Saímos do Parque Zoobotânico, andámos uns metros até ao carro – onde a Roberta nos esperava, e começou a chuvada torrencial, acompanhada de relâmpagos e trovoadas. Ficámos boquiabertos. Ninguém nas ruas, tudo deserto, poucos carros a circular. Íamos avistando as pessoas escondidas aqui e além, abrigadas onde conseguiam, às vezes nas paragens dos autocarros.
Aproveitámos a chuvada para visitar o encantador Teatro da Paz, inaugurado em 1878, durante o período áureo da borracha. A extração da borracha na Amazónia, proveniente da árvore chamada seringueira, trouxe consigo grande investimento europeu. Belém, capital do Estado do Pará, assim como Manaus, capital do Estado do Amazonas, que também visitaremos mais à frente, passaram por uma importante transformação e urbanização. Belém era uma das cidades mais desenvolvidas e prósperas do mundo, não só pela sua posição estratégica – quase no litoral – mas também porque sediava um maior número de residências de seringalistas, casas bancárias e outras importantes instituições. Ambas as cidades possuíam luz elétrica e sistema de água canalizada e esgotos. Mas, apesar desse progresso, a cidade ainda não possuía um teatro de grande porte, capaz de receber espetáculos do género lírico. Procurando satisfazer o anseio da sociedade da época, o governo da província dá então inicio ao projeto arquitetónico inspirado no Teatro Scalla de Milão (Itália). O teatro da Paz foi a primeira casa de espetáculos construída na Amazónia e tem características grandiosas: 1.100 lugares, acústica perfeita, lustres de cristal, piso em mosaico de madeiras nobres, frescos nas paredes e no teto, dezenas de obras de arte, e elementos decorativos revestidos com folhas de ouro *. É hoje considerado um dos teatros-monumentos do país, e foi com grande pena que não assistimos a um espetáculo no seu interior, dado não haver programação nesta noite. Amanhã pelas seis da manhã já estamos de abalada.
Mangal das Garças. Conforme reza o website oficial, onde podem ser vistas mais fotos: O Parque Naturalístico Mangal das Garças foi criado pelo Governo do Pará em 2005 e é o resultado da revitalização de uma área de cerca de 40.000 metros quadrados às margens do Rio Guamá, nas franjas do centro histórico de Belém. Antes era uma área alagada e a transformação foi cuidadosa. O pré-requisito era o aproveitamento máximo das condições paisagísticas da área. A ideia era representar as diferentes macrorregiões florísticas do Pará: as matas de terra firme, as matas de várzea e os campos, com a sua fauna. Com lagos, aves, vegetação típica, equipamentos de lazer, restaurante, vistas espetaculares da cidade e do rio, o Mangal das Garças logo se tornou um dos pontos turísticos mais elogiados de Belém **.
Bando de guarás no Mangal das Garças. A sua cor deve-se à alimentação à base de determinados caranguejos, os quais possuiem um pigmento (o caroteno) que lhes tinge as penas. Esta foto foi tirada com a ajuda do guia Cícero. Se repararem, vêm-se as gotas de chuva a cair na água. Fizémos a visita ao Mangal sempre a chover, se bem que no iníco fossem apenas uns chuviscos leves. E fazia calor, claro. Mas por esta altura chovia acentuadamente e nestas circunstâncias não podia ter a máquina fotográfica à chuva. O guia Cícero disse que eu não podia ir-me embora dali sem tirar uma foto aos guarás. Nunca mais eu iria ver com certeza guarás assim tão perto. Então despiu a camisa e fez uma proteção em cima da minha cabeça, para eu poder tirar esta foto com a máquina protegida da chuva. De facto voltaremos a ver guarás mais algumas vezes, e em meio selvagem, mas claro que nunca assim tão perto.
* Teathro da Paz (s.d.), O Theatro. Página consultada a 4 de Agosto de 2013; http://www.theatrodapaz.com.br/pagina.php?cat=151¬icia=367
** Mangal das Garças (s.d.), O Mangal. Página consultada a 4 de Agosto de 2013; http://www.mangalpa.com.br/?page_id=2