O Governo vai lançar quatro medidas de apoio às empresas para combater os efeitos das tarifas lançadas pelos Estados Unidos (entretanto suspensas por 90 dias). Pedro Reis, ministro da Economia, anunciou hoje, no final da reunião do Conselho de Ministros, o Programa Reforçar, que irá contar com um investimento de 10 mil milhões de euros e que passa pelo lançamento de linhas de crédito, através do Banco do Fomento, num total de 8,6 mil milhões de euros.

“Portugal está ligado aos Estados Unidos da América por uma sólida amizade e uma intensa relação política e económica (…) Mas, por vezes, é preciso assumi-lo, até com os nossos grandes amigos temos algumas divergências”, disse Luís Montenegro, sublinhando que “a prioridade absoluta passa pela negociação com os Estados Unidos”.

Para além das linhas de crédito, as medidas pensadas pelo Executivo incluem os seguros de crédito – com o reforço do ‘plafond’ em 1.200 milhões de euros – e a expansão de apoios à internacionalização – como o reforço de “programas coletivos” que visam permitir às empresas irem a mais feiras.

O primeiro-ministro salientou ainda que o aumento das taxas aduaneiras pelos Estados Unidos é uma “ameaça” ao crescimento económico mundial e pode resultar num conflito comercial que “não beneficia ninguém”. “Como diz o povo, é mesmo o momento de ter adultos na sala. Sem alarmismos, sem precipitações, estamos preparados e tomaremos as decisões necessárias para lidarmos o melhor possível com esta situação desafiante”, disse.

De acordo com um recente inquérito, quase todas as escolas em Inglaterra possuem algum tipo de proibição sobre a utilização de telemóveis pelos alunos. O estudo – encomendado pela Comissária para a Infância de Inglaterra, Rachel de Souza, e realizado pela YouGov – envolveu mais de 15 mil estabelecimentos de ensino e revelou que 99,8% das escolas primárias não permitem a utilização dos aparelhos, enquanto 90% das escolas secundárias têm alguma forma de proibição sobre os mesmos.

O estudo permitiu ainda verificar algumas diferenças no tipo de proibição que as escolas adotam sobre os telemóveis. A grande maioria das escolas primárias não permite que alunos levem telemóveis para a escola ou exige que os mesmos sejam entregues a um funcionário do estabelecimento de ensino.

Dados relativos ao ensino secundário mostraram que 79% das escolas permitem que os jovens mantenham os seus telemóveis, mas proíbem a sua utilização. Já quase 8% exigem que os dispositivos sejam entregues e apenas 3,5% impede que os mesmos entrem no recinto escolar. Por outro lado, quase 6% das escolas secundárias analisadas permitem a utilização de telemóveis pelos alunos, durante as aulas, desde que autorizados por um professor e cerca de 4% permite a utilização do telemóvel durante os intervalos ou hora de almoço.

O inquérito analisou ainda o tempo que as crianças – com idades entre os oito e os 15 anos – despendem ao utilizar telemóveis, tablets, computadores ou consolas e concluiu que 23% dos jovens gastam, em média, mais de quatro horas por dia nestes aparelhos. “Embora estas políticas sejam essenciais para manter a concentração, reduzir as distrações e promover um comportamento positivo nas escolas, são apenas parte da solução. As escolas dizem-nos que, apesar destas políticas, continuam profundamente preocupadas com a segurança online das crianças. Isto porque a maior parte do tempo que as crianças passam nos seus telemóveis é fora do horário escolar”, referiu Rachel de Souza, comissária responsável pelo estudo. 

Estudos anteriores, realizados pela mesma instituição, sugerem que 45% das crianças – entre os 8 e os 17 anos – já foram expostas a conteúdo nocivo na internet, incluindo violência sexual ou pornografia.

A responsável sublinhou ainda que o governo britânico deve dar “todo o apoio” aos diretores das escolas na implementação de políticas de restrição de telemóveis nos estabelecimentos de ensino. Ademais, De Souza defende que esta é uma questão global e que deverá ser levada em consideração não só pela comunidade educativa, mas também pelo poder político, pais e empresas. “Se queremos mesmo ajudar as crianças a colher os muitos benefícios da Internet, temos de regulamentar seriamente o que podem ver, onde podem ver e travar os danos que as empresas tecnológicas estão atualmente a causar à sua saúde, capacidade de atenção e segurança”, disse.

