Se há paisagem bonita, misteriosa e nostálgica é a do brilho cintilante dos pirilampos à noite. Mas, estes insetos que emitem luz fosforescente têm a sua existência ameaçada. Em todo o mundo, as diversas populações estão a diminuir à medida que as ameaças se acumulam. Só nos Estados Unidos da América há 18 espécies em vias de extinção.
Em causa está o desaparecimento dos habitats naturais das cerca de duas mil espécies diferentes de pirilampos, acostumadas a ambientes de zonas húmidas, florestas e até parques urbanos. Essa variedade de “casas” é uma das razões para umas espécies estarem mais ameaçadas do que outras.
Será que as pessoas sabem que podem garantir a continuidade dos pirilampos se lhes criarem um habitat nos seus quintais e jardins de casa? Um bom microhabitat para as crias de pirilampos, recriado apenas com alguns restos de madeira e folhas nos limites do jardim – uma forma didática de assegurar as próximas gerações deste inseto.
É preciso perceber que os pirilampos passam por quatro fases de metamorfose: ovos, larvas, crisálidas e adultos. Durante a maior parte desses estágios, vivem no subsolo ou em solo húmido, onde é seguro que podem atacar as minhocas, a sua refeição preferida.
Quem plantar arbustos e árvores nativas e deixar crescer a relva também está a contribuir para o solo reter a humidade tão apreciada por estes insetos. O mesmo brilho que os torna singulares e notados também os deixa especialmente vulneráveis ao aumento da poluição luminosa.
Luzes intermitentes são uma parte importante do ritual de acasalamento do pirilampo. À medida que o Sol se põe, os machos voam enquanto piscam para sinalizar o seu interesse. Se, por perto, uma fêmea estiver interessada, ela pisca e desce do seu poleiro para o chão e os machos voam para ir ao seu encontro.
“Tudo isto tem de acontecer para que a próxima geração sobreviva”, diz Becky Nichols, entomologista do Parque Nacional Great Smoky Mountains, casa de uma espécie particularmente deslumbrante chamada pirilampos síncronos, à revista National Geographic.
As luzes das cidades, e mesmo de localidades rurais, tornam esses sinais românticos, trocados entre macho e fêmea, muito mais difíceis de ver. Um estudo recente mostrou que o excesso de luz noturna, por mais fraca que seja, reduz a quantidade de flashes entre eles, bem como a taxa de resposta delas.
“É como cortar uma linha telefónica, anulando o romance”, compara Sara Lewis, co-presidente do Grupo de Especialistas da União Internacional para a Conservação de Pirilampos na Natureza, à National Geographic. A solução passa por instalar sensores de movimento, temporizadores ou reguladores de intensidade em qualquer luz no exterior de casa, fechar as cortinas à noite para evitar que a luz passe pela janela e desligá-las completamente quando possível.
Quanto às luzes coloridas, embora a luz vermelha tenha sido considerada adequada para os pirilampos, Sara Lewis diz que o conceito está a mudar e, sempre que possível, é preferível a escuridão.
Outra grande ameaça para os insetos são os pesticidas e inseticidas, mesmo os utilizados pelos jardineiros domésticos. Tratam-se de produtos químicos de largo espectro que matam larvas de pirilampos com a mesma rapidez com que matam formigas, vespas e outros bichos menos apreciados.
Neste momento, há investigadores a estudarem alternativas aos pesticidas químicos que possam atingir espécies específicas, como os mosquitos, deixando os outros insetos ilesos.
O turismo direcionado à observação de pirilampos tem prós e contras. Se, por um lado, são a principal atração de lugares como Great Smoky Mountains, nos EUA, Nanacamilpa, no México e o Parque Florestal Daan, em Taiwan, também os seus ciclos de vida e habitats são perturbados nestes sítios.
Por tudo isso, desliguem-se as luzes. Os pirilampos agradecem e o nosso imaginário de fantasia também.