A expressão já faz parte da tradição: “Ir de compras y de copas”. É esse o lema de tantos madrilenos que, ao final da tarde, invadem as ruas e saltitam entre as portas abertas da cidade: de uma loja para um comedor, de uma barra de tapas para uma livraria, de um estabelecimento comercial de luxo para o comércio tradicional, de um gin num bar para os expositores de um grande armazém. E é assim em vários bairros da cidade. Cada um com as suas características, as suas tribos, os seus ambientes, mas um mesmo objetivo: “Ir de compras y de copas”. Guia para não se perder em Madrid:
Salamanca
É neste bairro, percorrendo as calles Ortega y Gasset, Serrano, Claudio Coello, Goya, Ayala e Jorge Juan, que se podem apreciar algumas das mais prestigiadas marcas espanholas (Manolo Blahnik, Victorio & Lucchino, Custo, Bimba & Lola, Purificación García, Castañer, Adolfo Domínguez, Pura López, Agatha Ruiz de la Prada ou Carolina Herrera), lado a lado com os símbolos de luxo internacional, como Chanel, Giorgio Armani ou Gucci.
É também aqui que se encontram as melhores joalharias, as lojas de antiguidades, as galerias de arte, em edifícios de arquitetura clássica, com belas e requintadas fachadas. Na chamada “milha de ouro”, cada metro quadrado equivale a milhares de metros de tecidos e a outros tantos diferentes olhares criativos. É também por aqui que se encontram criações de nomes tão exclusivos como Yohji Yamamoto, Comme des Garçons, Prada, Miu Miu, Patrick Cox, Vivienne Westwood e Rifat Ozbek.
CHUECA e MALASAÑA
Chueca não é o Greenwich Village nova-iorquino, nem o Marais parisiense. Mas este antigo e castiço bairro, talvez o mais desavergonhado de Madrid, transformou-se na zona gay da cidade, embora nele coabitem quase todas as culturas, subculturas e tribos urbanas. Nas montras de Chueca misturam-se originalidades.
Na Plaza de Santa Bárbara, The Deli Room propõe as últimas criações dos jovens estilistas espanhóis, como La Casita de Wendy ou Miriam Ocáriz. Na Calle Fuencarral, a jovem criadora Divina Providencia apresenta os modelos mais divertidos da moda espanhola. Mas o centro nevrálgico e trendy desta zona é, sem dúvida, o Mercado de Fuencarral, na rua pedonal com o mesmo nome. Labiríntico e decorado com cores e formas psicadélicas, no seu interior há uma mescla de lojas, onde se comercializam roupa, objetos de design, artesanato e joalharia.
TRIBALL
Na rua Fuencarral, mas do lado oposto ao da Chueca, nasce o Triball, o bairro que conheceu uma recente renovação e que é o mais indie de Madrid. Ali, num triângulo delimitado pela Fuencarral, a Gran Vía e a Corredera Baja de San Pablo, há um ambiente aberto aos novos criadores, às lojas gourmet, a restaurantes biológicos e a novas propostas culturais.
Ir às compras nesta área é o melhor pretexto para descobrir as novas tendências madrilenas, como os artigos de decoração expostos na Kikekeller, as roupas inovadoras de Emiika Style e o espaço do criador Carlos Diez, uma presença habitual nos desfiles da Pasarela Cibeles. E, claro, não há como deixar de lado a Consuela, uma loja recentemente eleita entre as melhores do mundo de calçado sneaker.
LAS SALESAS
A poucos metros da Chueca fica outro dos bairros com lojas de estilos vanguardistas: Las Salesas, delimitada pelas ruas de Bárbara de Braganza, Colón e Chueca. É uma segunda “milha de ouro”, na capital espanhola, mas com um toque mais alternativo, com ruas repletas de galerias de arte, marcas de luxo internacionais, lojas tradicionais, cafés com encanto e bares onde se bebe o melhor gin de fim de tarde em Madrid como o Bristol Bar, na calle Almirante.