O Sindicato Nacional da Educação do Reino Unido tem apelado a uma proibição legal de telemóveis nos estabelecimentos de ensino, bem como a restrições no uso das redes sociais por menores de 16 anos. “Penso que há uma conversa muito necessária a ter neste país sobre a utilização de telemóveis, os danos em linha e o impacto prejudicial que tem nos nossos jovens”, sublinha Daniel Kebede, secretário-geral do Sindicato da Educação, o maior do setor no Reino Unido, em declarações ao The Guardian.

Na próxima semana, durante a conferência anual do Sindicato, vão ser debatidas propostas que visam impor regulamentações sobre as empresas que detêm as redes sociais – como a Meta -, de forma a remover conteúdos nocivos – como a violência sexual – e a proteger as crianças e jovens. “Estas organizações, como o TikTok, o Snapchat, o Instagram, etc., são um verdadeiro exemplo da crise de saúde mental dos jovens à medida que crescem. Penso que devem ser consideradas como empresas de tabaco e regulamentadas como tal”, defende Kebede.

Nas redes sociais, Ursula von der Leyen disse que a Comissão “tirou notas” acerca do anúncio de Donald Trump de suspensão das tarifas recíprocas, por 90 dias, a 75 países. “Tomámos nota do anúncio feito pelo Presidente Trump. Queremos dar uma oportunidade às negociações. Enquanto finalizamos a adoção das contramedidas da UE, que receberam um forte apoio dos nossos Estados-Membros, vamos suspendê-las durante 90 dias”, pode ler-se numa publicação na rede social X.

De acordo com Von der Leyen, a Comissão Europeia quer dar uma “oportunidade” às negociações e, caso não resultem, avançar com uma lista de medidas retaliatórias. “Se as negociações não forem satisfatórias, as nossas contramedidas entrarão em vigor. Prosseguem os trabalhos preparatórios sobre novas contramedidas. Como já referi, todas as opções permanecem em cima da mesa”, lê-se.

Nesta quarta-feira, a União Europeia tinha aprovado, por maioria, a aplicação de uma tarifa de 25% a produtos norte-americanos. Horas mais tarde, Donald Trump anunciava uma pausa das tarifas recíprocas a 75 países, excluindo a China.

A Lampsy Health, uma startup portuguesa especializada no desenvolvimento de soluções tecnológicas para pessoas com epilepsia, anunciou a captação de um investimento de 230 mil euros. A ronda foi liderada pela Fundação Ageas e contou ainda com a participação das business angels (investidores individuais em fases iniciais do projeto) Susana de Sousa e Ellie Asgari. Com este novo financiamento, a empresa pretende lançar o produto no mercado europeu já no início de 2026.

Fundada por Vicente Garção e Leonor Pereira, e com a participação de Joana Pinto, a empresa desenvolveu um dispositivo integrado num candeeiro, baseado em Inteligência Artificial (IA), que consegue detetar ataques epilépticos com uma precisão de 99%. Em caso de emergência, o sistema envia alertas automáticos para cuidadores ou contactos de emergência.

Lampsy Health
A empresa pretende lançar o produto no mercado europeu no início de 2026

Atualmente, a Lampsy Health está a validar o dispositivo em colaboração com todas as unidades de epilepsia dos hospitais públicos da Área Metropolitana de Lisboa, um processo essencial para obter a certificação médica do produto a nível europeu.

“A Fundação Ageas viu neste projeto uma oportunidade de criar um impacto significativo na saúde e bem-estar”, podemos ler no comunicado de imprensa. As investidoras Susana de Sousa, especialista em experiência do cliente, e Ellie Asgari, médica no Reino Unido, sublinharam a “relevância global” do problema e a robustez tecnológica da solução portuguesa.

Para Vicente Garção, diretor executivo (CEO) da Lampsy Health, este investimento representa “um passo fundamental para expandir a rede de parcerias estratégicas e preparar uma entrada eficaz no mercado”. O objetivo final, destaca, é garantir “segurança e paz de espírito a todas as famílias que vivem com epilepsia a nível mundial”.

