Numa cidade com pouco mais habitantes que o Porto, Vitoria-Gasteiz, no País Basco, Espanha, conseguiu ganhar o galardão de Capital Verde da Europa, em 2012. Como? Sobretudo através de uma política de alteração do panorama urbano, energético, ambiental e de mobilidade que tem sido apoiado nos últimos vinte anos por todos os partidos políticos locais.
Vontade e um plano claro, que envolva as pessoas, parecem ser a principais condições para transformar as urbes em locais onde é possivel ter qualidade de vida. Foi essa a mensagem do painel “Perspectiva global sobre a qualidade do ar urbano” que, no segundo dia da Semana Verde, organizada em Bruxelas, pela Comissão Europeia, juntou à mesma mesa representantes de Pequim, na China, Cidade do México, México, e Vitoria-Gasteiz, em Espanha.
Ainda estão frescos na memória os relatos e as imagens de Pequim, no início deste ano, onde a forte concentração de partículas poluentes fez a cidade fechar temporariamente fábricas e emitir alertas para que os habitantes evitassem sair de casa. Mas nem as autoridades locais, nem o governo central têm estado parados: “De segunda-feira a sexta-feira 20% dos carros privados estão proibidos de circular e o sistema de metro é muito barato, dos mais baratos do mundo – isso é uma forma de incentivar o seu uso. Neste momento estão a ser colocados parquímetros no centro das cidade, de modo a que as pessoas usem mais os transportes públicos e menos o seu carro”, explicou Yu Lei, do Ministério de Proteção Ambiental chinês.
Medidas similares têm sido desenvolidas na capital do México, há mais de vinte anos, pela mão da mais famosa e influente ambientalista do país – Martha Delgado Peralta. “Em 1990 não havia muitas cidades com o problema de qualidade do ar que nós tínhamos. Criou-se um comité especial, que visitou outras cidades pelo mundo, para aprender e ver o que estavam a fazer. Organizámos uma comissão metropolitana de gestão da qualidade do ar, porque é um trabalho de toda uma região.”
“Tínhamos uma refinaria na cidade, que saiu, e retiramos também alguma indústria pesada. Começámos a verificar as emissões dos carros duas vezes por ano e criámos um dia em que os carros não podiam circular, o sábado. Fizémos, também, melhorias nos transportes públicos, aumentámos a rede de metro [que é hoje, uma das maiore do mundo] e criamos um programa de partilha de automóveis. Em 1999 tínhamos oito dias de ar com qualidade por ano e agora temos mais de 200. A nossa ambição é ter um ano inteiro”.
Vitoria-Gasteiz, em Espanha, no País, Basco, mudou muito no últimos anos: por vontade política e porque envolveu o seus cidadãos no processo. Daí ter recebido em 2012 o galardão de Cidade Verde da Europa. Presidida por Javier Maroto Arazambal – que garante ir “todos os dias de bicicleta para o trabalho” – 100% da população vive a cerca de 300 m de um espaço verde aberto. Foram criados parques por toda a cidade e uma cintura ecológica com mais de 613 hectares onde foram plantadas mais de 100 mil árvores. Uma das particularidades é que quem as planta são os habitantes, em regime de voluntariado, e não empresas privadas.
Mas houve outros desenvolvimentos: “Foi criada um empresa pública de gás natural, que fornece todas as casas e empresas da cidade. Isso reduziu muito a quantidade de dióxido de enxofre no ar. Depois do planemanento urbano criámos um gabinete de qualidade do ar e concluímos que a mobilidade era a maior causa de poluição. Devolvemos um sistema que apostava nas bicicletas [90 quilómetros de ciclovias], nas deslocações a pé [mais de 33 quilómetros de zonas pedrestres] e nos elétricos. Aumentámos a oferta de transportes públicos. Assim tornámos-nos uma cidade verde. Agora podemos usar os recursos que poupamos em mais projectos e serviços sociais para a população”.
Quando mais de metade da população mundial vive, pela primeira vez na história, em cidades, é da partilha de múltiplas experiências que sairá a solução para gerir, alimentar, aquecer e fazer mover tantos milhões de pessoas. São mais urgentes que nunca- seja em aglomerados do tamanho de Pequim ou do Porto.