Dez anos? Ou dois ou três dias? O primeiro é o tempo que leva a obter rendimento de eucaliptos para se lhe poder extrair celulose. O segundo é quanto as bactérias presentes no vinagre demoram também a produzir esta substância, mas a uma nanoescala. Em ambos os casos, este material biológico e sustentável pode (e está a) ser usado para ajudar a resolver um problema crescente nas sociedades ocidentais: evitar a produção de lixo eletrónico, sobretudo daquele que não é reciclável.
“Trabalhamos com materiais sustentáveis, no domínio da nanotecnologia, não tóxicos e amigos do ambiente. E com tecnologias que também são amigas do ambiente e usam pouca energia,” justifica Elvira Fortunato, cientista que nas últimas décadas, com Rodrigo Martins, tem conduzido investigação sobre aplicações eletrónicas ao papel no Centro de Investigação de Materiais (Cenimat/i3N) da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
As alternativas que a investigadora tem estado a procurar nesta área estiveram em foco este domingo, 25 de outubro, durante a sua apresentação no VISÃO Fest Verde, e pretendem fechar o ciclo de uma eletrónica reciclável através do Paper-e. No fundo a aplicação eletrónica de um material abundante como o papel que, além de barato, leve e flexível, é produzido em larga escala em Portugal e tem boas propriedades elétricas, nomeadamente isolantes.
Se em 2008 saiu das mãos da equipa de Elvira Fortunato o primeiro transístor de papel obtido de celulose das árvores e envolvendo materiais condutores inócuos como óxidos, semicondutores como o óxido de zinco (presente nos protetores solares) e o papel como isolante, já em 2015 o mesmo transístor foi produzido usando membranas de nanocelulose produzidas pelas bactérias do vinagre – que funcionaram melhor do que a experiência feita sete anos antes, “porque o papel não é tão rugoso,” explicou a cientista.
Além desta aplicação, a Elvira Fortunato deu ainda outros exemplos do uso do papel como substituto ou complemento de outros dispositivos eletrónicos, nomeadamente como condutor de eletricidade, produção de energia elétrica a partir da luz do sol (permitindo células fotovoltaicas flexíveis através do projeto TETRA Solar), a que se junta ainda a aplicação na área da internet das coisas (em embalagens e etiquetas inteligentes), na água e na alimentação.
Mas também na saúde, com o uso de tiras de papel enquanto biossensores para diagnóstico nos domínios da glucose e ácido úrico, por exemplo, reduzindo os resíduos resultantes desta utilização. “É papel e, no fim, podemos queimá-lo. Não há plásticos envolvidos,” concluiu.
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