Há uma forma fácil de atestar o êxito de Nuno Mendes em Londres, muito mais eficaz e autêntica do que procurar as críticas e os elogios na imprensa especializada inglesa. Basta chegar ao seu restaurante à hora em que terminam as refeições – almoço ou jantar, é indiferente… – e observar as caras das pessoas: aquelas expressões de alegria e satisfação não podem ser mentirosas! Ainda para mais quando, já à saída, os clientes fazem questão de ir cumprimentar o chef e agradecer a profusão de experiências e sensações que lhes foi proporcionada à mesa.
A todos, Nuno Mendes agradece com um sorriso caloroso e expontâneo. Até porque, durante todo o tempo da refeição, chef e cliente acabaram por estabelecer comunicação e até alguma afabilidade: a cozinha do Viajante está inserida dentro da sala, completamente aberta, e cada prato é preparado à vista de todos, numa coreografia que envolve os vários chefs e cozinheiros.
Depois, os pratos são levados à mesa, acompanhados por Nuno Mendes, que explica aos clientes o que lhes está a servir… e só então aí abre o véu sobre o que eles vão comer.
O menu, esse, só é entregue no final da refeição.
“O que eu pretendo é tentar oferecer uma experiência, em que as pessoas possam, no fundo, viajar durante o espaço de uma refeição, num ambiente informal e descontraído”, explica Nuno Mendes. Essa experiência pode ser feita ao almoço, com menus de três a nove pratos, ou ao jantar, com uma experiência entre seis a doze pratos. Os preços variam entre as 28 libras (três pratos, fora as bebidas) e as 170 libras dos 12 pratos emparelhados com vinhos escolhidos para os acompanhar.
E o que é que se come? Não se pode estragar a surpresa, mas Nuno Mendes sempre explica que a sua cozinha é “europeia moderna”, o que se pode perceber quando estamos perante alguém que trabalhou com Ferran Adrià, no El Bulli, e que mantém uma cooperação regular com o dinamarquês René Redzepi, do Noma (considerado o melhor restaurante do mundo), que o tem elogiado, várias vezes.
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Alguns dos pratos que Nuno Mendes serve no Corner Room, de clara inspiração portuguesa
“Os meus pratos não têm nacionalidade, não são portugueses nem ingleses nem asiáticos. São, acima de tudo, uma interpretação pessoal das minhas experiências culinárias e, naturalmente, o reflexo das minhas viagens.”, sintetiza.
E reafirma, quase em tom poético: “O que oferecemos é uma viagem, que esperemos dê prazer e memórias.” Mais à frente, dá mais profundidade ao tema: “Uso os sabores que me ‘sabem’ a sonhos ou a memórias do passado.” Na cozinha do Viajante, Nuno Mendes tem, com ele, muitos outros… viajantes. Pessoas de várias nacionalidades que partilham o mesmo conceito de cozinha, baseado na experiência e com um grande respeito pelos produtos utilizados, que devem ser orgânicos e saudáveis. “Agora somos um grupo de amigos, mas é uma amizade que cresceu através do mútuo respeito pelo trabalho”, acrescenta.
De Miami para a estrela Michelin, com um bocadinho de El Bulli
A grande viagem de Nuno pelo mundo começou quando foi estudar biologia marinha para Miami. Não ficou por lá muito tempo e depressa foi para a outra costa dos Estados Unidos, aprender a cozinhar na Academia de Culinária da Califórnia, em São Francisco. Seguiram-se depois experiências em restaurantes de Nova Iorque e no Novo México, até rumar à Catalunha, onde trabalhou, no El Bulli, e aprendeu os segredos da cozinha molecular com Ferran Adriá. Pelo meio, nunca parou de viajar, em especial pela Ásia, onde interiorizou as características aromáticas, saudáveis, percebendo como a cozinha pode ser um meio de comunicação entre as pessoas.
Foi com toda essa bagagem que, em 2005, se estabeleceu em Londres e, no ano seguinte, abre o seu primeiro restaurante, o Bacchus, já na zona do East End. Rapidamente o seu nome passou a ser falado e, por causa de um compatriota que, então, monopolizava as atenções, houve até quem escrevesse que se estava perante o “Mourinho da cozinha”. No caso de Nuno Mendes (e para prosseguir na linguagem futeboleira…), a sua passagem a “galáctico” deu-se no momento em que foi convidado para assumir a direção da cozinha e dos restaurantes – chef patron , como tem escrito no seu cartão de visita – de um novo hotel, em Bethnal Green.
O Viajante abre, pela primeira vez, no verão de 2010 e, em janeiro de 2011, Nuno Mendes recebe a sua primeira estrela Michelin. Pouco depois, é convidado para cozinhar, no seu restaurante, para os premiados do melhor restaurante do mundo.
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Em cima: a decoração do Corner Room. Em baixo: a cozinha do Viajante e o bar do Town Hall
É aí que René Redzepi fica fascinado com a sua cozinha.
Mas Nuno Mendes não para. “Abrimos o Corner Room, aqui no hotel, com preços mais acessíveis, mas com os mesmos mandamentos do Viajante. Em breve, vou reabrir o Loft, onde o conceito é quase o de comer em casa com um chef e quero relançar o Long Table, uma espécie de mercado de rua, com produtos naturais vindos de todo o mundo, e onde qualquer um se pode sentar e comer.”
Como sonho, mantém o de um pequeno hotel com restaurante em Portugal: “Um local com uma quinta, onde se consuma aquilo que é produzido, vegetais, vinho orgânico.” Onde? “Talvez no Douro ou no Alentejo.” Mas não pensa sair de Londres, uma cidade onde se sente no centro do mundo. “É uma das grandes vantagens para um viajante como eu: daqui posso, facilmente, apanhar um avião para qualquer parte do mundo.” Mas a sua Londres é a do East End, onde gaba, com um brilho nos olhos, a criatividade, o espírito de comunidade e o lado boémio. “Apesar de agora, com uma filha pequena, sair muito menos à noite…”
Viajante e Corner Room
Ambos os restaurantes estão instalados no mesmo edifício do Town Hall Hotel & Apartments, embora o Viajante tenha uma entrada independente, pela Cambridge Heath Road, a 300 metros da estação de metro de Bethnal Green. O acesso ao Corner Room faz-se pela receção do hotel e funciona na mesma sala onde são servidos os pequenos-almoços.
Viajante
viajante.uk Tel: + 44 (0)20 7871 0461 Email: info@viajante.co.uk
Corner Room
cornerroom.uk Sem reservas. Basta aparecer
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Town Hall Hotel & Apartments
Hotel com 98 quartos, dos quais 88 são suites Preços desde 170 euros Patriot Square, Londres, E2 9NF townhallhotel.com
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