Durante a sua intervenção, Ana Claúdia Coelho, Sustainability and Climate Change Partner da PWC Portugal, abordou as questões da sustentabilidade associadas ao setor do Turismo. A oradora iniciou a sua ‘Short Talk’ com uma reflexão sobre os desafios legais que hoje existem relativamente à sustentabilidade, dado as novas legislações da União Europeia que surgem, com cada vez mais força. “Eu diria que o maior desafio será não transformar esta nova legislação num fardo, mas procurar olhar para este tema de uma perspetiva construtiva, de criação de valor, e pensar: Como é que nós vamos olhar para a legislação e transformá-la em algo de bom?”, refletiu.

Durante a sua apresentação, recorreu a vários dados do Economic Forum, de forma a ilustrar a relevância e pertinência do tema da sustentabilidade e alterações climáticas. Segundo os factos conhecidos, as preocupações ambientais em 2024 ocupam 4 do Top 5 de Evolução dos riscos globais a longo prazo.


“Nós temos um cenário preocupante de futuro que, na verdade, até está a acontecer mais cedo do que são os cenários [previstos]. E, portanto (…) o que queria deixar aqui é a mensagem que efetivamente há um tema e nós temos de olhar para este tema e procurar ação”, referiu.

Para a oradora, quando se fala em fatores ESG – sigla que surge do inglês Enviromental, Social e Corporate – estes dividem-se em pilares fundamentais de ação: o ambiental, o social e o Governance. Dentro destas áreas existem oportunidades, que ganham um maior destaque com a nova legislação europeia, que trará ao País novas possibilidades ecológicas ainda pouco exploradas. “Portugal não tem uma fiscalidade que incentive estas matérias”, explicou.

Ana Claúdia Coelho não tem dúvidas que o futuro do turismo passa por uma aposta cada vez mais na sustentabilidade. “Do ponto de vista do que são as preferências dos clientes, claramente, o futuro é um turismo sustentável. Quando falamos de qualidade e, se entendemos que qualidade tem a ver com o serviço que vai ao encontro da expectativa de um cliente, inevitavelmente, vai ter estes aspetos [da sustentabilidade] em consideração”, afirmou.

Atualmente associado a uma maior impacto ambiental e poluição – em muito devido à pegada gerada pelos transportes – espera-se que o aumento da consciencialização sobre a sustentabilidade impulsione o mercado de turismo sustentável.  

Segundo Ana Cláudia Coelho, existe, de facto, muita procura por alojamento eco-friendly, com cerca de 78% – dados de inquérito – de turistas a admitirem trocar algum conforto pela escolha mais sustentável. Contudo, o excesso de ofertas certificadas que existe no mercado coloca-se como um desafio à escolha dos turistas. “Há reconhecimento a mais. Temos de pensar: quando um turista se quer posicionar como sustentável, o que é que ele valoriza?”, questionou.

“Portugal encontra-se numa boa posição global, mas ainda temos espaço para melhorar, face a outros países”, concluiu.

Esta é a terceira edição das ESG Talks – iniciativa promovida pelo novo banco, pela VISÃO e pela EXAME, em parceria com a PwC.

Num tempo em que a investigação científica escasseava, os doentes de Parkinson eram aconselhados a não fazer qualquer exercício físico. As quedas (e o medo de cair) eram o principal entrave à mobilidade e os médicos preferiam manter sossegadas as pessoas que sofriam desta doença neurológica, causada pela degeneração de células cerebrais, afetando os movimentos. Porém, a Ciência tem vindo a demonstrar o contrário e o exercício começa a ser incorporado nas prescrições clínicas.

No Jumpyard Lisboa, um grande armazém com dezenas de trampolins, abertos ao público, vários doentes não dispensam este tratamento, que pode ser feito de uma a três vezes por semana. “É de exercício que estas pessoas precisam”, defende Catarina Godinho, fisiologista do exercício e fisioterapeuta especializada em Parkinson, que em 2021 ganhou um financiamento para esta intervenção comunitária. Os estudos de seguimento da intervenção reportam uma redução de 80% na dor, especialmente nas lombalgias, e um aumento significativo na autonomia, com francas melhorias no equilíbrio, na marcha e na velocidade.

Outro projeto-piloto, relacionado com esta patologia e igualmente desenvolvido por uma equipa do Instituto Universitário Egas Moniz, está a dar os primeiros passos e leva os mais novos (abaixo dos 55 anos) a fazer escalada.

Em queda amparada Nos treinos individuais com fisioterapeutas da Escola Superior de Saúde Egas Moniz, os doentes de Parkinson melhoram as capacidades motoras afetadas pela doença Foto: Marcos Borga

“Aqui não faz mal cair, ensinamos estratégias que ajudam nas quedas. Desafiamo-los cognitivamente e a nível motor e conseguimos que a doença não avance e se sintam bem após o treino”, explica a especialista, momentos antes de entrar no ringue maleável de mão dada com João Valença, 70 anos, um dos mais fiéis frequentadores das sessões. “Nunca mais tive dores desde que venho aqui, três vezes por semana”, confessa o doente.

Quem não sabe de que padece a meia dúzia de pessoas que se encontram a jogar num dos divertimentos, com a fisioterapeuta Inês Martins, pensará que, como os outros, estão a passar um bom momento, a saltar nos trampolins e a sentir-se mais leves, sem se dar conta de que se desafiam os limites da estabilidade e se ganha força e resistência.

Ao sair da zona dos insufláveis, Luís Leiria, 67 anos, nota que, à conta destes treinos intensos, já consegue virar-se melhor na cama. Há 14 anos, começaram os tremores e as dores na mão direita e só depois veio o diagnóstico. Um dos primeiros a aderir ao projeto BounceBack, Luís vem aqui semanalmente e, no ginásio da Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson, tem a intervenção individual, que inclui trabalho para casa, cumprido à risca. “Há uns bons anos que não caio”, nota, satisfeito.

As funções físicas e cognitivas parecem andar juntas

Isabel Henriques Neurologista

Aos 83 anos e a lidar com sintomas debilitantes há dez, o escritor Luís Oliveira fez um interregno de quase um ano nos treinos. Caminha, a medo, agarrando-se a Catarina, enquanto desce as escadas que o levam aos trampolins. Ela dá-lhe as mãos, olhos nos olhos, puxando-o com cuidado e, no chão, põem-se de gatas. Ele para, a fim de retomar o fôlego. Aquilo que uma criança faz naturalmente antes de saber andar é um enorme esforço para Luís, para quem a pausa forçada representou um retrocesso nos avanços conquistados nas aulas particulares.

