Um estudo publicado esta segunda-feira no Proceedings of the National Academy of Sciences alerta que o derretimento do gelo polar provocado pelo aquecimento global está a alterar a velocidade de rotação da Terra, o que implica um aumento da duração de cada dia.
O aumento é muito pequeno – alguns milissegundos por dia – mas não negligenciável, uma vez que tem impacto em sistemas informáticos, nos GPS e outros sistemas de comunicação e navegação, que dependem da precisão do tempo. Desde o final dos anos 60, é usado o Tempo Universal Coordenado (UTC na sigla internacional), o fuso horário de referência a partir do qual se calculam todas as outras zonas horárias do mundo. O UTC tem por base o relógio atómico mas sincronizado com a rotação do planeta, o que implica a aplicação, de tempos a tempo, do chamado segundo intercalar.
“Esta é uma prova da gravidade das alterações climáticas em curso”, assegura Surendra Adhikari, geofísico no Jet Propulsion Laboratory da NASA e um dos autores do estudo.
A duração de cada dia é ditada pela velocidade de rotação do planeta, que, por sua vez, é influenciada por vários fatores, numa combinação complexa. Ao longo de milénios, o impacto da lua foi o dominante, acrescentando alguns milissegundos por século à duração de um dia, ao atrasar a rotação do planeta. Mas a velocidade de rotação é também influenciada pelos processos no núcleo da Terra, pelo impacto do derretimento dos gigantescos glaciares que começou depois da última idade do gelo e, é disso que aqui falamos, pelo derretimento do gelo polar provocado pelas alterações climáticas.
A ligação entre este evento e os dias mais compridos já tinha sido estabelecida pelos cientistas, mas esta nova investigação sugere que a influência é muito maior do que se acreditava e os envolvidos no estudo acreditam que, a continuar o aquecimento global a esse ritmo, as alterações climáticas poderão superar a lua como fator dominante responsável pelo abrandamento da rotação da Terra.
A equipa internacional analisou um período de 200 anos, entre 1900 (com dados existentes) e 2100 (com modelos climáticos) para tentar perceber como as alterações climáticas afetaram a duração de um dia no passado e como será no futuro. Se no século XX o aumento do nível da água do mar fez a duração de um dia variar entre 0.3 a 1 milessegundo, nas últimas duas décadas já estamos a falar do equivalente a 1.33 milessegundos. A manter-se tudo como está atualmente, no final deste século o impacto já poderá ser de 2,62 milessegundos e aí, sim, as alterações climáticas terão superado a lua como principal fator influenciador da velocidade de rotação da Terra.
Do aquecimento da Terra ao abrandamento da sua rotação
Um dos efeitos mais óbvios do aquecimento é o derretimento dos glaciares e mantos de gelo. A água que resulta desse degelo circula dos polos em direção ao equador, alterando a forma do planeta, ao torná-lo mais achatado nos polos e mais largo no meio, o que atrasa a sua rotação. A comparação com um patinador no gelo é frequentemente usada para explicar este processo: quando o atleta junta os braços ao corpo, rodopia mais depressa. Se afastar os braços, tem o efeito inverso.