Em pleno coração da Europa, banhada pelo Reno e encravada entre o maciço suíço do Jura, a Floresta Negra alemã e os Vosges alsacianos, Basileia é um ponto de encontro de histórias, culturas e tradições, para lá de uma das cidades helvéticas economicamente mais prósperas, com as suas indústrias financeira e farmacêutica a darem cartas mundiais e os seus congressos e feiras (da famosa Art Basel à conceituada feira de relojoaria) a atrair milhares de visitantes todos os anos. Cosmopolita, fervilhante e criativa, a pequena Basel é também uma simpática e pacata cidade com muitas histórias e preciosidades para revelar.
De barco, eléctrico, bicicleta ou (de preferência) a pé, em excursões organizadas, percursos temáticos ou passeios pedestres, Basileia exibe, ora modesta ora majestosa, recantos pitorescos, monumentos emblemáticos e uma arquitectura de contrastes. O difícil vai ser escolher por onde começar… O melhor mesmo é um passeio a pé (há percursos assinalados que duram de 30 a 90 minutos) que começa na Fonte Tinguely, um verdadeiro símbolo da cidade com as suas esculturas-máquinas a “trabalhar” na água evocando o antigo teatro, e dali descer até à Barfüsserplatz para visitar o Barfüsserkirche, o museu da cidade, onde se podem conhecer os principais marcos da história de Basileia desde a Idade Média (destaque para as obras de arte religiosas da época antes da Reforma).
Subimos rumo à Münsterplatz e, claro, à Catedral, o simbólico monumento que, com as suas paredes em grés cor-de-rosa, o seu tecto colorido e as suas duas imponentes torres marca, incontornavelmente, a paisagem da cidade (foi, aliás, esta colina que assistiu ao nascimento da urbe com os celtas). A cripta, o túmulo de Erasmus de Roterdão, a porta de St. Gall e até um retábulo com o martírio do nosso S. Vicente testemunham uma história movimentada através dos séculos. À volta da catedral, que levou 500 anos a ser construída e foi palco de importantes eventos internacionais, a praça que acolheu procissões, festas, torneios e grandiosos cortejos imperiais, permanece um concorrido local de encontro e diversão, animada por várias actividades ao longo de todo o ano.
Nas traseiras da Catedral, a antiga casa do bispo é hoje um agradável terraço com vista para o Reno. Vale a pena parar uns minutos para descansar e admirar a paisagem.
Retemperadas as forças, obrigatório descer até à margem e passar o rio num dos pequenos barcos. A corrente é tão forte que um simples cabo se encarrega de levar a típica embarcação (outrora usada para o transporte de mercadoria pestilenta). A viagem é rápida, mas divertida.
TRADIÇÃO E MODERNIDADE
Chegados à outra margem, há que percorrer o boulevard Oberer Rheinweg, com as suas ruas e casas pitorescas e os seus hotéis e esplanadas (frequentadas por artistas). Páre para “ler” uma maqueta da cidade em braille, admirar um Basilisco, a serpente fantástica que deu nome à cidade, e avistar o famoso hotel Les Trois Rois.
Atravessamos a Mittlere Brücke, onde a alegórica figura feminina Helvetia (Suíça em latim) permanece vigilante, e a próxima paragem é Marktplatz, dominada pelo Rathaus, sede do governo do cantão, um edifício construído em 1504, mas que foi ampliado e restaurado várias vezes (não perder as arcadas interiores). Mas a simpática praça não é só poiso administrativo: de manhã bem cedo enche-se de cores e aromas com o seu típico mercado, onde agricultores e comerciantes da região trazem os mais variados produtos (recomendam-se os legumes frescos já arranjados e lavados). Marktplatz tem ligação com a animada Freie Strasse e, daqui, com a Market Square, Gerbergasse e Aeschenvorstadt, artérias onde se reúnem lojas de conceituadas marcas, e é também um excelente ponto de partida para vaguear pela zona antiga. A cidade “velha” é um sobe e desce de ruas, ruelas, becos, largos e recantos (tudo muito florido), onde a arquitectura do século XV, religiosamente preservada mas aqui e ali pincelada com um toque de modernidade, dá cor e encanto a um bairro que convida ao passeio. Descubra as antigas casas de ofícios e os símbolos das confrarias, experimente uma cerveja suíça, um pão biológico ou uma Baslerzopf (trança), derreta-se numa casa de chocolate (a Schiesser é uma excelente opção) ou arrisque uma recordação original. E não perca a irreverência de Spalenberg, com as suas boutiques independentes.
Para acabar o dia, e se preferir um ambiente mais cosmopolita e animado, vá até à concorrida Steinenvorstadt, com os seus bares (o All Bar One é uma boa escolha para um fim de tarde), restaurantes, lojas e cinemas. Outra opção é o Acqua Bar, na Binningerstrasse, um dos locais mais “in” da noite em Basileia: restaurante, bar e lounge onde se pode comer, dançar ou conversar num sofá em pleno jardim.
CULTURA E ‘VENEZA’
Mas Basileia tem muito mais para oferecer. Verdadeiro paraíso para os amantes da cultura, a verdade é que arte e arquitectura espreitam a cada esquina, seja numa praça, num jardim, numa fábrica ou numa galeria. As propostas são variadas, com os seus 40 museus a justificar bem a reputação de “capital cultural” da Suíça. Do Kunstmuseum Basel, com a mais antiga colecção de arte e as suas obras-primas da arte moderna, ao futurista Schaulager, construído pela dupla Herzog & De Meuron, da Puppenhausmuseum, com a vasta colecção de bonecas e peluches, à Fundação Beyeler, com as suas duas centenas de obras de mestres do século XX, do Augusta Raurica, o maior sítio arqueológico suíço e as suas preciosidades romanas, ao Historisches Museum Basel e a sua importante colecção.
Finalmente, e se em vez de um “banho” de cultura é daqueles que prefere desfrutar de um passeio tranquilo e bucólico, o melhor é seguir até St. Alban-Tor, a chamada “Veneza” de Basileia. A escassos minutos do centro, deixe-se levar por ruas sinuosas atravessadas por canais e caminhos verdejantes, descubra uma esplanada numa ponte estreita e um moinho de papel, faça uma paragem para beber um chá e respirar ar puro.
Atracções não faltam. Cosmopolita, moderna e monumental ou, simplesmente, modesta e graciosa, Basileia convida à descoberta. E surpresas não faltam.