A China terá conseguido impedir que a chuva e a poluição estragassem as festas dos 100 anos do Partido Comunista Chinês, no verão passado, de acordo com investigadores de uma universidade de Pequim.
A China celebrou a 1 de julho o centenário do partido, levando a cabo celebrações na praça Tiananmen com dezenas de milhares de pessoas. Segundo um estudo da Universidade Tsinghua, as autoridades recorreram à tecnologia para alterar as condições meteorológicas daquele dia, de modo a assegurar céus limpos para os festejos.
Em concreto, segundo o estudo, noticiado pelo South China Morning Post, foi levada a cabo uma operação de cloud-seeding (semeadura de nuvens), na véspera do dia das celebrações, que durou algumas horas.
Esta é uma técnica de modificação das condições atmosféricas, que funciona através da adição de químicos (como pequenas partículas de iodeto de prata) às nuvens, fazendo com que as gotículas de água se aglomerem à sua volta e aumentando assim a possibilidade de precipitação.
Os resultados foram céus limpos no momento das festas e um nível de poluição atmosférica reduzido. A chuva artificial que resultou do cloud-seeding fez com que o nível de agentes poluidores na atmosfera se reduzisse em mais de dois terços, reportaram os investigadores. O índice de qualidade do ar, baseado em critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS) passou, assim, de “moderado” a “bom”.
De acordo com a equipa, a chuva artificial “foi o único acontecimento disruptivo neste período”, o que torna bastante improvável a possibilidade de o nível de poluição aérea ter baixado naturalmente. Além disso, habitantes de zonas suburbanas de Pequim e algumas áreas vizinhas, onde foi lançada a operação, reportaram ter visto foguetes disparados para os céus no dia 30 de junho. De acordo com o estudo, estes foguetes transportavam iodeto de prata, para estimular a precipitação.
Não é a primeira vez que a China utiliza estas técnicas. De acordo com Shiuh-Shen Chien, do Departamento de Geografia da Universidade Nacional de Taiwan, são usadas desde a década de 1980 e comuns em vários países. Mas, acrescenta, “enquanto a semeadura de nuvens é amplamente utilizada para fins comerciais ou agrícolas em todo o mundo, a China é aparentemente única na utilização de modificações climáticas para fins de propaganda”.
O exemplo mais conhecido é o da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim. Na ocasião, mais de mil foguetes foram disparados a partir de 21 localizações para intercetar uma formação de nuvens que iria levar a chuva até à capital e garantir uma cerimónia de abertura com céus limpos e livres de precipitação.
Mas outros eventos incluem também a cimeira da APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico) de 2014, bem como desfiles do Dia Nacional da República Popular da China, que se celebra a 1 de outubro, e reuniões anuais das Duas Sessões (as sessões plenárias anuais do Congresso Popular e da Conferência Consultiva Política Popular da China).
O país investiu 199 milhões de yuan (cerca de 26 milhões de euros) em programas deste género. Com este investimento, feito em 2014, a China previa criar mais de 60 mil milhões de metros cúbicos de chuva, até 2020.
As tecnologias de modificação da meteorologia têm sido usadas no país para proteger regiões agrícolas e minimizar os efeitos de desastres naturais, como secas e tempestades de granizo – em 2019, fontes oficiais indicaram que as práticas de modificação do tempo tinham contribuído para reduzir 70% dos danos causados anualmente pelo granizo nas regiões agrícolas de Xinjiang.
No entanto, apesar dos benefícios das técnicas de alteração do tempo, também existe um debate sobre se a manipulação das condições meteorológicas em determinada área poderá provocar alterações desfavoráveis nos sistemas doutros locais.