrica, que vai muito para além da sua missão essencial que é tratar as águas residuais e descarregá-las nos meios hídricos devidamente tratadas.
Para materializar este conceito da Fábrica de Água, criámos uma marca para água reutilizada, denominada ÁGUA+. ÁGUA + porque “água” é sempre “água” e a reutilização irá gerar mais água, com diferentes qualidades, em função do uso que lhe pretendemos dar. Esta água pode e deve ser usada na lavagem de ruas, rega de jardins e indústrias e contribui para uma gestão mais sustentável da água e para um uso eficiente da água potável.
Este conceito de uso da ÁGUA+ foi assinalado com criação a criação de uma marca de cerveja artesanal chamada VIRA, produzida com AGUA+. Virar conceitos, virar mentalidades e virar práticas, foi o mote para esta iniciativa de sensibilização para a segurança no uso de água reutilizada.
Desde março passado e num projeto conjunto com a Câmara Municipal de Lisboa, as áreas verdes da zona norte do Parque das Nações estão a ser regadas com ÁGUA+ numa área de 295.000m2.
Além deste projeto, a Tejo Atlântico está a trabalhar com outros municípios da sua de concessão para expandir o uso da água+, quer na rega de espaços verdes, limpeza de ruas ou industria.
É também neste contexto e da visão sustentável da IKEA, que os chiller´s do sistema de climatização da loja de Frielas estão a utilizar ÁGUA+ para arrefecimento ou aquecimento, consoante a época do ano, verão ou inverno, parceria com bons resultados desde o início do projeto.
Todas as Fábricas de Água produzem lamas resultantes dos processos de tratamento. Esta lama tem um grande potencial agrícola, com a vantagem de não ser de origem química como outros fertilizantes. Os operadores de recolha de lamas das Fábricas de Água, transformam as lamas em composto para a venda aos agricultores. Sabendo deste potencial e as necessidades de grande parte dos solos portugueses que são pobres em matéria orgânica, criámos a marca BIOLAMAS+.
Outras das componentes de maior importância neste contexto, prende-se com a questão energética num projeto partilha com o Grupo AdP – Águas de Portugal no âmbito do Programa de Neutralidade Energética ZERO, através do qual se propõem atingir a neutralidade energética no prazo de 10 anos, assente numa estratégia continuada de redução de consumos e de aumento da produção própria de energia verde.
A Tejo Atlântico vai concretizar este programa através do aumento da produção de bioenergia nas suas Fábricas de Água e também de energia eólica, hídrica e solar fotovoltaico, incluindo solar flutuante, a instalar em lagoas, num mix energético integrado que visará a maximização do autoconsumo e o storage de energia.
Acreditamos que, pelo facto de se tratar de um ciclo, o da economia circular, todos conceitos e marcas desenvolvidas pela Tejo Atlântico têm como objetivo a implementação no nosso quotidiano de boas práticas ambientais, promovendo a mudança de mentalidades que a sociedade necessita, e a concretização de um planeta sustentável.