A startup tem planos para levantar mais um milhão de euros até ao final do ano, através de investidores nacionais e internacionais. Já é possível inscrever-se na lista de espera para o produto através do site oficial da empresa.

Leia aqui a reportagem da Exame Informática sobre a Lampsy Health na WebSummit de 2024.

A Google anunciou os chips Ironwood, a sétima geração de TPU destinados a Inteligência Artificial. Segundo a Google Cloud, este acelerador consegue entregar 24 vezes mais poder de computação do que o atual supercomputador mais rápido, quando construído em escala. Neste desenvolvimento, a gigante teve uma estratégia diferente, focando-o particularmente na inferência, o processo no qual os modelos de IA fazem previsões ou geram respostas.

Amin Vahdat, vice-presidente da Google e responsável pelos sistemas de aprendizagem automática e Cloud AI, conta que “o Ironwood está construído para suportar a próxima fase de IA generativa e os seus tremendos requisitos para computação e comunicação (…) Isto é o que chamamos de ‘era da inferência’, na qual os agentes de IA vão proativamente obter e gerar dados para colaborativamente entregar análises e respostas e não apenas dados”, cita o VentureBeat.

Este novo componente, quando escalado a 9216 chips por módulo, é capaz de entregar 42,5 exaflops de computação (contra os 1,7 exaflops conseguidos pelo El Capitan, o supercomputador mais rápido da atualidade). Cada chip Ironwood é capaz de atingir um pico de computação de 4614 teraflops, tem 192 GB de HBM (memória de elevada largura de banda) e que consegue atingir uma largura de banda de 7,2 terabits por segundo (mais 4,5 vezes do que a geração anterior, conhecida como Trillium).

Numa altura em que os consumos energéticos estão na ordem do dia, também há boas notícias: os Ironwood conseguem duas vezes mais performance por watt do que a Trillium e são cerca de 30 vezes mais eficientes do que os primeiros TPU da Google, lançados em 2018.

A BYD anunciou no início da semana que a marca premium Denza vai chegar à Europa. Apesar de ter vendido 4,2 milhões de veículos globalmente no ano passado, mais de 90% das vendas foram na China e apenas 3% foram carros Denza. Em 2024, a BYD teve 2,8% de quota de mercado nos veículos elétricos na Europa.

A fabricante chinesa pretende que a marca premium, que começou com uma parceria a meias com a Mercedes e agora é completamente da BYD, seja a ponta de lança para os avanços tecnológicos. Alfredo Altavilla, conselheiro especial da BYD para a Europa, explica que a Denza vai antecipar funcionalidades tecnológicas na Europa que depois irão aparecer em carros BYD, noticia a Reuters.

A estreia da Denza deve acontecer no final deste ano, com uma versão elétrica da carrinha desportiva Z9 GT com 1000 cavalos de potência, seguindo-se uma versão híbrida em 2026. Não se conhecem ainda a estratégia comercial ou outros lançamentos da marca para a Europa, mas o preço desta carrinha já é mais elevado do que o topo de gama BYD atualmente disponível na Europa, que está nos 72 mil euros.

Altavilla confirma que também a carrinha D9 está nos planos para chegar a partir do final deste ano: “O objetivo é tornar a Denza uma marca premium com uma linha completa”, salientando que o público-alvo são clientes com maior possibilidade de investimento e mais jovens, com apetência para a tecnologia.

Um grupo de investigadores está a analisar dados de milhares de pessoas com o intuito de criar algoritmos que sejam capazes de prever a ocorrência de homicídios antes de estes acontecerem. O programa destina-se a ajudar as autoridades a prevenir os crimes e identificar antecipadamente pessoas mais prováveis de se tornarem assassinas. O programa começou por ser apelidado de “projeto para previsão de homicídios”, mas está agora a ser tratado por “partilha de dados para melhorar a avaliação de risco”.

A iniciativa foi adjudicada quando Rishi Sunak estava no cargo de primeiro-ministro britânico e está a usar dados de várias fontes oficiais, como nomes, datas de nascimento, género, etnia e um número que identifica as pessoas na base nacional da polícia. O Ministério da Justiça britânico defende que o programa “vai analisar características que aumentam o risco de se cometer homicídio” e “explorar técnicas alternativas e inovadoras de Ciência dos Dados para efetuar uma análise de risco de homicídio”. Segundo as autoridades, apenas são usados dados de pessoas que estão nos registos das polícias.