As compras nesta área variam entre lojas de decoração e boutiques de design de jovens estilistas de moda, a par de nomes de peso como os dos espanhóis Jesús del Pozo, Elisa Bracci e Devota y Lomba, lado a lado com os internacionais Marc Jacobs e Zadig & Voltaire.
SOL e GRAN VIA
Só os nomes destas ruas e praças evocam imagens de imensas multidões a percorrê-las, em especial nos domingos de comércio aberto. Gran Via, Puertas del Sol, Preciados, Arenal são, desde há muito, sinónimos de animação e compras. Especialmente na época do Natal que, em Espanha, como se sabe, tem o seu auge no Dia de Reis.
RASTRO
De manhã, todos os caminhos madrilenos vão dar ao Rastro, o rei incontestado dos mercados ao ar livre, com mais de cinco séculos de história. Nas ruas de Ribera de Curtidores, encontra-se de tudo um pouco, como nas melhores “feiras da ladra”: estampas antigas, bijutaria, roupa em segunda-mão, vestuário étnico, leques, cartazes de cinema, peças de coleção. Na época de Natal, outros mercados de rua animam a cidade, em especial na Plaza Mayor (com bancas especializadas em presépios), Plaza de la Cruz, Chueca e La Latina.
CENTROS COMERCIAIS
Aos poucos, também os madrilenos acabaram por aderir à moda dos centros comerciais. Com a particularidade de, aqui, muitos deles terem sido erguidos em edifícios emblemáticos, que perderam a sua função inicial. É o caso do centro comercial Príncipe Pío, construído no interior da antiga Estação do Norte, gare ferroviária vizinha do Palácio Real. Numa zona renovada, concentram-se dezenas de lojas, abertas todos os domingos do ano. Como memória da velha estação, ficou o enorme relógio, com mais de 3 metros de diâmetro.
No bairro de Salamanca, outro centro comercial, o ABC de Serrano é também um testemunho da história: até há poucos anos, este edifício albergou a redação do jornal diário ABC, um dos títulos mais antigos de Espanha.
Nos arredores de Madrid, há dois pontos de grande interesse: o outlet Rozas Village (um pequeno “bairro” com lojas das principais marcas espanholas e internacionais) e o Madrid Xanadu, um centro comercial conhecido por albergar a maior pista de neve, coberta, de Espanha. Também aqui se “pode ir de compras y de copas!”
Casas únicas e centenárias
Um dos atrativos de Madrid é a força do seu comércio tradicional. Algumas lojas que merecem uma visita
Casa Hernánz (Desde 1860) A fama desta pequena loja extravasa fronteiras. E percebe-se porquê: é a única onde se encontram alpergatas cosidas à mão, e por pouco mais de 4 euros vende mais de 100 mil pares por ano!. C. Toledo, 18
Antigua Relojería Calle De la sal (Desde 1880) O seu interior, de madeira e vidro, dá um estilo invulgar a esta pequena loja, onde, há mais de um século, se vende todo o tipo de relógios. Possui uma oficina própria. C. Sal, 2
Capas Seseña (Desde 1901) Casa fundada no início do século XX que depressa se revelou um dos baluartes da moda clássica espanhola. As suas capas são não só as preferidas da Casa Real como já foram vistas a serem usadas, ao longo dos tempos, por figuras como Pablo Picasso, Ernest Hemingway, Federico Fellini, Plácido Domingo, Catherine Deneuve e Hillary Clinton. Sinal dos tempos: foi das primeiras lojas tradicionais a vender os seus produtos na internet. C. Cruz, 23
Casa De Diego (Desde 1858) Uma loja que, há sucessivas gerações, tem estado nas mãos da mesma família. E sempre com o mesmo negócio: a venda de leques, sombrinhas, guarda-chuvas. O nome Diego ganhou ainda mais fama quando a princesa Letízia escolheu um dos leques ali fabricados para o usar no seu casamento com o príncipe Filipe. P. del Sol, 12