Terminava assim, com a frase que pedi emprestada para o título deste texto, uma publicidade institucional que passava na televisão portuguesa. A mensagem era ilustrada por uma esponja em forma de planeta terra que, ao ser espremida, já não deixava cair uma única gota de água.
Não sei se o leitor reparou, mas hoje não está a chover. Não choveu hoje, nem ontem, nem no dia anterior, nem desde há vários meses, pelo menos de uma forma contínua, o que se revela anormal para a época. Uma espreitadela rápida à página do Instituto de Meteorologia acabou de me confirmar que a situação se manterá nos próximos tempos. Atravessamos um período de seca, mas só muito recentemente se começou a abordar o assunto com alguma preocupação.
Até agora, os portugueses têm-se entretido apenas a desfrutar do bom tempo. Tremendo um bocadinho mais por causa do frio siberiano que por cá passou, lá temos andado entretidos com as nossas actividades ao ar livre, das quais nos privamos mais durante os invernos chuvosos.
Mas continuou a não chover.
Hoje acordámos e começámos a olhar em nosso redor. O panorama alarmou-nos. Os campos estão secos, as plantas queimadas pelas geadas, várias colheitas estão arruinadas, as ribeiras correm com pouca água ou secaram e as barragens não enchem. Algumas autarquias já começaram a recorrer às reservas de água com que costumam abastecer as populações nos meses secos de verão.
A muito pouco super ministra Assunção Cristas, provavelmente na sequência de ter apanhado demasiados choques de electricidade estática à saída da sua viatura oficial, lá saiu do seu mundo de fantasia em que se pode esperar de braços cruzados e desejar que chova, e já considera a hipótese de pedir apoio à União Europeia.
E continua a não chover.
Vivemos numa região sob a influência de um clima tipicamente mediterrânico. A chuva regular não é necessariamente um luxo com o qual podemos contar todos os anos e, no entanto, dedicamo-nos a actividades e escolhemos a nossa agricultura como se dispuséssemos de chuva abundante e regular, de acordo com os nossos sonhos e necessidades. O Algarve, com os seus extensos pomares de laranjas (agora a sofrerem a influência da falta de chuva) e a enormidade de campos de golfe que continuam alegremente a proliferar por aquela região, constitui um bom exemplo dessa má escolha.
Em suma, vivemos acima das nossas possibilidades em termos de água. O que, num paralelismo económico, é o que o nosso país tem andado a fazer há anos em tudo o resto. Mau planeamento, mau aproveitamento de recursos, e o investimento em actividades pouco sustentáveis.
É certo que o nosso sol de inverno, mesmo em anos normais, constitui um atractivo fantástico para o turismo de golfe, inerentemente estimulando a economia daquela região. No entanto as suas elevadas necessidades de água, numa região com tradicional falta de água, torna-o um contrassenso.
E depois surgem as campanhas, institucionais ou de Organizações Não Governamentais de Ambiente, a pedir-nos que poupemos água, que não a desperdicemos. Mas o que as campanhas não dizem é que, segundo dados do Instituto da Água (INAG), é a agricultura a responsável por 87% do consumo de água no nosso país, contra os 5% do consumo urbano ou mesmo os 8% da indústria. Também não dizem que cerca de 42% da água captada é desperdiçada, quer na agricultura quer no consumo urbano. Desperdiçada em sistemas de distribuição ineficientes.
A campanha que mencionei no início deste texto é ainda hoje actual, na sua necessidade. Mas acredito que estava mal dirigida. Esta devia estar dirigida à classe política, com poder de definir legislação sustentável para a agricultura, com o poder de implementar reformas correctivas nos sistemas de distribuição de água.
Deixo aqui então o apelo à senhora Ministra da Agricultura do Mar do Ambiente e do Ordenamento do Território, como representante dessa classe governativa: senhora ministra poupe água, é que, por muito que o deseje, ela já não cai do céu.