Aqui reinam a calma e a paciência, e faz-se muita conversa motivadora, dando tempo aos doentes para descansar, após caminharem pelos colchões desportivos. Parece simples, mas o esforço é, para eles, mais exigente do que uma aula de ginásio. Enquanto Luís Oliveira luta para colocar um pé a seguir ao outro – caiu no fim de semana e piorou –, Luís Leiria desce a escada, devagar, no final da sessão, sem a ajuda de Inês Martins. Na sessão de grupo, houve treino com bola para estimular a coordenação, a atenção e reação e a mobilidade, uma atividade que também é social. Mexer-se de forma controlada é, por agora, o único meio de retardar a progressão da doença de Parkinson, já que os fármacos só tratam sintomas, e enquanto dura o efeito.

Exercitar a cognição

Há coisas que não podem faltar para os objetos funcionarem: carregar a bateria do telemóvel, por exemplo, ou atestar o depósito do veículo. O mesmo se passa com o nosso posto de comando: para se manter em forma, precisa do combustível certo, fornecido com regularidade. Estamos a falar da atividade física que, segundo a Carta Europeia do Desporto, é todo o movimento que envolve consumo de calorias acima da taxa metabólica basal – ou seja, a energia gasta em repouso, a manter funções vitais, como os batimentos cardíacos, a manutenção da temperatura corporal ou a respiração. Assim, qualquer atividade que visa manter ou aperfeiçoar “a condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados”, seja, ou não, organizada.

Durante muito tempo acreditou-se que, no início da idade adulta, quando o desenvolvimento do cérebro ficava concluído, se iniciava a perda neuronal, sem possibilidade de renovar estas células nervosas. Porém, nos anos 1990, a ideia foi destronada. Um estudo com ratos de laboratório mostrou que bastava correrem numa roda para se produzirem novos neurónios numa área específica do cérebro, o hipocampo, e assim se passou a associar a prática de atividade física ao funcionamento cognitivo.

Costuma dizer-se, a brincar, aos mais distraídos, que só não perdem a cabeça por estar ligada ao corpo. E está, de formas que só agora começam a ser estudadas. A relação entre atividade física e saúde cerebral é tão antiga quanto a Humanidade, por razões evolutivas. Recuando cerca de sete mil milhões de anos, houve um acontecimento marcante: os nossos antepassados começaram a ser bípedes, permitindo ao ser humano dedicar-se a novas tarefas – e fazer várias ao mesmo tempo (o multitasking não é novo!) –, o que representou exigências acrescidas para o cérebro.

A teoria foi divulgada num artigo da Scientific American, pelos investigadores Gene E. Alexander, diretor do Laboratório de Imagens Cerebrais, Comportamento e Envelhecimento da Universidade do Arizona, e David A. Raichlen, à frente do Laboratório de Biologia Evolutiva da Atividade Física da Universidade do Sul da Califórnia. No tempo em que eram caçadores-recoletores, os nossos antepassados precisavam de percorrer grandes distâncias de maneira rápida e intensificaram a atividade aeróbica. Estes mecanismos foram ganhando forma na parte superior do cérebro (córtex pré-frontal), onde se processam tomadas de decisão e outras funções cognitivas (o que justifica a designação de Homo Sapiens).

Menos sofá, mais ar livre

Hoje temos mais conforto, vivemos mais tempo e não dependemos do exercício regular e vigoroso para sobreviver. O problema é que os hábitos sedentários parecem vedar a possibilidade de manter e otimizar o desempenho cerebral, levando a que não se chegue a beneficiar das suas vantagens. Assim se explica que a atrofia cerebral e o declínio cognitivo que tendem a surgir durante o envelhecimento estejam ligados aos estilos de vida dos países desenvolvidos: ficar no sofá dá conforto, mas tem efeitos secundários.

Os resultados do Eurobarómetro indicam que mais de metade dos inquiridos (em oito países) nunca fazem exercício nem nenhum desporto, e Portugal lidera o pelotão (73%). 47% dos inquiridos disseram ficar sentados entre duas e cinco horas durante o dia (mais 4% do que a média europeia). Com isso, aumentam os riscos de problemas de saúde e a propensão para o chamado enferrujamento mental.

A Ciência tem-se encarregado de provar de que forma a atividade física preserva a função cerebral (ver infografia 8 Benefícios da Atividade Física no Cérebro) e, sendo fora de portas, melhor ainda. Quem já andou às voltas com um problema e a solução apareceu quando fez uma pausa para arejar sabe bem do que se trata. Duarte Araújo coordena o Centro Interdisciplinar de Estudo de Performance Humana (CIPER), na Faculdade de Motricidade Humana, e explica mecanismos que são acionados no processo: “A variabilidade do percurso e a diversidade da paisagem conduzem a um maior envolvimento, porque a atividade envolve o corpo inteiro e impede a cabeça de desligar do que se está a fazer.”

Trampolins O projeto BounceBack funciona no Jumpyard Lisboa e acolhe pessoas que sofrem de Parkinson. Está provado que o exercício físico é o único meio capaz de travar os avanços desta patologia neurodegenerativa Foto: Marcos Borga

Voltando ao caso da solução para questões difíceis que vem à mente enquanto o corpo se movimenta, a equipa do investigador alemão Gerd Kempermann, do Centro de Terapias Regenerativas, em Dresden, comparou o crescimento e a sobrevivência de novos neurónios no hipocampo de ratos adultos, num caso com exercício e no outro combinando-o com estímulos cognitivos. A conclusão, publicada há dois anos, num artigo da Frontiers in Neuroscience, foi promissora: a associação resultava numa produção aumentada de novos neurónios (neurogénese) no hipocampo.

Estimular as funções cognitivas e libertar neuroquímicos em movimento é mais eficaz num ambiente rico em estímulos e, por isso, uma opção mais atrativa face ao treino indoor (por exemplo, treinar no ginásio, numa passadeira com circuitos programáveis, ou em casa, sentado numa elíptica). Ainda vamos a tempo de imprimir movimento às nossas rotinas e desenferrujar os circuitos da “máquina”?

Neurónios em forma

Na comunidade científica é consensual a evidência de que o exercício voluntário aumenta a neurogénese no hipocampo, por causa da maior concentração de BDNF sérico, um fator neurotrófico que se acredita ter a função de mediar a formação de novas células nervosas e, com isso, promover melhorias no desempenho de tarefas cognitivas. Esta é a razão pela qual andar de bicicleta, nadar, fazer jogging, caminhar e jardinar têm vantagens face a outras atividades, uma vez que potenciam o aumento do fluxo sanguíneo no cérebro e tornam-no mais ágil.

