Atualmente, os países regem-se pelos números apresentados pelo PIB (Produto Interno Bruto), mas será justo continuar a avaliar dessa forma a performance e riqueza dos países? Foi esta a questão levantada por Sofia Santos de Albuquerque, responsável pelo Sustainability Knowledge Center, do ISCTE, que considera necessário repensar a forma como analisamos cada Estado, através da inclusão de indicadores sociais e ambientais – uma problemática, aliás, já debatida pelo Comité Económico e Social Europeu (
http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2012:181:0014:0020:PT:PDF). Para justificar a sua afirmação, a economista recordou que o índice de felicidade em Portugal decresceu no período em que se verificou um aumento do PIB do país (2000-2008), ao contrário do que seria expectável (
http://www.happyplanetindex.org).
O pensamento mudou também no mundo empresarial, com a necessidade de repensar as práticas de gestão. Joana Mendes, antiga aluna do ISCTE Business School, trouxe à sessão as ideias defendidas na sua tese de mestrado: “Gestão da energia nos Hotéis de 4 e 5 estrelas no Algarve.” No seu estudo, comprovou que a consciencialização para práticas mais sustentáveis é crescente, mas a verdade é que “as medidas relacionadas com a eficiência energética, ou seja, redução de custos, estão melhor implementadas que as medidas relacionadas com a redução do impacto ambiental”, referiu a mesma. Ou seja, o real motivo para a racionalização de recursos é a poupança económica.
A preocupação para com o ambiente tem vindo a crescer igualmente na indústria automóvel. Bruno Ferreira falou sobre a “Inovação Tecnológica nas Baterias Automóveis”, tema defendido na sua tese de mestrado, realizada também no ISCTE Business School, referindo que os carros elétricos “são ajudantes no combate ambiental, mas não são a solução”, acrescentando que “é preciso aprofundar de onde vem a energia utilizada”. O foco no desenvolvimento dos modelos elétricos tem vindo a ser cada vez maior, com algumas marcas a criar alianças entre si para a criação de sinergias, quer na inovação destes novos motores quer para uma maior eficiência dos carros atuais. Uma das ligações foi assinada entre o Grupo BMW e a Toyota (
http://www.toyota.pt/about/news/2012/about_news01_120702.tmex).
Mas, a par da maior eficiência automóvel e da utilização de novas energias, deparamo-nos com um problema de mobilidade. Em Portugal, “todas as leis de ordenamento do território estão desenhadas para que nos movamos de carro”, referiu Ana Santos, professora na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa e investigadora no CIES (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, do Instituto Universitário de Lisboa). Segundo a professora, “vivemos fechados numa bolha a correr para o trabalho e para casa, com uma vida cada vez mais privatizada e sem liberdade”. Na bicicleta, encontrou uma forma mais económica e proveitosa de se deslocar, que reduz a sua pegada ecológica. E Ana Santos garante não ser a única: “Em Lisboa, muitas pessoas já utilizam a bicicleta como meio de transporte, apesar das dificuldades.” A investigadora valorizou o trabalho realizado pela Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (
http://mubi.pt/) e o pelo projeto Ecovias de Portugal (
http://www.ecovias.pt.vu/). Ana Santos encontra-se, neste momento, a desenvolver o projeto Cycle Chain – Bicycle Culture, que pretende analisar as culturas da bicicleta.
Neste debate de ideias, foi também apresentado o projeto DaST – Design a Sustainable Tomorrow, pelo fundador e responsável do projeto, Frederic Coustols, e por Cátia Miriam Costa (Diretora de Comunicação do projeto DaST). O conceito DaST pretende demonstrar que é possível reabilitar qualquer espaço, respeitando a paisagem, a herança arquitetónica, as atividades tradicionais e os hábitos sociais desse território e, ao mesmo tempo, ir de encontro às necessidades da sociedade, sem comprometer o futuro. Com base neste lema e com recurso às mais recentes tecnologias disponíveis no mercado, o DaST desenvolveu vários projetos pelo mundo, demonstrando a replicabilidade dos mesmos.
Frederic Coustols falou-nos da sua jornada, desde o seu primeiro projeto – a recuperação de uma aldeia medieval em França, Castelnau des Fieumarcon (
http://www.gascony.org/), – até ao mais recente, o Projeto Bairro Destino, que arrancará em breve. Este é já o segundo em Portugal e será interligado ao projeto Palácio Belmonte (
http://www.palaciobelmonte.com). O objetivo é reabilitar e reconstruir a zona da Costa do Castelo (Alfama, Mouraria e Castelo), respeitando os princípios DaST (
http://www.gascony.org/about-us/dast-compass).
“Pensar o futuro é diferente de decidir o futuro, mas irá condicionar a nossa forma de agir para um amanhã sustentável”, finalizou Sofia Santos Albuquerque.