O final da tarde convida a um diálogo em passo de caracol junto ao porto. Com algumas paragens obrigatórias: para acentuar um ou outro aspecto da conversa e, acima de tudo, para contemplar a água tranquila no fiorde. Cheira a mar enquanto calcorreamos as ruas empedradas, ladeadas por casas de madeira pintadas de branco, mas também de alegres amarelos, azuis, vermelhos e laranjas. A certa altura, a velha torre Valberg faz notar a sua presença, erguendo, como que a procurar o Sol, o verdete do telhado de cobre bem acima dos edifícios da zona portuária de Stavanger, a quarta maior cidade norueguesa.
Para chegar à base da antiga torre de detecção de incêndios, sobe-se a colina e deixam-se para trás dezenas de antigos armazéns do século XVII, agora convertidos em restaurantes, hotéis e apartamentos. Dali enchem-se os olhos de cidade e de fiorde: não se vislumbra um arranha-céus. Só edifícios relativamente baixos e casas de madeira. Quase não dá para acreditar que estamos na capital petrolífera da Noruega.
A cidade de tradições marítimas e de indústria conserveira definhava quando, ao largo da sua costa, foi encontrado ouro negro, na década de 60. Hoje, com cerca de 120 mil habitantes, mais do que triplicou a população, sendo obrigada a expandir-se para as ilhas contíguas.
Saciado o olhar, valerá a pena voltar a descer em direcção ao cais para procurar poiso numa das esplanadas. A temperatura do ar é um pouco baixa para epidermes ibéricas desprotegidas, mas os de cá andam todos de manga curta, calções e camisolinhas de alças. A cerveja corre. Apesar da proximidade gélida do Círculo Polar Árctico e das neves eternas, o clima é bastante ameno nesta cidade do sudoeste norueguês, por causa da corrente do Golfo do México (as temperaturas médias em Agosto andam à volta dos 14 graus centígrados). E no Verão, a noite começa “a bombar”, quando o Sol ainda vai relativamente alto no céu.
É que por aqui, anoitece muito tarde e, no solstício, o Sol nunca se chega a pôr inteiramente. Os maiores encantos de Stavanger, coração da Província de Rogaland, não estão na cidade, nos seus espaços e edifícios, como a catedral do século XIII. Vamos encontrá-los nos arredores.
Saindo da cidade pelo Sul, encoste-se o carro para ir ao encontro da mitologia nórdica, numa margem do Hafrsfjord. Aí há três gigantescas espadas viquingues cravadas na rocha. Um monumento, dos anos 80 do século passado, a lembrar que foi naquele local que em 872 se travou uma batalha entre três reis da qual Harald Hårfagre (Cabelo-Belo), saiu vencedor e unificou o reino da Noruega.
Tome-se, de seguida, a direcção de Dirdal através de uma paisagem moldada pelo degelo da última época glaciar, há 100 anos, que arrastou montanhas, desviou rios e formou lagos nos quais se precipitam cascatas. Passa-se por desfiladeiros, entre montanhas, que parecem querer esboroar-se a qualquer momento espalhando cascalho pela encosta. Há calhaus do tamanho de casas. Gloppedalsura é o maior campo de cascalho do Norte da Europa. Na Primavera de 1940, travou-se aqui uma feroz batalha dos noruegueses contra as tropas invasoras alemãs. Paragem para almoço na aldeia de Byrkjedal, numa antiga fábrica de velas que agora vende souvenirs e serve comida caseira.
A região convida à caminhada pela natureza. A sair, de mochila às costas, e a passar a noite numa tenda junto ao lago (na Noruega é permitido acampar na natureza). Mas alugar uma daquelas casas do século XVII com telhado de ervas, em Byrkjedal, será seguramente uma opção mais confortável.
A não perder, mesmo por quem está com pressa é o Lysefjord, que há medida que, vindo do mar, nele se avança vai estreitanto. As paredes de granito de um lado e de outro chega a ter 1000 metros de altura. Mas aí, o que mais impressiona é a Preikestolen (Rocha do Púlpito), uma formação rochosa que emerge do mar, para atingir 600 metros de altura e que, como o nome diz, tem a forma de um púlpito. As imediações são também feitas de praias de areia branca a perder de vista e outros tesouros que quem aborda a Noruega com demasiada pressa e só na ânsia de chegar rapidamente ao Cabo Norte, se arrisca a nunca vir a conhecer.
PALADARES
Por causa do petróleo que atraiu um grande número de estrangeiros para a região, 8% da população de Stavanger não é norueguesa.
O que veio enriquecer, de sobremaneira, a gastronomia local. Aos tradicionais restaurantes de peixe juntaram-se os ditos étnicos, tailandeses, chineses, indianos, italianos e por aí fora.
Experimentou-se, ao jantar, no cais, o Hall Tool. Situado no edifício da antiga alfândega, tem um excelente ambiente e uma cozinha internacional cuidada em se valorizam os produtos locais salmão e bacalhau frescos, bem como outros produtos do mar, caça e borrego. E como comer fora, na Noruega é caro, é expectável que a conta chegue aos 50 euros por pessoa sem vinho! Entre outras alternativas mais em conta, em Stavanger, também estão representadas as grandes cadeias internacionais de fast food.