No ano passado, a equipa da neurocientista Diana Karamacoska, da Universidade Southern Queensland, na Austrália, publicou uma meta-análise sobre o impacto do exercício físico em 646 adultos com sinais, objetivos ou subjetivos, de declínio cognitivo (fator de risco para a demência). Após submetidos a três sessões de exercícios semanais de 40 minutos, em média (aeróbico, de resistência ou corpo-mente), durante um mês, tiveram um desempenho cognitivo superior ao do grupo de controlo, o que se deveu, segundo os cientistas, ao aumento da atividade metabólica e da neuroplasticidade cerebral.

Quando convencemos as pessoas a criarem uma rotina, elas dizem-nos que ficam melhor

Marcelo Mendonça Investigador na Fundação Champalimaud

“As funções físicas e cognitivas parecem andar juntas”, afirma a neurologista Isabel Henriques, referindo-se aos efeitos positivos da prática de atividade física estruturada no corpo e na mente, citadas no estudo, que apontam ganhos funcionais, fisiológicos e moleculares. A médica sublinha “as mudanças cardiovasculares e na massa muscular, a par de mudanças nas ondas lentas do cérebro (delta e teta)”, sem esquecer “o aumento das trocas neuronais na barreira hematoencefálica, que ajudam o cérebro a eliminar substâncias de que já não precisa”.

No Hospital Lusíadas, em Lisboa, Isabel Henriques segue pessoas que se queixam de perdas cognitivas, sobretudo na memória a curto prazo. A atividade física faz parte do menu das soluções equacionadas na consulta. “Saiam à rua, porque estão a ajudar o cérebro a criar caminhos”, sugere a vários pacientes, contando, de antemão, com algumas provas de obstáculos: “As famílias são mais eficientes a organizar uma reunião à volta da mesa do que uma ida ao jardim; sugiro que vão na mesma, mas combinem meia hora a andar a pé antes da almoçarada.”

O segredo está no gozo

“Quando convencemos as pessoas a criarem uma rotina – ‘faça qualquer coisa, meia horita, duas vezes por semana’ –, elas dizem-nos que ficam melhor.” Marcelo Mendonça, investigador na Fundação Champalimaud, reconhece que estas intervenções implicam motivação e proatividade e constituem, por isso, um desafio para clínicos e pacientes. E exemplifica: “Um homem que não gosta do seu corpo e, ao entrar no ginásio, não se sente bem a mudar de roupa, desiste de fazer exercício.” Ainda assim, vale sempre a pena tentar e superar resistências, para estar “o melhor possível pelo máximo tempo que se conseguir”.

A prática de atividade física é tão importante como lavar os dentes, mas, para quem revira os olhos só de ouvir falar em métricas, ginásios ou treinos, está longe de ser considerada essencial. Saber que promove uma mente aguçada, que relaxa ou traz saúde e boa disposição não garante, per se, que se passe da intenção à prática sustentada.

Luís Cerca e Ana Costa
50 anos, personal trainer e cuidadora informal

Energia e foco

Os desportistas que ilustram a capa da VISÃO desta semana são o personal trainer Luís Cerca e a sua cliente Ana Costa. Ana percebeu que precisava de mudar rotinas quando começou a isolar-se, a sentir-se cansada com tarefas simples e a perder o bom humor. Há um ano a praticar exercício físico todos os dias num ginásio, não dispensa as aulas de balance dadas por Luís, as mais motivadoras. Depois de 45 minutos de aula, Ana vai para casa com muito mais energia e mantém o foco em cuidar do filho, de 23 anos, com necessidades especiais. O grande elogio vem da sobrinha, que lhe diz: “Estás melhor agora, aos 50 anos, do que quando eras mais nova.”

“Recomendar doses de exercício para melhorar certos parâmetros é uma ideia desajustada”, avança Diogo Teixeira, professor e investigador na Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Lusófona de Lisboa. O paradigma é outro: “Assumir que todo o movimento conta para reduzir o sedentarismo é uma clara inversão da prescrição de exercício feita nas últimas décadas.”

A relação entre a dose (quantidade, intensidade, frequência) de exercício e os resultados que pretende alcançar continua a existir. A diferença está no foco, que consiste em reduzir o comportamento sedentário e apostar em qualquer tipo de movimento que seja exequível e alinhado com as preferências de cada um. “Aquilo que a pessoa gosta de fazer vai pesar sempre mais do que atividades impostas ou predefinidas para determinada condição clínica ou de humor”, garante o especialista.

Dos 15 a 20 minutos de dança ou de outra atividade física mediada pelos vídeos do YouTube e afins aos minipasseios a pé – a solo ou com companhia – que quebram a sequência trabalho-casa (e vice-versa), tudo vale, pois “quanto menos exercício se faz, menor a predisposição para fazer”. Se esta experiência lhe soa familiar, Diogo Teixeira deixa uma nota: “Aos primeiros sinais de fadiga persistente, evite cair num ciclo que, mais tarde, será difícil de contrariar ou travar e descubra uma maneira de estar mais ativo.” E, acrescente-se, com (muito) gosto.

Exercício físico: todo o corpo ganha

Todos os sistemas do corpo humano beneficiam do combate ao sedentarismo, prevenindo e retardando o aparecimento de doenças

Se há pessoas para quem a prática de exercício físico é natural e geradora de prazer, ao estimular a produção de neurotransmissores responsáveis pelas hormonas do bem-estar (endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina), existe um outro grupo que abomina mexer-se, pela dificuldade e pela falta de motivação, sem perceber que as vantagens irão sempre superar o sacrifício.

O corpo humano não foi estruturado para estar tantas horas imóvel, seja sentado ou deitado. Quanto mais se movimentar, mais benefícios trará às componentes corporais que nos permitem viver e envelhecer muito mais saudáveis.

Antes de se passar à ação – e quanto mais depressa, melhor –, é preciso mudar o chip mental. Treinar o cérebro, primeiro, incutindo-lhe a urgência da mudança comportamental. Treinar o corpo, depois, com o objetivo de um coração mais saudável, ossos mais fortes, músculos competentes e doenças cada vez mais distantes.

Sistema Cardiovascular
Complexa e simples, assim é a circulação do sangue que leva os nutrientes e o oxigénio a todo o corpo, através dos vasos sanguíneos e do coração. Quando o coração aumenta de peso devido à deposição de fibras inertes, prejudica o efeito de contração do músculo. Torna-se menos eficaz como bomba que envia o sangue para a circulação, por isso as pessoas cansam-se mais.

