Com os seus 67 mil (fiéis) seguidores no Instagram, Catarina Barreiros é um fenómeno de popularidade. Em conversa com a VISÃO VERDE, a autora do site Do Zero – um tratado antidesperdício – conta como a sua transformação, de consumista “apaixonada por moda e um bocadinho shopaholic” a idealista, tem as suas raízes na família. Os avós, explica, sempre tiveram uma vida sustentável, muito antes de sustentável ser uma “coisa”. “A minha avó não percebia porque é que levávamos sacos no supermercado. Ela lavava-os e punha-os a secar. Costurava e remendava roupa.”
Parte do caminho em direção a uma vida mais sustentável vive do regresso a esses tempos. “Vivemos numa cultura de excesso. Mas o consumo tem de ser inteligente, e muito desse consumo é excessivo e desnecessário. Temos de olhar para os hábitos de consumo dos nossos antepassados. Mas também tem de haver avanço tecnológico. Um regresso ao passado misturado com um regresso ao futuro”, explica, recordando a importância das apps que incentivam a economia de partilha.
Levar uma vida mais amiga do planeta não é difícil, garante. A partir de certo ponto, é rotina. “É uma questão de mudança de mentalidade.”
As lições do confinamento
Catarina acredita que a pandemia pode ser aproveitada como um botão de reset, de reinício. “Vamos aproveitar muitas coisas, como o teletrabalho. Há tantas maravilhas no facto de não termos de fazer o percurso casa-trabalho e trabalho casa… Uma hora que perdemos todos os dias, que podíamos usar para fazer outras coisas.”
O confinamento está também a levar muita gente a fazer um esforço suplementar por poupar recursos nas suas casas. “Conheço pessoas que conseguiram reduções de 75% de energia e água.” Exemplos práticos de como conseguir essa redução? Desde aproveitar a água fria que sai do duche, enquanto esperamos que a água aqueça, às lâmpadas LED e ao aproveitamento racional do forno. E talvez seja boa altura para recordar que a família de Catarina não usa papel higiénico – recorre ao bidé, “como se faz em alguns países asiáticos”, lembra.
Mas a sua maior luta é diminuir ao máximo a comida que vai parar ao lixo. “Cerca de 30% do desperdício alimentar é feito nas nossas casas”, sublinha. Casca de abóbora? Dá para fazer sopa. Casca de banana? Salteia-se na frigideira para o molho da bolonhesa. Fruta? Da época e nunca importada de avião. Água de cozer o feijão? Aproveita-se também para a sopa. “Há muita coisa que consideramos lixo e é comida. Se tiver de bater numa tecla é na alimentação.” Aliás, “evitar o desperdício alimentar é o gesto número um de combate às alterações climáticas”.
Mas nem sempre é fácil dar aos seus seguidores uma resposta clara e simples. “A sustentabilidade é um assunto muito complexo. Fala-se da pegada carbónica, mas também há a pegada hídrica.” Por outro lado, continua, “substituir todo o plástico por vidro seria desastroso do ponto de vista das emissões de dióxido de carbono. E é difícil explicar todas estas nuances.”
Catarina esforça-se por ter uma vida com o menor impacto possível. Mas, confessa, tem um pecado: o chocolate. “Tento convencer-me que, se não comesse , seria menos produtiva. É uma desculpa esfarrapada, eu sei…”
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