Foi há 50 anos, em Estocolmo, que as Nações Unidas promoveram a primeira conferência mundial sobre as consequências da atividade humana no planeta. Chamaram-lhe Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano e nela participaram 113 chefes de Estado e de Governo, entre os quais Indira Gandhi e Olof Palme. Nunca até então as consequências do aumento da população e dos sistemas económicos globais sobre os equilíbrios biofísicos chave para a vida na Terra haviam sido debatidos a esta escala. Mas a conferência de Estocolmo foi mais longe, ao ser a primeira a explorar as ligações entre desenvolvimento, pobreza e ambiente. Desta conferência, resultou a criação do UNEP – United Nations Environment Programme.
Mas 1972 foi também o ano da publicação do relatório Limites do Crescimento, uma encomenda do Clube de Roma a 17 cientistas, que recorreram a modelos matemáticos e computadores do MIT para prever a evolução de cinco variáveis que registavam taxas de crescimento exponenciais: população, produção alimentar, industrialização, poluição e consumo de recursos naturais não renováveis. Os países desenvolvidos acabavam de atravessar 30 anos gloriosos, com taxas de crescimento fabulosas. Assim, não foi com surpresa que o relatório concluía que um modelo de desenvolvimento linear, isto é, assente na extração massiva de recursos naturais não renováveis (ou com períodos longos de renovação) e respetiva transformação em produtos de grande consumo rapidamente descartados, era um absurdo matemático. Ou seja, num contexto de recursos finitos, um modelo extrativo não circular estará sempre condenado à falência – até porque essas cinco variáveis registavam crescimentos exponenciais e os ganhos de produtividade, provenientes de novas tecnologias, registavam apenas taxas de crescimento aritméticas.
Vinte anos depois da conferência de Estocolmo e da publicação do Limites do Crescimento, teve lugar a Cimeira da Terra, no Rio de Janeiro – na sua denominação mais longa, Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento; na mais curta, Rio-92. Esta ocorre cinco anos após a publicação, em 1987, do importante relatório O Nosso Futuro Comum, também conhecido por Relatório Brundtland, no qual surge pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável.
Finalmente, em 2002, ocorre a Conferência de Joanesburgo sobre o Desenvolvimento Sustentável. Desde o Rio, o mundo tinha acelerado. Esses dez anos ficam marcados por altos índices de crescimento mundial, impulsionados pelo fim da Guerra Fria, a adesão da China à Organização Mundial do Comércio e avanços em TIC que aceleraram o processo de globalização – mas, também, a nossa pegada ecológica. Paralelamente, assistia-se às consequências das políticas neoliberais, estabelecidas pelo Consenso de Washington, que quase ignoravam ou tornavam o compromisso com o meio ambiente menos interessante.
No essencial, foram essas três conferências que estiveram na génese dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Agenda 2030 das Nações Unidas, bem como de acordos internacionais importantes, tais como, o Protocolo de Kyoto (de 1997) e o Acordo de Paris sobre o clima (de 2015).
Este ano, para assinalar os 50 anos da conferência de Estocolmo, mas também os 30 do Rio e os 20 de Joanesburgo, as Nações Unidas irão promover a conferência Stockholm+50: a healthy planet for the prosperity of all – our responsibility, our opportunity.
Os esforços das Nações Unidas na promoção de conferências, referenciais, relatórios e apelos públicos são louváveis, mas a verdade é que, 50 anos depois, a generalidade dos equilíbrios biofísicos decisivos estão hoje mais ameaçados – acresce que, ainda que a taxa de pobreza tenha diminuído, as desigualdades sociais agravaram-se, e as democracias liberais, os sistemas de saúde e a paz mundial continuam frágeis.
Olhando para a evolução nos últimos 50 anos das nove fronteiras decisivas para assegurar “um espaço operacional planetário seguro” – definidas por 28 cientistas internacionalmente reconhecidos, liderados por Johan Rockstrom, do Stockholm Resilience Centre, da Universidade de Estocolmo, nomeadamente, i) alterações climáticas, ii) acidificação dos oceanos, iii) erosão da camada do ozono, iv) carga atmosférica de aerossóis, v) interferência nos ciclos globais de fósforo e nitrogénio, vi) perda de biodiversidade, vii) poluição química, viii) alterações aos usos do solo (incluindo deflorestação), e ix) uso de água doce –, a verdade é que estamos pior em todas elas, em algumas até bastante pior – apesar de 50 anos de consciência, relatórios e avisos.
Em conclusão, ou mudamos de vida nos próximos anos, ou corremos o sério risco de sermos corridos como espécie deste planeta magnífico num futuro relativamente próximo, sem elegância, nem glória. E, vendo bem, nos 550 milhões de anos de vida complexa na Terra, a verdade é que nós somos apenas um feliz e recente acidente.