Com o exercício aeróbico, o que é praticado “com oxigénio”, aumentam a frequência cardíaca e a quantidade de oxigénio usada pelo corpo. É a respiração que controla a quantidade de oxigénio que chega aos músculos para ajudar a queimar energia e se movimentar. Caminhadas, ciclismo e natação são boas práticas aeróbicas que ajudam a reduzir o risco de doenças cardíacas, diabetes, pressão arterial alta e colesterol e triglicerídeos altos.

Sistema respiratório
Decisivo para nos mantermos vivos ao produzir a energia necessária do corpo – permitindo a entrada do oxigénio e a saída do dióxido de carbono –, o sistema respiratório é prejudicado, sobretudo, quando a função pulmonar diminui, o que acontece quando o muco que nos livra das infeções bacterianas fica menos ativo. À medida que a caixa torácica se vai calcificando e a amplitude de movimento se reduz, a pessoa respira cada vez pior e o aumento da gordura abdominal também prejudica a respiração pelo diafragma. Por todos estes motivos, o exercício físico é imprescindível também para fortalecer a musculatura respiratória e aumentar a capacidade pulmonar, evitando ter apneia do sono, fadiga crónica, asma e lidar melhor com coronavírus, como o SARS-CoV-2.

Retardar o envelhecimento
O envelhecimento é uma falha progressiva dos processos metabólicos e cada órgão envelhece ao seu ritmo. De forma gradual, existirá deterioração das funções biológicas e fisiológicas. Não sendo possível evitar o envelhecimento físico, atrasamos a sua aceleração, prolongando os anos de vida. E, quanto mais ativo for o estilo de vida, com a prática regular de exercício físico incluída, melhor. Queimar calorias, tonificar os músculos, puxar pelo coração, acrescentar carga e transpirar são os melhores aliados da idade.

Ossos
O excesso de peso e as alterações de postura aumentam (e muito) a probabilidade de vir a sofrer de dores, como lombalgia (a dor nas costas mais frequente), cervicalgia, dores nos ombros (unilateral e associada ao braço que trabalha de forma mais estática). Sempre que aumenta o sedentarismo, há diminuição da massa muscular e ganho de tecido adiposo e isso reflete-se noutras dores articulares.

Os exames à massa óssea, a densitometria óssea, podem começar a ser feitos antes dos 65 anos e antes da menopausa, e não quando alguém já tem osteoporose. São os exercícios de força e os que usam o próprio peso corporal, como flexões, burpees, prancha, agachamento e lunge, que mais efeito têm no reforço dos ossos.

Músculos
O músculo é um órgão como o fígado, os pulmões, o coração ou o cérebro, que também segrega substâncias e para isso só tem de ser ativado e trabalhado. O tecido adiposo dos músculos que não se mexeram pode ser mais inflamatório e libertar mais substâncias pró-inflamatórias do que o dos outros, porque a contração muscular liberta substâncias anti-inflamatórias, as mioquinas.

A partir dos 50 anos, perde-se 1% a 2% de massa muscular, daí para a frente 1,5% ao ano de força muscular e 3% dos 60 anos em diante. Quanto maior for a capacidade de preservar a massa muscular, maior será a independência física das pessoas. Por isso, associar o treino de força à atividade física semanal é a melhor receita para preservar a massa muscular.

Metabolismo
Quando as principais consequências do sedentarismo surgem em simultâneo – obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, aumento dos triglicerídeos e baixo nível do “bom” colesterol, isso resulta na síndrome metabólica, aumentando muito o risco de doença cardiovascular, seja enfarte ou acidente vascular cerebral.

É a contração regular dos músculos que ativa a circulação da linfa, responsável pela eliminação de toxinas, bem como pela produção de mioquinas (tipo de citocinas, proteínas de sinalização) responsáveis pelo ponto de equilíbrio do metabolismo e da inflamação. Sem contração muscular, acumulam-se toxinas que derivam em doenças da toxicidade, como cancro, e doenças crónicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2.

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Palavras-chave:

A vida são dois dias e um deles vive-se sentado. Podia ser uma piada daquelas que arrancam um sorriso amarelo, mas se avaliarmos bem o nosso comportamento ao longo de um dia, o mais certo é constatar que durante boa parte do tempo de vigília é de imobilidade (só a cabeça e os dedos nos ecrãs e teclados é que parecem andar a mil).

Mas não para Márcio Moreira. Aos 43 anos, as manhãs dos dias úteis começam na oficina, onde trabalha por conta própria, e acabam, invariavelmente, no ginásio, onde faz treinos de alta intensidade em aulas de grupo e outros exercícios aeróbicos. Haja o que houver, este tempo de atividade é sagrado. Estamos diante de um homem que também pratica atletismo – fez a última meia maratona (21.1 kms) de Lisboa e prepara-se para correr os 42,195 kms da maratona em Sevilha, no próximo ano – mas que diz, sem pestanejar: “Nunca fiz nada disto quando era adolescente, só comecei há um ano.”

Márcio Moreira
43 anos, eletrotécnico

A alternativa aos fármacos
O exercício físico não fazia parte dos hábitos deste pai de dois, mas quando a filha teve um problema oncológico, ele entrou num estado de ansiedade severa, com dores, tensão muscular, ataques de pânico, e nem queria sair de casa. O médico disse-lhe que teria de voltar aos fármacos se não fizesse desporto. Experimentou, melhorou a olhos vistos, faz treinos diários no ginásio e corre por gosto.

A relação de amor com o desporto tem uma história que, como as de encantar, teve sustos. Quando soube que a filha tinha um problema oncológico, ficou devastado: “Nenhum pai conta com isto; entrei num estado de ansiedade severa”, recorda.

Vieram as dores no peito, no estômago, a tensão muscular e os ataques de pânico. “A minha bitola de medos aumentou drasticamente e ia muitas vezes à urgência.” Assim se passaram dois anos e meio, com queixas somadas que não se refletiam nos exames médicos. Numa das consultas, sugeriram-lhe que fizesse natação e inscreveu-se no ginásio que a irmã frequentava, mas nada parecia funcionar para o pai de dois: “Os estados depressivos e ansiosos destroem-nos. Era insustentável ficar no sofá, não querer conviver, deixar de fazer o que apreciava. Durante uns meses foi preciso tomar fármacos.”