A existência do programa foi tornada pública pelo grupo Statewatch, que colocou vários pedidos de informação oficiais e obteve dados que confirmam esta iniciativa. Nessa análise, foi possível constatar que os dados de pessoas que não cometeram qualquer ilícito também vão ser escrutinados, como informações sobre danos auto-infligidos ou relacionados com abusos domésticos. Segundo o Statewatch, dados de quem tenha ido às autoridades pedir ajuda também vão ser incluídos no desenvolvimento dos algoritmos.

Uma secção marcada como “tipo de dados pessoais a ser partilhado” lista vários tipos de acusações criminais, mas também a idade com que a pessoa aparece como vítima pela primeira vez e a idade com que teve contacto com a polícia pela primeira vez. Nas “categorias especiais de dados pessoais”, lê-se que o programa vai considerar “marcadores de saúde que se espera terem grande poder preditivo”, como informações de saúde mental, vícios, suicídio, vulnerabilidade, incapacidades e danos auto-infligidos.

Sofia Lyall, do Statewatch, considera esta tentativa de construir um modelo preditivo de homicídio como “arrepiante e distópica”, salientando que este tipo de ferramentas apresenta falhas desde a conceção: “Este modelo mais recente, que usa dados da nossa polícia institucionalmente racista e do Ministério de Administração Interna, vai reforçar e aumentar a discriminação estrutural que molda o sistema legal criminal”, cita o The Guardian.

Os críticos alertam que minorias étnicas e pessoas desfavorecidas terão maior propensão para serem identificadas como potenciais criminosos. “Como outros sistemas semelhantes, vai codificar o preconceito para comunidades racializadas e de baixos rendimentos. Construir uma ferramenta automatizada para perfilar as pessoas como criminosos violentos é profundamente errado e usar dados sensíveis como de saúde mental, adição e incapacidade é altamente intrusivo e alarmante”, afirma Lyall.

O Ministério da Justiça defende que “o projeto está a ser conduzido para fins de investigação apenas. Foi desenhado para usar dados existentes (…) de criminosos condenados para nos ajudar a perceber o risco de pessoas em condicional virem a cometer violência criminal séria. Um relatório será publicado no devido tempo”.

É verdade que já existem vários modelos de relógios inteligentes com funcionalidade para medir a pressão arterial (com o Samsung Galaxy Watch à cabeça), mas até agora nenhum tinha obtido certificação médica válida em dezenas de países, incluindo Portugal. É precisamente por isso que olhamos para o Huawei Watch D2 de forma diferente.

Mas comecemos pelo design e construção, que também trazem algumas novidades. Desde logo, a bracelete incorpora um airbag insuflável e uma almofada de ar mecânica ultra-estreita. Durante a medição, a bracelete começa a insuflar e exerce pressão no pulso, proporcionando uma sensação idêntica à de um esfigmomanómetro tradicional. O utilizador deve depois colocar o braço que tem o relógio numa posição específica (colocando a mão junto ao coração) para que os resultados das medições sejam o mais precisos possível.

Apesar desta inovação, a bracelete mantém-se extremamente confortável, não se notando diferença face a modelos convencionais sem a almofada de enchimento. Existem duas versões disponíveis: uma em preto, com bracelete em fluoroelastómero, e outra em branco, com detalhes dourados e bracelete em pele.

Veja em baixo o Huawei Watch D2:

A caixa do relógio propriamente dito, construída em liga de alumínio, transmite uma sensação de robustez e resistência. É importante notar que o Huawei D2 tem certificação IP68 – apesar de garantir resistência à água, a marca recomenda, no entanto, que não seja usado para nadar ou durante banhos quentes.

Já o ecrã AMOLED de 1,82 polegadas proporciona uma leitura clara dos dados, suportada por um software intuitivo que facilita a navegação e apresenta ícones bem identificáveis. O brilho máximo de 1500 nits prometido pela marca para facilitar a visualização em dias de sol intenso acabou por não corresponder totalmente às expectativas, com a visualização a mostrar-se algo difícil sob luz solar forte. Ainda assim, no uso diário, o brilho adaptativo mostrou ser uma solução eficaz.

