Os relógios pararam. Ainda no aeroporto de Lisboa, puxo a patilha do relógio de pulso para ver as horas, o relógio que em tantas viagens me acompanhou, e constato, com transtorno, que a pilha se acabou. Prestes a partir, e eu sem o meu relógio. O Filipe não usa relógio de pulso, não gosta. E no dia seguinte foi o despertador. Acabou-se a pilha também. Ficámos sem relógios. Apenas com os telemóveis, apetrecho que nunca uso em viagens – e que se manteve desligado nesta.
Podia ser um sinal do que estava para vir – pois não foram apenas os relógios que pararam. Todo o ritmo abranda na Amazónia. É necessário abrandar. O calor é intenso, a humidade elevada, o suor escorre lentamente pelo corpo. Os relógios devem ser esquecidos, as horas devem passar-se com tranquilidade, sem pressas. Isso. Beleza. Juntamente com a palavra “Oi?”, serão estas as três palavras que mais ouviremos nesta viagem. Outras tornar-se-ão parte do nosso vocabulário corrente, ou mais propriamente da nossa deliciosa alimentação: tucunaré, tambaqui, pirarucu, taperebá, cupuaçu, e muitas mais.
“Águas da Amazónia” é o título de uma música de Philip Glass, composta por dez partes, cada uma com o nome de um rio. É a música que deve acompanhar esta nossa viagem pela Amazónia, área do planeta que tanto inspira artistas por todo o mundo. Esqueçamos as horas, esqueçamos o frenético dia-a-dia citadino, e deixemo-nos navegar pelas tranquilas águas da Amazónia.
Vamos seguir sem relógios, sem horas, sem pressas. Vamos conhecer a grande e poderosa Amazónia.