Ao iniciar o desmame, o médico de família avisou: se Márcio não fizesse desporto, poderia voltar aos químicos. “Aí é que deixei de ser sedentário”, lembra. Foi importante ter alguém que conhecia no ginásio para começar e ao frequentar as aulas de grupo começou a alinhar nas saídas organizadas para uma corridinha ao fim de semana. “Nunca gostei de correr por gosto até ao dia em que experimentei”, assume. Um ex-sedentário sorridente e com olhos postos na maratona é obra, mas vale mesmo a pena: “O treino é como um tratamento introspetivo, a mente fica mais clara e cumprir a meta estipulada também é muito bom, os efeitos são quase imediatos.”

Não cura, mas ajuda

A atividade física parece ter um impacto mais favorável do que se supunha. Na comunidade científica, começa a olhar-se para o exercício como catalisador de bem-estar neuropsicológico e a admitir que seja uma estratégia terapêutica no combate à doença mental. Atesta-o um estudo divulgado em fevereiro no The British Medical Journal e liderado por Michael Noetel, da Escola de Psicologia da Universidade de Queensland, na Austrália.

A meta-análise de 218 estudos randomizados, envolvendo 14 170 pessoas com depressão major, permitiu demonstrar que a prática de vários tipos de exercício conduziu a uma redução moderada dos sintomas, face aos grupos de controlo. A caminhada ou corrida, o ioga e o treino de força foram as modalidades mais eficazes e com ganhos aumentados em função da intensidade prescrita. Os autores concluíram que estas e outras modalidades (como o qigong ou os exercícios aeróbicos mistos) podem tratar a depressão, a par dos antidepressivos e da psicoterapia.

Mas há um senão, alerta o psiquiatra e investigador Pedro Morgado. “Nem todos os estudos são totalmente cegos, como nas pesquisas com fármacos (tomam um placebo sem saber, mas no caso do exercício sabem), o que influencia os resultados.”

Embora reconheça que “os mecanismos cerebrais ativados pela prática de exercício físico tendem a acelerar e a potenciar o tratamento de doenças psiquiátricas”, o médico entende que “ainda há pouca evidência para prescrever” e fala em cautela, pois “incentivar a atividade física a alguém numa fase em que sente mais incapacidade ou falta de energia pode aumentar a culpabilidade, a ruminação e a baixa autoestima”.

Além disso, “a atividade física ajuda, mas não trata a doença”, assegura o professor da Escola de Medicina da Universidade do Minho, valendo-se dos resultados do estudo longitudinal feito pela sua equipa durante a pandemia: “Na fase mais crítica, uma hora diária de exercício, em média, teve efeitos positivos na redução da ansiedade, da depressão, do stresse e na melhoria da qualidade de vida.” Em 2022, só houve ganhos na última destas dimensões. “No primeiro caso, os sintomas foram reativos face ao que estava a acontecer; no segundo, só quem tinha doença os teve, ou seja, o exercício não teve tanto impacto”, nota o investigador.  

Estamos, ainda, perante o velho dilema “Prozac ou Adidas”. Basta lembrar um artigo recente divulgado na Molecular Psychiatry (do grupo da Nature) que gerou algum estrondo ao questionar a legitimidade de reduzir a depressão a baixos níveis de serotonina. De facto, adianta Pedro Morgado, “a teoria não explica completamente a existência da doença na sua diversidade e nas suas manifestações clínicas”, mas sublinha: “Os antidepressivos são eficazes, pois aumentam a serotonina em circulação ou favorecem a neuroplasticidade neuronal.”

Se um corpo em movimento é tão vital como os remédios no combate à depressão, temos um caso sério: “Gastam-se muitas horas no trabalho, nas deslocações e em tarefas domésticas e familiares. O sedentarismo está ancorado em fatores culturais e estilos de vida.” E basta olhar para a infografia que publicamos nestas páginas para ver como os portugueses adoram o sofá (73% afirmam nunca fazer exercício, a maior percentagem da Europa!).

As descobertas científicas, per se, não mudam hábitos, mas são um convite a explorar rotinas sãs, com a noção de ir bem a tempo. Há quatro anos, um artigo da Expert Review of Neurotherapeutics mostrou que a adaptação de exercícios aeróbicos como o treino de alta intensidade revelou ter um papel importante na estabilização do humor de pacientes com doença bipolar, por melhorar a aptidão cardiorrespiratória e a libertação de neurotrofinas (e seus efeitos ansiolíticos e antidepressivos).

Diogo Teixeira, docente na Universidade Lusófona e um dos autores do artigo, sublinha que “mais do que recomendar x minutos de treino de força ou x minutos de treino aeróbico, importa que cada um encontre, nas suas circunstâncias, o que se adequa a si”. 

Um calmante e uma caminhada

Nas receitas, o médico psiquiatra Jorge Mota Pereira faz questão de incluir simbolicamente o exercício físico moderado, associando-o ao tratamento farmacoterapêutico. “Aconselho sempre, a não ser que os pacientes tenham alguma limitação física, e saliento que a medicação atua mais rapidamente e faz um efeito superior se a pessoa conseguir caminhar, pelo menos, 30 minutos por dia, cinco vezes por semana”, aponta. Há que manter um certo ritmo e uma certa velocidade (cerca de 5 km/hora), o suficiente para se sentir o coração a bater mais depressa e a respiração mais ofegante. Esta foi a medida a que chegou em 2011, quando conduziu um estudo pioneiro em Portugal que avaliou a eficácia da atividade física no tratamento de depressões graves, resistentes aos fármacos. A resposta foi considerável: 25% dos pacientes alcançaram a remissão e outros tantos melhoraram significativamente a sua qualidade de vida.

“A caminhada é das coisas que dão mais sensação de prazer imediato, pela libertação instantânea de endorfinas, potentes analgésicos naturais, e neurotrofinas, que contribuem para a sobrevivência e para a criação de neurónios. Ao fim de duas a quatro semanas de prática regular, conseguimos medir uma modificação dos neurotransmissores cerebrais, nomeadamente da serotonina, da noroadrenalina e da dopamina, os mesmos que são alterados com os antidepressivos”, revela o psiquiatra. Os efeitos psicológicos também não são de descartar, já que podem ajudar o doente a sentir-se melhor e a distrair-se.

Com este trabalho, conquistou o primeiro prémio no Congresso Nacional de Psiquiatria e foi citado inúmeras vezes a nível internacional, nomeadamente do Journal of Psychiatric Research, uma das publicações mais conceituadas da especialidade. Atualmente, indica, “muitos estudos mostram que é difícil provar que a psicoterapia é mais eficaz do que o exercício físico, estatisticamente não há diferenças”. Jorge Mota Pereira mediu o efeito das caminhadas, mas acredita que outras atividades, de preferência agradáveis para o paciente, desde a hidroginástica à dança, também são benéficas.

