Nos três dias que passou em Lisboa, num rodopio por causa do lançamento do seu mais recente livro (o primeiro publicado em Portugal), Uma Horta para Ser Feliz (Ed. Plural, 216 pág., €17,70), Marc Estévez Casabosch deslumbrou-se com os espaços verdes da cidade.
“Em Barcelona, têm de aproveitar até as rotundas para produzir alimentos. Mas aqui há muita área livre.” Hoje existem já 383 espaços hortícolas atribuídos pela autarquia, todos com mais de 60 metros quadrados e a procura continua a ser imensa, havendo, em média, dez candidatos para cada parcela disponibilizada.
No Parque Hortícola dos Olivais, o mais recente da capital e ainda por desbravar, o autor mexeu na terra: “É muito boa, arenosa, com minerais suficientes. Está pronta a cultivar.” Marc sabe exatamente quais as sementes que devem arranjar espinafres, canónigos, alfaces, brócolos, couve flor, alho francês e todo o tipo de couves aqueles que se aventuram, por esta altura, na agricultura, quer numa varanda quer na rua.
Há 12 anos, nunca tinha posto uma mão na terra, nem sequer comia vegetais. Foi então que fugiu de Barcelona rumo aos Pirenéus para descobrir de onde vêm os alimentos.
Aprendeu, a partir do zero, praticando muito e lendo os clássicos. Ainda antes de arranjar a casa, tratou da horta já não tinha desculpa para não o fazer. Hoje, aos 32 anos, é um defensor da agricultura natural e mantém um viçoso talhão de 160 metros quadrados, que ilustra todo o livro. A sua família (mulher e dois filhos) atingiu a autossuficiência no que toca a verduras e frutos. Como praticamente são vegetarianos, precisam de pouco mais, além dos ovos das suas galinhas, para viver.
“A primeira coisa que faço de manhã quando acordo, bem cedo, é ir à horta. Só depois volto a casa para comer. Custa-me imaginar a minha vida sem cultivar.” É por isso que se sente mais feliz do que quando vivia na cidade. Pareceu-lhe inevitável tornar-se num divulgador. “Só despertei para isto tarde. Porque não podem outros começar mais cedo?” Marc sabe que há muita gente jovem que cresce nas metrópoles, mas que a dada altura se questiona se é ali que está a felicidade.
E num momento de mudança como o atual, este tipo de dúvidas surgem com mais frequência. “Acho difícil ser-se feliz sem se saber de onde vem o que comemos. Ter uma horta é um excelente antídoto para o stress, só de se tocar na terra já se fica relaxado.”
MANUAL PARA PRINCIPIANTES
Cinco erros a evitar quando se decide pôr as mãos na terra para cultivar os próprios alimentos, quer numa varanda quer na rua, segundo Marc Estévez Casabosch
ÁGUA “Normalmente as pessoas regam acima do que é preciso. As plantas não crescem melhor por ter muita água. Só precisam que a terra esteja húmida, tudo o que transborda, está a mais.”
TERRA “É comum não se dar importância à qualidade da terra. A que se usa para o cultivo de alimentos tem de ser rica em nutrientes. Não se pode comparar aquela que se diz universal ou para flores, sob pena de os frutos não se desenvolverem. E não é preciso nem se deve revolvê-la com uma enxada.”
LUZ “As plantas não crescem se não tiverem luz suficiente. Há que fugir das sombras, especialmente em alguns casos. Um tomate, por exemplo, precisa de 12 horas de sol direto, todos os dias.”
COMPOSTO “Nem todas as plantas necessitam da mesma quantidade de adubo. Os alhos, as cenouras e as cebolas são muito pouco exigentes em nutrientes. Mas há outras, como o tomate, o pimento, a batata, a beringela, o melão ou a abóbora que já precisam de mais. É nelas que temos de concentrar o composto, espalhando-o na terra, sem o remexer.”
PLANIFICAÇÃO “Não se pode cultivar tudo o que se quer. Há que olhar para o espaço que existe e decidir que plantas cabem lá, planificando. Em dois metros quadrados, numa varanda, não se produz melancia. Será mais lógico optar por alface, rúcula, espinafres ou rabanete, porque haverá muita produção, apesar de o espaço ser curto.”