Ter a pressão arterial controlada

Na aplicação Huawei Health temos acesso aos dados, em detalhe

De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de um terço dos portugueses sofre de hipertensão arterial, uma doença muito comum na população e que afeta, em grande parte, o sexo masculino. O sal é o principal responsável por esta condição, que mata milhares de portugueses anualmente. No entanto, é amplamente reconhecido que praticar exercício físico regularmente ajuda a prevenir e evitar doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial.

Para quem deseja manter a pressão arterial controlada de forma constante, o Huawei Watch D2 permite monitorizar este indicador, disponibilizando uma perceção do estado do utilizador em diferentes momentos do dia a dia. Contudo, é importante frisar que este smartwatch não substitui uma consulta médica.

Durante os nossos testes, fizemos de tudo um pouco: passámos dias inteiros com o smartwatch no pulso, incluindo durante a noite, comparámos as medições com um esfigmomanómetro tradicional de pulso e praticámos exercício físico com ele. Além disso, com a função MAPA, é possível definir os intervalos de tempo entre cada medição, o que nos mantém sempre ‘controlados’. Nos primeiros dias, estabelecemos medições a cada 30 minutos para garantir uma quantidade significativa de dados. Destacamos ainda que, durante a noite, o smartwatch continua a medir a pressão arterial sem nos acordar durante o processo.

Na comparação dos valores das medições, verificámos que a pressão arterial tende a ser mais elevada durante o dia do que durante a noite, o que é perfeitamente normal, dado que o corpo está em repouso total durante o período noturno. Ao comparar as medições do Huawei D2 com as de um aparelho tradicional, constatámos que, apesar de os valores serem geralmente semelhantes, existem algumas discrepâncias. Isto já era esperado, uma vez que é difícil obter duas medições idênticas num curto intervalo de tempo.

No entanto, em certos casos, a diferença entre os dois dispositivos revelou-se significativa. Por exemplo, enquanto o smartwatch registou 118 mmHg de pressão sistólica e 76 mmHg de pressão diastólica, o aparelho tradicional registou 129 mmHg e 83 mmHg, respetivamente. Realizámos dezenas de medições e esta diferença manteve-se sempre similar.

Estas variações comprovam que embora o smartwatch seja uma ferramenta útil e com uma elevada taxa de acerto na monitorização diária, não substitui um dispositivo médico convencional na obtenção de medições exatas.

Tudo monitorizado

Não é apenas pela monitorização da pressão arterial que este smartwatch se destaca, mas também pelo controlo de outros parâmetros, como o sono, a frequência cardíaca, o nível de oxigénio no sangue e o stress.

Relativamente ao sono, o smartwatch monitoriza as fases leve, profunda e REM, tendo acompanhado de forma certeira as horas de adormecer e acordar. Além disso, as pontuações atribuídas corresponderam à nossa perceção de descanso. A medição da frequência cardíaca revelou-se igualmente precisa, com valores idênticos aos obtidos por outros smartwatches e dispositivos médicos certificados.

Já a monitorização do stress é um parâmetro que a Huawei tem vindo a implementar tanto nas pulseiras como nos smartwatches, e é um detalhe que nos convence. Em dias de descanso e durante a noite, os valores registados são sempre baixos, enquanto em dias de trabalho ou mais agitados, os níveis de stress aumentam automaticamente.

Por fim, a autonomia é excelente, alcançando cerca de dez dias mesmo com uma utilização intensiva, incluindo várias medições diárias da pressão arterial. Importa salientar que, para cada medição, é necessário encher um airbag, o que torna este desempenho ainda mais impressionante, sobretudo quando comparado com outras alternativas no mercado que nem chegam a dois dias de autonomia.

Veredicto

Este smartwatch destaca-se por disponibilizar uma funcionalidade com certificação médica única no mercado, o que já justifica, em parte, o preço elevado. Além disso, permite monitorizar diversos parâmetros de saúde, praticar exercício físico com o auxílio de GPS integrado e ainda ler notificações e atender chamadas. Dada a versatilidade e precisão, consideramos que este é um smartwatch capaz de satisfazer qualquer tipo de utilizador.

