Esta quarta-feira, pouco depois de se tornar o novo inquilino da Casa Branca, Joe Biden vai assinar uma série de decretos presidenciais a anular decisões do seu predecessor. Entre elas, talvez a mais importante, está a reentrada dos EUA no Acordo de Paris – em 2016, antes de ser eleito, Donald Trump prometera abandonar o tratado, assinado no ano anterior, e cumpriu assim que chegou à presidência.
Soube-se agora, através de um documento que a equipa de Biden fez chegar à comunicação social americana e canadiana, que o controverso oleoduto de Keystone XL está na mira do Democrata. O oleoduto, uma infraestrutura com 1 897 quilómetros de extensão, serviria para transportar petróleo das explorações da província de Alberta, no Canadá, para o Nebraska, EUA. Barack Obama travara o projeto, mas Trump imediatamente reverteu a decisão, contra as recomendações oficiais da Agência de Proteção Ambiental (a entidade federal com jurisdição sobre questões ambientais).
Agora, o projeto volta a cair: encontra-se na lista curta de decisões que o presidente eleito vai revogar nas horas seguintes à cerimónia de posse.
Trudeau, o semiambientalista
Não é surpreendente que Joe Biden proíba a construção do oleoduto. O seu programa eleitoral faz do combate às alterações climáticas uma prioridade, e o regresso dos EUA ao Acordo de Paris era uma promessa muitas vezes repetida. Mas assinar o documento no primeiro dia de presidência envia um sinal claro de que a sua presidência vai ser diametralmente oposta à de Trump, no que respeita ao ambiente e à energia.
O oleoduto de Keystone XL, que transportaria o equivalente a 830 mil barris de crude por dia e custaria €6,6 mil milhões, contou sempre com a oposição feroz de ambientalistas e de populações nativas, devido sobretudo ao risco de fugas de petróleo, que podem causar catástrofes ambientais em terras indígenas no Canadá e nos EUA.
A rápida decisão de Biden é mais uma machadada na indústria petrolífera, que tem estado sob cerco devido aos efeitos das emissões de gases com efeito de estufa. Mas é também um problema para o governo canadiano. O Canadá precisa desesperadamente de encontrar uma forma de exportar o petróleo daquela região, que fica no interior do país, a cerca de mil quilómetros do mar. O primeiro-ministro, Justin Trudeau, apesar de ser visto como sendo um progressista em questões ambientais, apoia a construção do oleoduto. O seu governo chegou a pagar publicidade pró-oleoduto no metro de Washington DC, para fazer lóbi pelo projeto junto de congressistas e senadores americanos.