Pela primeira vez desde a sua criação, em 2015, o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (uma iniciativa desenvolvida pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana e com a participação da Universidade de Évora) certificou um dos dez maiores produtores de vinho da região, a Casa Relvas. Uma certificação que vem pôr no papel o que há muito é implementado no terreno, diz Alexandre Relvas, diretor-executivo, na Conversa Verde desta semana. “A sustentabilidade está presente na Casa Relvas desde o início, nos anos 90, quando o meu pai começou este projeto. Uma das coisas fantásticas do programa é que conseguimos medir os nossos índices de sustentabilidade na adega e na vinha. Sustentabilidade ambiental, social e económica.”
A certificação, hoje em dia, é importante para distinguir o trigo do joio. “Há uma grande desconfiança devido ao greenwashing. Muitos produtos utilizam termos como eco, sustentável, verde… Há uns anos, tive uma história engraçada com um cliente internacional, que até já veio aqui à adega. Enviei-lhe o relatório de sustentabilidade e ele disse: ‘Eu acredito perfeitamente nisso, mas preciso de uma certificação.’ A certificação vem dar certezas aos nossos stakeholders de que estão a trabalhar com uma empresa que tem boas práticas.”
Esta sustentabilidade abarca os lados ambientais, sociais e económicos porque só faz sentido assim, explica Alexandre Relvas. “Tem de haver um equilíbrio perfeito entre o que, em inglês, são os três ‘p’ da sustentabilidade: people, planet, profit. Se formos amigos do ambiente, mas não respeitarmos quem trabalha na empresa, as coisas não funcionam. Se formos muito ecológicos e tratarmos bem toda a gente, mas a empresa tiver um buraco financeiro, também não duramos muitos anos.”
É por isso que todas as decisões que podem ter um impacto positivo no ambiente são encaradas, também, como investimentos. “Gastámos mais de meio milhão de euros numa estação de tratamento de águas, que nos permite reutilizar a água da adega para a vitivinicultura, mas é um investimento que vai ter um payback. Não fazia sentido de outra forma, porque no fim do dia uma empresa tem de ser rentável.”
‘Agricultores são maltratados’
A agricultura está a fazer um caminho de minimização dos seus impactos, mas esse esforço não é reconhecido, lamenta Alexandre Relvas. “Os agricultores são altamente maltratados e discriminados. A agricultura nunca esteve tão desenvolvida em Portugal em termos de sustentabilidade, e houve um desenvolvimento enorme em termos económicos no interior do País. Hoje, o Alentejo tem uma taxa de emprego de 100%. Mas existe o lado romântico do biológico, do biodinâmico, de não ter produtos fitofármacos, etc. Há muitas pessoas no mundo para alimentar… A função do agricultor é criar alimentos para a humanidade. E, com a dimensão que esta tem, não é fiável alimentar a humanidade com agricultura biológica, não intensiva. Mataríamos à fome uma grande parte da população do mundo.”
Esse desconhecimento do mundo rural só se resolve com educação e informação. “Devia haver um trabalho nas escolas, as crianças deviam visitar quintas, criações de gado… E cabe muito aos jornalistas desmistificarem a coisa. Não comemos vacas porque produzem CO2, então as pessoas viram vegetarianas e comem soja que vem da Amazónia. As pessoas têm de ir mais ao campo ver como as coisas se fazem. Por exemplo, fala-se muito do olival em sebe, vulgo intensivo, mas este tipo de olival é neutro em carbono e ainda apaga o carbono de outras atividades.”
A agricultura moderna, aliás, é feita com a natureza, e não contra a natureza, acrescenta. “A visão de um agricultor é sempre deixar a terra melhor, para os que vierem a seguir.”
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