A Universidade de Tel Aviv, em Israel, publicou um estudo sobre morcegos com algumas conclusões surpreendentes. Nele aprendemos que os morcegos, assim que nascem, conhecem a velocidade do som no ar – não é, portanto, uma capacidade desenvolvida apenas quando aprendem a voar. Os investigadores também perceberam que os morcegos não usam unidades de distância em percursos pequenos, mas sim unidades de tempo, que são calculadas através do som.
Para chegar a esta conclusão, os investigadores enriqueceram o ar com hélio, que permite ao som propagar-se mais depressa. Nesse ambiente, criaram morcegos acabados de nascer e morcegos já adultos. Nem um nem outro foram capazes de se adaptar à nova velocidade de propagação do som: nunca conseguiram chegar ao alvo, pousando sempre à sua frente. Se a reação nas diferentes “faixas etárias” foi igual, e os adultos já voaram em condições de som diferentes e as crias sempre voaram no ambiente com hélio, significa que a noção de tempo e espaço, que é coordenada pela velocidade do som, lhes é inata e não aprendida.
A observação feita com o ar alterado trouxe outra conclusão: os morcegos não traduzem em distância o tempo que as ondas sonoras levam a voltar. A perceção que têm do espaço é baseada apenas em tempo, pelo menos em distâncias curtas, explica à VISÃO Eran Amichai, um dos investigadores do estudo. Para estes animais, um inseto estará, por exemplo, a nove milissegundos, quando para um humano estaria à distância de dois braços.
A importância da temperatura
A utilização que os morcegos fazem da ecolocalização já é conhecida há 80 anos. Funciona da seguinte forma: para mapear os espaços onde se encontram, estes mamíferos emitem ondas sonoras, que atingem os objetos e são refletidas de volta. Desta forma, conseguem perceber onde se encontra o objeto, ou a presa, estimando o tempo que as ondas demoram a percorrer a distância. Eran Amichai conta que antes pensava que o cérebro dos morcegos convertia esse tempo em distância. Afinal não.
A velocidade do som difere consoante condições ambientais, como a composição do ar ou a temperatura. No verão, as ondas do som propagam-se mais rápido. O facto de os morcegos não se conseguirem recalibrar consoante a velocidade do ambiente experimental (ar com hélio) leva à conclusão de que também não o farão quando as temperaturas mudam. Os investigadores pensavam que, por os morcegos estarem ativos em várias temperaturas, experimentariam várias velocidades de som. Mas estavam errados. De acordo com o investigador, chegaram à conclusão de que os erros que resultam da falta de recalibração são pequenos e que, na realidade, estes seres vivos beneficiam muito de ter um “sistema sensorial fixo inato”.
Eran Amichai explica que com este estudo poderão entender melhor a evolução das características dos animais. “Existem prós e contras em ter um traço ou comportamento aprendido, ou em contradição, tê-lo inato, e, em tê-lo fixo versus tê-lo flexível. Neste caso, pensámos que a seleção natural favoreceria a evolução para uma aprendizagem e flexibilidade, mas descobrimos que o oposto é verdadeiro.”