Para Ana Soares, 69 anos, o efeito das idas ao ginásio, como coadjuvantes da farmacoterapia, foi quase imediato. “Foi impressionante, comecei a melhorar substancialmente uma semana depois”, conta a rececionista, a viver em Olhão. A luta contra a depressão arrastava-se há vários anos, fruto do excesso de trabalho e da viuvez precoce. “Estava muito em baixo, tinha tanto para fazer que já não conseguia dormir e não me apetecia fazer nada, nem cumprir com os cuidados mínimos, como tomar banho”, conta.

A única resposta que tinha dos psiquiatras do Algarve era o aumento da medicação. “Os calmantes davam-me muita sonolência, passava o tempo na cama, não queria incomodar ninguém e chorava muito”, recorda Ana. Quando, há cerca de dois anos, ouviu na televisão Jorge Mota Pereira e o testemunho de uma das suas pacientes sobre os benefícios das caminhadas, resolveu procurá-lo. Seguiu à risca o guia de tratamento e inscreveu-se num ginásio. Atualmente, já faz uma hora de passadeira, cinco dias por semana, e o acompanhamento por um personal trainer tem-na ajudado a manter o foco. “A família ficou admiradíssima, diz que pareço outra. Ganhei alegria de viver e fisicamente sinto-me muito bem, o que também fez com que melhorasse a autoestima”, reconhece.

É também acompanhada por um personal trainer que encontramos Ana Costa. Antes que lhe fosse diagnosticada depressão ou algo mais grave, Ana tratou de ir alimentar o corpo, de modo a que a mente também respondesse ao estímulo. Mãe de um jovem de 23 anos com necessidades especiais, sentia-se cansada ao fazer trivialidades, a perder o bom humor e a isolar-se cada vez mais.

Até ao nascimento do filho, sempre teve uma vida profissional ativa na indústria farmacêutica. Ainda tentou conciliar ser cuidadora informal com outras profissões, mas tornou-se difícil e há oito anos deixou de trabalhar por completo. “Temos de cuidar de nós. Se eu não estiver bem, também não consigo cuidar de ninguém”, pragmatiza Ana Costa.

Há um ano, começou a ir ao ginásio todos os dias, preferindo o final da tarde, especialmente as aulas de quarta-feira orientadas por Luís Cerca. É assim que ganha motivação para continuar a praticar exercício: “A maneira de ser e de estar do Luís e a maneira como nos fala fazem-me querer voltar às aulas.” “Mas nada supera a força de vontade individual”, sublinha o personal trainer. 

Depois de 45 minutos de aula, Ana Costa vai para casa cansada e com muito mais energia. Quem a conhece bem, como o marido, diz-lhe que está sempre com pilhas novas e a sobrinha gosta de a elogiar: “Estás melhor agora, aos 50 anos, do que quando eras mais nova.”

Soluções à medida

“As mulheres e os profissionais da geração X [nascidos entre 1965 e 1980] têm uma prática de exercício físico menos saudável, abaixo dos 150 minutos semanais de exercício moderado a vigoroso recomendado pela Organização Mundial da Saúde”, afirma Tânia Gaspar, coordenadora do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis. Baseando-se nos resultados de uma investigação com mais de 4 500 participantes, a psicóloga constata que quem pratica mais exercício físico tem menos riscos psicossociais no trabalho relacionados com a saúde mental, ou seja, “menos burnout, maior envolvimento e competências de gestão de stresse”. No sentido inverso, menos exercício reflete-se em “hábitos de sono, e alimentares, menos saudáveis e no aumento do consumo de tabaco, álcool e medicamentos psicotrópicos”.

Neste ponto – e estando ou não profissionalmente ativo –, o desafio é quebrar o ciclo. Quem acorre às consultas da psiquiatra Maria Moreno sabe que a atividade física adaptada a cada caso é uma opção a ser discutida, a par de outras medidas, na hora de lidar com problemas de saúde mental. “Alguém ansioso, com preocupações ruminantes, pode beneficiar da modalidade de step, que envolve coordenação motora e ‘impõe’ a mudança de registo durante a prática”, ilustra. Se sofrer de depressão, estiver de baixa e com tendência a ficar na cama o dia todo, “é preciso criar horários e propor, por exemplo, duas caminhadas diárias durante uma hora”. Quando o estado depressivo se manifesta em isolamento e o círculo de amigos começa a encolher, “posso recomendar danças latinas três vezes por semana, pois vai socializar e libertar neurotransmissores”.

A medicação faz um efeito superior se a pessoa caminhar, pelo menos, 30 minutos por dia, cinco vezes por semana

Jorge Mota Pereira Psiquiatra

É fundamental escolher a atividade certa, alinhada com a pessoa e “criar rotinas rígidas, por estarem alteradas, e flexibilizar depois”, observa a especialista. Há mais trabalho e menos tempo? É aí que é preciso insistir, “ir mais ao padel ou ou à dança, por exemplo, evitando chegar a situações como o burnout”.

Noutros casos, como a “perturbação angodepressiva, que inclui sintomas ansiosos e depressivos, pode ser necessário criar um espaço diário que seja só da pessoa”, esclarece Maria Moreno. Por fim, queixas depressivas associadas a condições clínicas (osteoartrose, por exemplo) também podem ser debeladas com movimento: “A hidroginástica, para reforço muscular e da mobilidade na água, também promove a autoestima.” 

Menos é mais

“O problema não é a intenção, é o passar à ação.” A máxima é de Luís Cerca, do CIDEFES – Centro de Investigação em Desporto, Educação Física, Exercício e Saúde, da Universidade Lusófona, ciente do que sucede no País. “Temos 700 mil pagantes mas não praticantes”, constata, baseando-se nos dados da Portugal Activo – Associação de Clubes de Fitness e Saúde. Se pegarmos no Eurobarómetro e nas recomendações da Organização Mundial da Saúde, “só 4% conseguem cumpri-las”, assume o professor universitário, que se pauta pelo lema “menos é mais”.

Como é que alguém se convence a ficar mais ativo em abono da sua saúde mental? “Apostando numa prática de que goste e que satisfaça as suas necessidades psicológicas básicas”, avança o professor de fitness, destacando “a competência, a autonomia e a relação”. Esta última conta muito na hora de aderir à nova rotina e de a manter, quer seja “em modalidades mais enérgicas e vibrantes ou noutras, que fazem um dial down ou que se praticam pelo prazer e pelos afetos da prática em grupo”.  

