As diferenças entre um analfabeto e um letrado não se limitam às oportunidades que cada um pode ter na vida, em termos de carreira ou de horizontes profissionais. Elas começam no cérebro. E manifestam-se na forma como cada um processa o pensamento. Esta descoberta, que entusiasma a comunidade científica internacional, e que acaba de ganhar o prémio Pfizer, tem a assinatura de um português: Alexandre Castro Caldas, 51 anos, professor catedrático de Neurologia da Faculdade de Medicina de Lisboa, director do Serviço de Neurologia do Hospital de Santa Maria e coordenador do Centro de Neurociências de Lisboa.
VISÃO: Os cérebros são todos iguais?
ALEXANDRE CASTRO CALDAS: Não. Eles são como ascaras daspessoas: há umas parecidas, mas nenhuma é igual a ou tra. Nem mesmo nos gémeos univitelinos (verdadeiros). Isto sugere que há factores genéticos na formação do cérebro, mas que depois há factores externos que o moldam e modificam.
V.: O que tem mais importância para a formação do cérebro? Os genes ou a envolvência social?
A.C.C.: Não podemos cair nem num extremo nem noutro. Mas sabemos, claramente, que a influência social modifica o comportamento das pessoas. O difícil é conseguir descobrir onde e como. Não podemos pegar num indivíduo e isolá-lo de toda a estimulação social. Nenhuma comissão de ética o aprovaria…
V.: E ainda bem…
A.C.C.: Mas foi feito no passado, quando se isolaram crianças para se tentar perceber como surgia a linguagem. As experiências não foram muito conclusivas: as crianças acabavam sempre a
falar a língua de quem lhes levava comida ou tratava delas. Fruto da envolvente social.