A associação comercial das águas do Reino Unido decidiu encerrar o seu programa de certificação que dá luz verde a que um certo tipo de toalhitas seja despejado nas sanitas. Esta medida decorre do estudo feito em 2020 por Mike Michael e publicado no Social Studies of Science, onde se mostra que as toalhitas ditas descarregáveis levavam à formação de “fatbergs”, isto é, de acumulação de lixo nos esgotos, que constituem potenciais ameaças microbianas.
O primeiro “fatberg” de Londres foi identificado em 2013 em Kingston-upon-Thames, sucedendo-lhe o famoso “fatberg” Whitechapel, identificado em 2017, que acabou por ser o tema da exposição Fatberg! no museu de Londres. Um ano depois, foi localizado sob a South Bank um “fatberg” três vezes maior que o de Whitechapel.
Introduzida em 2019, a certificação levou as empresas a produzir toalhitas mais ecológicas. No entanto, apesar de as toalhitas passarem nos testes de decomposição nos esgotos do sistema de certificação, estima-se que 2,1 a 2,9 mil milhões de toalhitas entopem os esgotos, criando grandes recifes de toalhitas nos cursos de água do Reino Unido.
Segundo um inquérito realizado no ano passado pela Savanta, a empresa de estudos de mercado, um em cada cinco britânicos admitiu deitar toalhitas na sanita.
Cerca de 200 milhões de embalagens de toalhitas são vendidas anualmente no país. É um mercado vasto e em constante crescimento, que inclui toalhitas para bebés, limpeza facial e de mãos.
Segundo a Yorkshire Water e a WRc, as toalhitas deitadas nas sanitas levam 100 anos para se decompor nos esgotos ou aterros sanitários se não forem testadas ou credenciadas, e criam cerca de 300 mil entupimentos de esgotos por ano, o que equivale a 200 milhões de libras em gastos na remoção de entupimentos de esgoto no Reino Unido. Entre 40% e 60% dos entupimentos de esgotos são causados por toalhitas. Os entupimentos podem originar inundações tanto nas casas como nas ruas, espalhando plástico poluente nos rios e nas praias.
Já no ano passado, a ex-ministra do Ambiente, Therese Coffey, alertara que as empresas, ao produzirem toalhitas com o rótulo de “descarregáveis”, encorajam os consumidores a deitar as toalhitas na sanita em vez de colocá-las no caixote do lixo. Coffey exigiu que se clarificasse o assunto e a indústria da água confirmou que abandonará a certificação a partir de março.
Neste contexto, a Water UK está a trabalhar em parceria com empresas de água do Reino Unido na Campanha de sensibilização “Bin the Wipe” que não pretende acabar com o mercado das toalhitas, mas tenciona alterar os hábitos dos britânicos levando-os a deitar as toalhitas no lixo.
Segundo os autores do estudo da Social Studies of Science, o funcionamento das infraestruturas do sistema de esgoto deve ser sustentado através de “meios afetivos”, como os meios de comunicação (notícias, documentários e museus), que possam moldar, formar e familiarizar o público levando a adotar comportamentos responsáveis.
As “fatbergs” simbolizam a sujidade e a insalubridade de uma cidade. Ao destacarem os desafios físicos e perigos enfrentados na remoção de acumulações de lixo, os meios de comunicação britânicos criam uma atmosfera afetiva por parte do público, gerando um ambiente misto de responsabilidade e culpa que reforça a necessidade de mudanças comportamentais tanto a nível individual como nas empresas.