Tome Nota
Huawei Watch D2 – €399
consumer.huawei.com/pt

Conforto Muito Bom
Monitorização Muito Bom
Autonomia Excelente
Construção Muito bom

Características Ecrã AMOLED de 1,82”, 480×408 p, 1500 nits (máx) ○ Resistência: IP68 ○ Funções: pressão arterial, frequência cardíaca, ECG, SpO2, sono (leve, profundo, total de horas dormidas, REM), stress ○ Conectividade: Bluetooth 5.2 ○ Microfone e colunas ○ Autonomia anunciada: até 6 dias (com função MAPA ativada) ○ Android e iOS ○ 48 x 38 x 13,3 mm ○ 40 g (sem a bracelete)

Desempenho: 4,5
Características: 5
Qualidade/preço: 3,5

Global: 4,3

No poema épico do século XXI, a tecnologia é o Deus, os semideuses são os venture capitalists de Silicon Valley e os heróis os tech bros Elon Musk, Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Bill Gates…

Na trama, a tecnologia é omnisciente, eficiente e por isso… inquestionável. Mas tecnologia é sempre sinónimo de progresso humano? Infelizmente, não.

Em fevereiro, o Presidente francês Emmanuel Macron anunciou 109 mil milhões de euros de investimento em Inteligência Artificial e é expectável que a União Europeia e/ou alguns dos seus Estados-membros venham a realizar anúncios semelhantes.

Para que tal investimento contribua positivamente para o futuro coletivo é fundamental atuar em dois planos.

As redes sociais de hoje (os novos aedos ou contadores de histórias da Grécia antiga) todos os dias nos “cantam” que Steve Jobs foi um génio e que sem a argúcia dos shark tanks de Silicon Valley, sempre hábeis a detetar as melhores ideias, não haveria progresso.

Steve Jobs teve o mérito de imaginar o iPhone, mas quem financiou a investigação que tornou o iPhone “smart” foi o contribuinte norte-americano, pois foi nos laboratórios estatais que se desenvolveram o GPS, o touch screen, a internet…

O capital de risco (venture capital) tem estratégias de saída de curto prazo (ou seja, entre o momento em que se investe e a venda, em média, decorrem 3 a 6 anos), por isso não existe incentivo para investir até que a rentabilidade do conceito esteja demonstrada (preferindo investir em empresas em que identificam capacidade de crescimento). Não fora a aposta do Estado na inovação e não existiria Facebook, iPhone, Tesla, Google.

Assim, o primeiro passo é permitir que o investidor Estado partilhe dos ganhos, para que com estes possa continuar a fomentar a inovação. Como Mariana Mazzucato defende em vários dos seus livros, tal deve ser alcançado via tributação dos lucros e partilha de ganhos. Parece simples…

A narrativa da importância dos investidores privados e a constante desvalorização do papel desempenhado pelo investimento público tem sustentado contínuas baixas de tributação dos lucros e uma intensa “guerra” entre Estados na busca de se tornarem mais atrativos ao investimento privado. A União Europeia deve por isso uniformizar uma taxa de tributação única do lucro e eliminar lacunas na lei que permitem a deslocalização “artificial” da sede das empresas.

Igualmente, importa reformular a forma como o Estado é remunerado pelo seu investimento na inovação. É frequente o Estado optar por realizar empréstimos ou garantir empréstimos bancários. Quando investe como acionista, regra geral, o Estado aceita vender a sua participação aos promotores a valores prefixados. Estes mecanismos privatizam ganhos e transferem para a esfera pública o risco de uma insolvência (o que em investimentos desta natureza é muito elevado). Empresas como a Tesla e a Apple beneficiaram de empréstimos garantidos pelo Estado, sem os quais não teriam sido viáveis. No entanto, o Estado nada ganhou com a gigantesca valorização das suas ações. Para a narrativa coletiva ficam apenas as empresas que correm menos bem e não foram capazes de reembolsar os empréstimos – apresentadas como exemplo da incapacidade do Estado de escolher os “campeões”.

Mas não chega mudar os termos em que o Estado está disposto a investir. O Estado deve assegurar que o investimento público apenas financia inovações que, de facto, contribuem para o progresso humano ‒ porque nem todo o desenvolvimento tecnológico é benéfico ou contribui para sociedades mais inclusivas e justas. Assim, não pode o Estado passar um cheque em branco ou limitar-se a avaliar a viabilidade financeira (a qual pode inclusive ser enorme). Deve questionar que problema resolve? Idealmente, o Estado deve fixar, desde logo, que problemas quer ver resolvidos. Que novos problemas pode a solução tecnológica causar? Quem ganha e quem perde com a nova tecnologia?

