Quando o plano estiver completo, o concelho terá 223 quilómetros de vias exclusivas para bicicletas – mais do que a distância que separa Lisboa de Coimbra. Mas este é apenas o lado mais visível da aposta que o município está a fazer nas duas rodas.
O Plano Almada Ciclável passa também por ações contínuas de sensibilização de crianças, jovens e adultos; conta com uma parceria com a Transtejo, para permitir aos lisboetas irem a pedalar para as praias da Costa da Caparica, levando a bicicleta nos barcos que fazem a travessia entre Belém e a Trafaria; e tem até o empurrão de um regulamento municipal que obriga cada prédio novo ou remodelado a disponibilizar um lugar de estacionamento para velocípedes por cada apartamento com menos de 100 metros quadrados, e dois lugares para casas maiores.
O próprio desenho da rede (que, por agora, tem 30 quilómetros) não está a ser feito ao acaso. Um dos requisitos na escolha dos trajetos é a existência de equipamentos sociais e culturais adjacentes à ciclovia, para que a bicicleta seja efetivamente uma alternativa ao automóvel. Assim, hoje, já é possível ir de bicicleta a algumas escolas locais e visitar museus do concelho com todo o conforto. Dentro dos limites, claro, de um meio de transporte movido à força de pernas e com um banco que pede – exige – calções almofadados.
DEMOCRACIA NA RUA
O Plano Almada Ciclável foi um dos programas integrados pela consultora Inteli, na categoria Sustentabilidade, na sua lista de 50 projetos municipais meritórios de 25 cidades portuguesas. Não admira: a aposta nas bicicletas já rendeu vários galardões a Almada. Em 2009, o projeto que permite às pessoas levarem a bicicleta nos barcos e, depois, continuarem de duas rodas até às praias, incluído no plano de ciclovias, rendeu um troféu nacional de 50 mil euros. Seguiu-se o reconhecimento internacional, quando as bicicletas ajudaram o município a ganhar o Prémio da Semana Europeia da Mobilidade 2010, deixando para trás 2 220 cidades do Velho Continente, concorrentes ao mesmo galardão.
“O nosso objetivo é democratizar o espaço público”, diz Catarina Freitas, 44 anos, diretora do Departamento de Estratégia e Gestão Ambiental Sustentável da Câmara de Almada. “A bicicleta pode e deve ser um meio de transporte complementar. O carro já não é rei e senhor da cidade.” A responsável pelo projeto garante que o plano está a dar resultados. “Há cada vez mais gente a ir trabalhar de bicicleta e temos recebido imensos pedidos de novos percursos, por parte da população.”
Catarina Freitas gostava, agora, de ver o Plano Almada Ciclável alargado a toda a Área Metropolitana de Lisboa. Afinal, a 66% das viagens casa-trabalho, em Portugal, correspondem menos de seis quilómetros. E se metade dos habitantes de uma cidade como Copenhaga, com os seus longos e rigorosos invernos, vão a pedalar para o emprego, que desculpa têm os lisboetas para evitar a bicicleta?
( Número )
223 km
Extensão da rede de ciclovias planeada pela Câmara de Almada
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PROJETO UMA CIDADE PERFEITA
A partir de um estudo da Inteli, que analisou 50 projetos municipais exemplares, a VISÃO escolheu cinco para dar a conhecer nas páginas da revista, durante o mês de agosto, um por área analisada: sustentabilidade, inclusão social, governação, inovação e conectividade. Os leitores podem conhecer todos os projetos selecionados das 25 cidades estudadas e, depois, votar no seu favorito, a partir de 1 de Setembro.