Estava ainda em Berlim, a matar saudades da boémia Europa, quando tudo isto começou. Escrevi uma crónica e, no momento de a enviar para a Visão, o meu tablet fez magia e ela desapareceu. É sempre mau perder algo com paixão, mas neste caso foi ainda pior, porque terminei o texto e pensei: finalmente, uma crónica inspirada e genuína, já estava a fazer falta. Depois foi uma bola de neve. Escrevo amanhã, escrevo depois de amanhã, a matéria foi-se acumulando e quanto mais dias passavam, mais coisas tinha para contar, menos pormenor iam ter.
Mas agora cá estamos, nas Américas, sentada à secretária e determinada a pôr a conversa em dia. Depois da última semana em Israel (passada no Egito, num paraíso do mergulho), consegui chegar a tempo do Natal em Portugal, mas foram cinco minutos. Estava a meio de uma rabanada, e de repente já estava no aeroporto outra vez, com 10 quilos de mochila e 6 meses pela frente. Mas Berlim foi qualquer coisa. Urbana, pesada, louca. Cappuccinos, drogas e pessoas malucas. Entretanto passei o último dia do ano a atravessar o Atlântico e, umas horas antes da passagem de ano, lá estava, na cidade que nunca dorme cheia de sono. Tive direito a bebedeira e a Times Square (ainda nem sei como, mas conheci uns malucos adoráveis no metro) e os outros dois dias passei-os a observar Nova Iorque, a tentar mentalizar-me que estou finalmente na América, há dois meses fora de casa e vêm aí mais seis, que tenho todo um continente completamente desconhecido pela frente e que convém começar a pensar nisso.
A verdade é: não faço ideia do que esperar. Estava a tentar planear minimamente a rota nos Estados Unidos – porque voo de Los Angeles para o México daqui a menos de cinco semanas – mas ainda não consegui ter uma perceção clara da relação tempo/distância/custo, e estou deveras confusa com a seleção de lugares que tenho de fazer. Gosto e sou expert em ir a todas, mas este país é gigante e a não ser que lhe dê a volta, ou escolho mais o norte ou mais o sul. Não há tempo nem dinheiro e, afinal, quero ir com calma.
De qualquer maneira, estou maluca por aqui estar e tenho a certeza que vai ser brutal, independentemente do caminho. Na tal crónica perdida tinha escrito um balanço extremamente sentimental sobre o Médio-Oriente, em que olhava para trás e sorria, ao pensar que estou a fazer isto bem. Até agora, explorei e vivi ao máximo, relaxei tanto quanto persegui e, mesmo sem planos, soube sempre o caminho. Daqui para a frente o cenário muda por completo, mas não perdi a adrenalina da vulnerabilidade que a solidão enfatiza.
Ficam por aí?