Desde garoto que tratatva a bola por tu. Por ela não comia, com ela dormia. Abraçava-a e guardava-a. De tantos mimos, a redondinha recompensou-o de dedicações e afectos. O retorno está à vista: carros de alta cilindrada, ordenado milionário superior a 75 mil euros por semana, contratos publicitários chorudos, muitos luxos, vida para lá de boa. Daí a ser idolatrado, amado, modelo de sucesso e corpo de babar para mulheres e homens foi como atravessar a rua ou fazer um cruzamento para golo. Cristiano Ronaldo, 21 anos feitos a 5 de Fevereiro, estrela mais cintilante da selecção nacional de futebol e sucessor de Beckham no Manchester United, ganhou pose adulta, madura. Terá o menino que começou no humilde Andorinha crescido depressa demais?
A criança pura e doce, mas algo rufia e travessa, ainda mora dentro dele. Quando lhe dá para as boas, é brincalhão e de grandes euforias. Há dias, era vê-lo excitadíssimo, quase aos pulos, quando a loura Merche Romero, apresentadora televisiva e namorada mais ou menos assumida, apareceu no estágio da selecção nacional, em Évora, para o ver. Quando perde as estribeiras, cega. Em tempos, atirou com uma cadeira a uma professora.
E até pode dar-lhe para o pontapé, como teve a infelicidade de perceber um jogador que lhe fazia marcação cerrada, no jogo de preparação com Cabo Verde, sábado passado. A partida era a feijões, comparada com o que aí vem. Se fosse na Alemanha, seria, certamente, expulso.
Que fazer, pois, com este miúdo rebelde e jogador graúdo que pode decidir um jogo ou deitar tudo a perder? São assim os génios, ainda mais se vacinados na rua. Domesticá-lo pode matá-lo, deixá-lo à solta pode destravá-lo. A equipa técnica de Scolari sabe que a linha é ténue. E nem a boa influência que Figo tem exercido sobre ele, amansou de vez o puto indomável e traquina que cresceu, pé-descalço, num bairro do Funchal, com soberba vista de mar. Mas sem horizontes.