Dois novos projetos financiados pela União Europeia, COPPEREPLACE e NOVATERRA, pretendem tornar as vinhas e os olivais do sul da Europa mais sustentáveis. O objetivo é encontrar soluções mais ecológicas para problemas como pragas e doenças nas produções. Para isso juntaram-se entidades de vários países incluindo centros de investigação, institutos, universidades e produtores. Entre elas estão duas portuguesas, a Sogrape, uma empresa que se dedica ao cultivo, produção e exportação de vinhos, e o INES TEC, Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência.
O COPPEREPLACE é um projeto que quer reduzir o uso de pesticidas à base de cobre no combate a doenças nas vinhas. Hoje, o cobre é usado “tanto em produção integrada como biológica”, lembra António Graça, diretor do Departamento de Investigação e Desenvolvimento da Sogrape. A má aplicação destes produtos na agricultura traz consequências negativas para o Ambiente, nomeadamente por via da contaminação dos solos, que provoca a inibição de absorção de nutrientes e prejudica o crescimento e desenvolvimento das plantas. As vinhas são as culturas que concentram a maior quantidade de cobre nos solos.
Estão a ser usados produtos de origem natural para o controlo de fungos, à base de extratos de algas ou de salgueiro. Os bioestimulantes são outra opção: dão um sinal à planta para reforçar as suas defesas, uma espécie de incentivo ao seu sistema imunitário.
Outra solução é uma prática chamada “confusão sexual”, que está agora a ser testada nas traças da uva. Em vez de se aplicar um inseticida, que mataria não só as traças mas também os insetos “auxiliares na cultura”, cria-se uma nuvem de feromonas específicas da traça da uva. Como as feromonas são utilizadas pelos insetos para estes se encontrarem entre si, “esta nuvem faz com que os machos simplesmente não consigam detetar onde estão as fêmeas e, portanto, não há reprodução”, explica António Graça.
Olha o robô
Os testes conduzidos pela Sogrape já começaram na Quinta do Seixo e encontram-se em fase inicial, nas estratégias de controlo das traças da uva. Esta é uma praga muito comum nas videiras da região do Douro. “Com as alterações climáticas, o tempo de permanência do risco da traça da uva da videira do Douro está a ser alargado, a estender-se pelo outono adentro”. Esta é uma das preocupações da empresa e um dos parâmetros a ter em conta nos testes.
Mais do que procurar novas substâncias químicas sustentáveis para substituir as já existentes, os projetos procuram aguçar técnicas de cultivo, formar trabalhadores e encontrar outras soluções inovadoras. “Nos dois projetos, o objetivo não é pegar numa substância, tirar e pôr outra, mas olhar para todo o sistema de produção de uma forma integrada”, realça António Graça. Empregar um robô para controlar a vegetação infestante, desenvolvido pela INESC TEC, foi uma das vias tomadas, sob o chapéu do projeto NOVATERRA.
O robô está neste momento a ser testado. Os desafios que enfrentou, até agora, estão relacionados com o terreno acidentado das vinhas, que lhe dificulta os movimentos. Obstáculos que estão a ser ultrapassados, garante António Graça. “Já percorreu um patamar inteiro, saiu do mesmo, deu a volta, desceu e entrou no patamar seguinte sem intervenção humana, portanto a parte da navegação está muito avançada”, descreve. “Agora falta avançar na criação do sistema de eliminação de ervas daninhas, um processo simples”, conclui.
O projeto COPPEREPLACE é financiado pelo Programa Interreg Sudoe, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), o NOVATERRA é um projeto H2020 financiado pela UE.