E vão cem. No Dia Mundial da Vida Selvagem (sexta-feira, 3 de março), foi solto o centésimo lince-ibérico nascido em Portugal, no âmbito do programa ibérico de conservação da espécie. A libertação aconteceu na Sierra Arana, Andaluzia.
O animal é um dos 154 que nasceram no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), em Silves, no Algarve, inaugurado em outubro de 2009. O primeiro viu a luz do dia em 2010. Destes 154, 119 sobreviveram mais de seis meses, dos quais 17 foram libertados em Portugal e os restantes 83 na Andaluzia (nem todos são soltos; alguns ficam nos centros ibéricos para reprodução).
Neste momento, o lince (uma espécie endógena da Península Ibérica), “estabilizou em mais de mil exemplares”, segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF, o organismo responsável pelo programa de recuperação do animal em Portugal), a partir do censo tornado público em junho de 2021. Mas estima-se que, no final do ano passado, já houvesse cerca de 1 500 linces a viver em liberdade.
O sucesso da recuperação daquele que, em tempos, foi considerado o felino mais ameaçado do mundo – e que, apesar de tudo, ainda não se encontra livre de perigo – revela-se também pelo número de fêmeas reprodutoras, que continua a aumentar solidamente. No censo de 2022, eram já 30 a viver no Vale do Guadiana, somando-se outra fora desta região. De acordo com o ICNF, é um número suficiente para assegurar a sustentabilidade da espécie no território nacional. As grandes ameaças ao lince continuam a ser os atropelamentos, os envenenamentos e sobretudo as doenças que afetam as populações de coelho-bravo, a sua presa preferencial (um lince saudável come um coelho por dia).
Há 20 anos, antes de arrancar o Programa de Conservação ex situ do lince-ibérico, a espécie parecia definitivamente condenada, registando-se menos de 100 animais vivos, e em Portugal já não existia de todo. Fora um avistamento em 2001 na zona de fronteira, que provavelmente pertencia a uma população espanhola, o último lince “português” terá morrido no início dos anos 90.
Até ao final deste ano, o programa ibérico de conservação deverá chegar ao total de 372 linces soltos. As libertações vão continuar, com a preocupação de garantir a diversidade genética dos animais e reduzir a endogamia. Pelo mesmo motivo, continuam as translocações de animais nascidos na Natureza.