Trocou a secretária de advogado pelo fundo do oceano. Nuno Sá foi ao VISÃO Fest contar como concretizou o sonho de ser fotógrafo aquático. “Tomei a decisão de me mudar para os Açores e conhecer mais das pessoas, do mar e da terra”. Viveu lá durante 11 anos.
No início, conta, fotografava apenas para mostrar aos familiares e amigos, mas rapidamente evoluiu para mais, percebendo o potencial que tinha em fotografar num dos sítios mais ricos em fauna marítima. “Os Açores têm cerca de um terço de todas as espécies de baleias e golfinhos existentes do planeta”, conta, referindo que existem mais de 20 espécies na costa dos Açores.
“O meu dia a dia era ver as baleias e os cachalotes”, recorda. Os segundos, conta, são “recordistas em diversas coisas, é o maior predador do nosso planeta, e é o que mais fundo consegue mergulhar até profundidades onde não há um único raio de luz…”
As placas tectónicas que envolvem o arquipélago fazem com que a sua costa seja muito rica. “Os Açores encontram-se num sítio escolhido a dedo pela natureza porque está entre uma corrente de água quente vindas do sul e de água fria vinda do norte”.

Por isso, baleias são o que mais de vê nas águas açorianas “Uma baleia azul pode ter até 32 metros de comprimento, ou seja três autocarros alinhados, o seu coração é do tamanho de um ‘carro carocha’ e as suas artérias têm dimensão suficiente para lá caber um humano. Estamos a falar dos titãs dos oceanos“.
Na primavera de 2008, recorda Nuno, passou uma tarde a fotografar e a observar orcas, um dos maiores marinhos. Dessa sessão resultou uma fotografia que lhe deu o seu primeiro prémio, tendo sido o primeiro português distinguido no “Wildlife Photographer of the Year”, o concurso de fotografia de vida selvagem organizado pela BBC e pelo Museu de História Natural de Londres.
Desde esse dia andou atrás de fotografias únicas. “Um dia ligaram-me a dizer que tinham visto ‘um pintado’, que hoje sei que é turbarão-baleia, e fui. Foi uma experiência espetacular”, conta. “Desde esse dia, e até este ano, tenho colaborado com cientistas. O tubarão-baleia tem um transmissor na barbatana e assim eles tentam descobrir de onde vem e eu vou para fotografá-lo”.
As suas fotografias começaram a ser publicadas na National Geographic e em revistas da especialidade. Foi graças às suas aventuras que conseguiu fotografar este que é o maior peixe do mundo. Chegou também a fotografar o segundo maior peixe do mundo nos Açores. “Se consegui fotografar estes dois peixes é porque deve haver uma infinidade de histórias por desvendar nestas ilhas”.
Mas nem sempre essas histórias são boas. “A Europa é um dos maiores exportadores de carne de tubarão do mundo. Estes tubarões continuam a ser pescados nos Açores, em Portugal e em Espanha”, alerta.
O mais recente trabalho de Nuno Sá é o documentário Ilha dos Gigantes, onde explora o que está por trás e os efeitos das visitas que passaram a ser regulares do maior peixe do mundo e do seu séquito de atuns.