A decisão de investir deve ser condicionada pelas respostas, e nós, como cidadãos, devemos ser exigentes na análise que fazemos das opções tomadas.

Endeusamos a tecnologia, mas só questionando a sua utilidade e assegurando que a mesma serve o bem comum poderemos, como Ulisses, ultrapassar as tormentas desta viagem e chegar, em segurança, a Ítaca.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Em setembro do ano passado, quando o julgamento dos crimes de Mazan começou, Gisèle Pelicot enfrentou as primeiras sessões no tribunal de óculos escuros. A sua figura correspondia ao estereótipo de uma septuagenária francesa que, depois de se reformar, preferiu ir aproveitar a vida para a Provença: tinha uma imagem delicada e uma presença discreta. A mensagem, porém, contrastava com o retrato da “avozinha” suave. Era duríssima: Gisèle Pelicot não quis que o julgamento decorresse à porta fechada, como os seus advogados explicaram, não tinha motivos para se esconder e, sobretudo, não queria ficar trancada para o resto da vida num lugar onde também estavam os seus violadores.  

O caso Pelicot ainda demorou uns tempos a ultrapassar a escala nacional, mas acabou por ter uma repercussão planetária: transformada em heroína, Gisèle Pelicot foi eleita, no final de 2024, uma das mulheres do ano. Sempre dispensou protagonismos e mediatismos, mas nunca se coibiu de passar a mensagem: o sentimento de vergonha, associado às vítimas de violência sexual, deve ser transposto para o lado dos agressores. E quando terminou o julgamento do marido e dos restantes 50 homens que se sentaram no banco dos réus, Gisèle Pelicot já não usava óculos escuros. Proferida a sentença, sem raiva nem rancor, dirigiu-se a todas as vítimas de violação: “Quero que saibam que partilhamos o mesmo combate.”

Enquanto jornalista, escrevi várias vezes sobre Gisèle Pelicot cujo caso volto, agora, a recordar por causa de outro caso mais próximo de nós: a violação de uma adolescente de 16 anos, em Loures, a 12 de fevereiro, por três rapazes, com idades compreendidas entre os 17 e os 19 anos. Os suspeitos foram detidos no dia 24 de março pela Polícia Judiciária, mas entretanto libertados pelo juiz de instrução criminal, tendo ficado sujeitos a apresentações periódicas e com proibição de contactos com a vítima. O caso chegou à polícia após a rapariga ter ido ao Hospital Beatriz Ângelo e depois de os médicos, perante os ferimentos que apresentava, terem denunciado a situação. Conhecidos influencers no TikTok, os suspeitos estão indiciados por um total de 51 crimes, entre os quais, sequestro, violação e pornografia de menores.

O caso de Loures – que, no passado sábado, 5, motivou que várias centenas de pessoas se tenham manifestado em frente à Assembleia da República, em Lisboa, numa concentração com o lema “Violação não se filma, condena-se” – também é chocante pelo facto de o crime ter sido filmado e divulgado nas redes sociais. De acordo com o jornal Expresso, a rapariga terá começado por combinar um encontro com um dos influencers, perto da casa onde vive com os pais, em Loures. Apareceram, depois, os outros dois rapazes e levaram-na para a arrecadação de um prédio, onde ocorreu a violação. Um dos vídeos realizados pelos três jovens foi divulgado nas redes sociais e chegou às 32 mil visualizações. As imagens não revelavam a cara da vítima ou dos agressores, mas não deixavam dúvidas sobre o que aconteceu. Ninguém que tenha visto o vídeo na rede social onde foi partilhado apresentou o caso às autoridades.    

Cada caso de violação será sempre um caso, apesar das semelhanças que eventualmente se possam encontrar. Entre Mazan e Loures, há quilómetros e quilómetros de distância. Uma distância tão grande quanto a que separa os 16 anos da adolescente portuguesa dos 72 anos da avó francesa. Aproxima-as, por certo, a tragédia em que as suas vidas foram envolvidas. Mas a vergonha não lhes pertence: tem, definitivamente, de mudar de lado.

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