Rosário dos Santos
47 anos, operadora de supermercado

A arma do Pilates
A depressão é uma doença que não se trata com leveza, mas o desporto tem sido uma ajuda preciosa para melhorar a autoestima. “Sabia que precisava de Pilates, não só por todos os benefícios físicos, e também para ter uma melhor postura, mas porque iria ajudar-me a nível psicológico, pelo facto de me concentrar na respiração e me manter focada”, diz.

Rosário dos Santos, 47 anos, operadora de supermercado, adora Pilates. “Pratico atualmente Pilates clínico, duas vezes por semana, em aulas de grupo, na Hey Life Clinic, na Parede. Como já tinha praticado anteriormente, sabia que precisava de Pilates, não só por todos os benefícios físicos, e também para ter uma melhor postura, mas porque sei que iria ajudar-me a nível psicológico, pelo facto de me concentrar na respiração e me manter focada.” Quando sai da aula, sente uma leveza que traduz na frase: “Fico muito menos stressada e parece que me saem dez anos de cima.” Aliado a isso, sente menos dores na coluna e ganha uma maior energia para ir trabalhar.

O diagnóstico de depressão coincidiu com o momento do nascimento do filho Nuno Daniel, há 25 anos. Mãe solteira, passou por uma gravidez e por uma separação, em simultâneo, o que veio contribuir para a doença. A nível profissional, também teve momentos difíceis e, a dada altura, procurou o conselho da sua médica de família, que lhe recomendou a toma de antidepressivos quando deixasse de amamentar.

Mais tarde, através de uma médica da empresa onde trabalha, conseguiu fazer a desabituação da medicação que tomou durante 12 anos, com vigilância médica. Chegou a pesar 106 quilos e o aumento de peso também contribuiu para a degradação do seu estado emocional. Foi então que optou por procurar alternativas em termos de autocuidado. “Eu sei que a depressão não desaparece por si só e que tenho de aprender a lidar com ela.”

Antes de o exercício físico entrar na sua vida, Rosário tinha “a autoestima muito em baixo, não sabia estar sozinha e sentia um vazio que era difícil compensar. Tinha uma grande necessidade de aprovação e de pertencer ao mundo de alguém. Atualmente, gosto muito do meu espaço e de estar comigo mesma.” A enfrentar um novo desafio profissional, olha para si e para todo o caminho que percorreu e tem uma certeza: “Cheguei ao patamar da minha vida onde gostaria de estar.”

Uma forma de terapia

Quem cresceu num tempo sem telemóveis e brincava na rua, subia às árvores, cultivando a liberdade de movimentos pela vida fora, exercitar-se é como respirar. “A cidade é o meu ginásio”, afirma o homem que, aos 65 anos, se desloca de bicicleta nas ruas de Lisboa e é um adepto do hóquei. Nada levaria a crer que, há poucos anos, Eliseu Pinto de Almeida, arquiteto e urbanista, fosse ao tapete. “Estava no cinema com a namorada que tinha na altura e sofri um ataque de pânico”, recorda. Nos exames que fez não se encontrou nada. Os “momentos maus”, de abatimento, a ensombrar os seus dias, foram atenuados com a ajuda temporária dos fármacos prescritos na consulta hospitalar. Hoje, enumera alguns fatores que terão levado à fase depressiva: “Naquela altura fazia menos desporto, deixei de trabalhar por conta de outrem desde a pandemia, não ganhava concursos e a relação acabou, mas continuamos a ser colegas e amigos.”

Eliseu Pinto de Almeida
65 anos, arquiteto e urbanista

O prazer em duas rodas
Se a cidade é o seu ginásio, o desporto funciona como terapia. Deslocar-se de bicicleta dá-lhe imenso prazer, tal como a adrenalina dos jogos de hóquei, duas vezes por semana. Recorreu a fármacos quando teve ataques de pânico e andou deprimido, mas o exercício físico e o contacto com os outros é que lhe dão ânimo e satisfação com a vida.

Eliseu, que corre por gosto nos caminhos do voluntariado há largos anos, acredita que boa parte das frustrações que sentiu foi “curada” com a prática de exercício. Faça chuva ou faça sol, é vê-lo pedalar sem ligar às métricas (estima que sejam 15 a 20 quilómetros por dia): o vento na cara, as sensações geradas pelo esforço físico e o contacto com os outros fazem-lhe muito bem. “O desporto é a minha terapia”, acrescenta, referindo-se ao hóquei, que joga duas vezes por semana. “É forte e com muita adrenalina, que me dá satisfação”, conclui.

“Pessoas que já foram fisicamente ativas e sentiam que isso funcionava como um medicamento para alívio do stresse ou da tristeza, por exemplo, aderem melhor”, afirma Cristiano Figueiredo, médico de família na Unidade de Saúde Familiar da Baixa, em Lisboa.

Os mecanismos cerebrais ativados pelo exercício tendem a acelerar o tratamento de doenças psiquiátricas

Pedro Morgado Psiquiatra e investigador

Mais difícil é combater a resistência de quem é aconselhado a exercitar-se para ajudar na recuperação de problemas, físicos ou psicossociais, e nunca se exercitou antes. Para o também cocoordenador do projeto de Prescrição Social dos Cuidados de Saúde Primários da Unidade Local de Saúde de São José (com a assistente social Andreia Coelho), a solução passa por facilitar o acesso a programas comunitários adaptados às necessidades das pessoas e motivá-las.

Acessível, potencialmente gratuita e sem efeitos secundários para a maior parte das pessoas, “a atividade física é uma alternativa e um complemento ao tratamento de perturbações mentais”. É a principal mensagem do livro Atividade Física e Saúde Mental (FFMS), de Adilson Marques, professor e investigador na Faculdade de Motricidade Humana (ver entrevista). Um pouco por todo o País, começa a ganhar-se consciência desta mais-valia, que se traduz em iniciativas e programas comunitários.

Mas ainda não chega para mudar culturas enraizadas. Nem o hábito do ansiolítico. Talvez com mais exercício não fôssemos os maiores consumidores europeus deste tipo de remédio. 

*com Cláudia Pinto, Joana Loureiro e Sónia Calheiros

Adilson Marques

Investigador e docente na Faculdade de Motricidade Humana e autor do livro Atividade Física e Saúde Mental (Fundação Francisco Manuel dos Santos)

“Exercícios moderados de musculação têm um efeito protetor face à depressão”

Foto: Marcos Borga

Tem-se dedicado ao estudo da ligação entre um corpo ativo e a saúde mental. O que concluiu?
A elevada prevalência de pessoas com perturbações mentais, sobretudo depressivas, deixou-me curioso e levou-me a querer perceber se a atividade física tinha um efeito protetor, ou até facilitador, no tratamento destes problemas. Num trabalho publicado no European Journal of Sport Science (2021), descobrimos que, mesmo em pequenas doses semanais, a atividade física contribui para reduzir sintomas depressivos.

O que distingue a atividade física do exercício?
A atividade física envolve gasto de mais energia do que a consumida em repouso; já o exercício físico é estruturado, tem uma meta e um plano de treino para melhorar a aptidão física, que pode incluir várias dimensões, sejam a flexibilidade, a capacidade cardiorrespiratória, o equilíbrio ou a força.

Qual a forma de avaliar a intensidade, a fim de saber se é leve, moderada ou vigorosa?
Quando a respiração fica alterada, fazendo o teste da fala: se conseguir falar ou cantar enquanto caminha com outra pessoa, a atividade é leve. Se a conversa é fluida, mas não dá para cantar, é moderada. E se correrem a dez quilómetros por hora, não conseguem nenhuma das coisas porque interfere na respiração e se cansam mais depressa, é vigorosa.

Como se mede a aptidão física?
Com o teste de preensão manual. Usa-se um instrumento que mede a força em quilogramas: basta pressionar o instrumento com uma mão, depois com a outra, e quantifica-se. Participámos num estudo com dados transversais de adultos com 50 e mais anos, em 18 países, e observámos que existia uma relação inversa entre aptidão física e queixas depressivas. A partir do meio da vida, exercícios moderados de musculação para treinar a força têm um efeito protetor face à depressão.

Há modalidades que façam mais sentido para queixas psicológicas específicas?
Ainda não dispomos de estudos experimentais para responder a isso. De um modo geral, há ganhos a vários níveis. Se uma pessoa gosta de dança, ou de futebol, e os pratica regularmente, isso vai trazer-lhe satisfação, que resulta na libertação de endorfinas. Além disso, permite-lhe socializar, o que ajuda muito no caso da depressão e de outras condições clínicas.

Quem ganha mais em estar fisicamente ativo ou em praticar desporto para “vitaminar” a mente?
Todos ganham em estar ativos, independentemente da idade, do sexo ou de outras variáveis demográficas. No estudo longitudinal, com bases de dados europeus de quase 30 mil adultos, podia ser uma hora semanal ou distribuída ao longo dos dias da semana.

Que atividade pode recomendar que ajude a prevenir a depressão ou a ter um cérebro menos deprimido?
Depende de cada caso. Andar na praia, por exemplo, é uma atividade física leve, mas, por ser contemplativa, é propícia a ruminações. Uma aula de dança pode ser mais indicada para se alhear do estado depressivo e ter momentos de escape e de prazer. São só hipóteses, porque faltam mais estudos. C.S.

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Já nos habituámos, infelizmente, a que a Justiça seja lenta. Com tempos de espera e de decisão que escapam a qualquer compreensão racional. E, ainda por cima, com a agravante dos atrasos nas investigações e nos processos judiciais nunca serem devidamente explicados – o que só faz alimentar as mais variadas teorias da conspiração e, com isso, agravar o descrédito sobre uma instituição que devia ser um dos pilares de confiança do regime democrático.

Ninguém no seu perfeito juízo exige que a Justiça seja supersónica e não ponderada. Mas não pode ser continuamente lenta – seja por inércia, por ninguém lhe exigir urgência, seja por, no limite, os seus agentes e protagonistas nunca serem devidamente responsabilizados pelos atrasos, os protelamentos e os mais diversos truques ao alcance de quem sabe manejar leis.

Mais do que quaisquer considerações, são os factos o mais importante. E há uma realidade que nos deveria sobressaltar: os 199 dias que António Costa teve de esperar, desde que apresentou a sua demissão a 7 de novembro de 2023, até ser ouvido pelo Ministério Público, a 24 de maio de 2024. Com uma agravante: o ex-primeiro-ministro só foi agora ouvido no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) porque, a 2 de abril, dia em que abandonou oficialmente o cargo de chefe de Governo, encarregou o seu advogado de exigir a sua audição, na qualidade de suspeito. Mesmo assim, apesar de ter feito o pedido com urgência, teve de esperar ainda 52 dias até ser ouvido.

O que se conhece do resultado dessa audição é mais do mesmo que foi ocorrendo ao longo dos 199 dias anteriores: apesar de continuar a ser apontado como suspeito, o Ministério Público não o declara arguido e nem sequer apresenta dados que possam justificar aquilo que ficou escrito no célebre último parágrafo do comunicado da Procuradoria-Geral da República, a 7 de novembro, que ditou a queda do governo. Com outra agravante: até ao momento, todos os juízes a quem o caso foi apresentado desmontaram as suspeitas uma por uma, e deixaram duras críticas aos métodos e conclusões da investigação.

É verdade que já nos habituámos a que a Justiça seja lenta, mas estes 199 dias deviam exigir-nos um sobressalto. Em nome até da própria Justiça: cada dia que passa, sem explicações nem justificações, é mais uma parte da credibilidade da Justiça que se vai perdendo. E, com isso, não se prejudica apenas quem vê o seu nome atirado para a lama. Nem quem se esconde atrás de muros, que considera serem inatacáveis. Acabamos por perder todos. Porque um País que perde a confiança na sua Justiça, que deixa de acreditar nas instituições que deveriam ser imunes a qualquer suspeita, ficará muito mais frágil para enfrentar os desafios atuais do mundo. E a sua democracia, a partir desse momento, ficará também à mercê dos que a querem destruir.

A defesa da democracia é, precisamente, uma das grandes questões das próximas eleições europeias. O que está em jogo é a necessidade de aperfeiçoar um sistema baseado na solidariedade, na justiça social, na liberdade de expressão e de circulação – em vez de o tentar destruir por dentro. É também a urgência de procurar preservar uma Europa que se distingue, internacionalmente, através dos seus princípios humanistas e valores de respeito pelos direitos humanos – e não voltar a ser um espaço fechado, com fronteiras que, como a História demonstrou, potenciam os nacionalismos e as guerras. E, ainda, uma Europa que devia liderar o mundo no combate às alterações climáticas – sem hipotecar o grande desafio do nosso futuro coletivo, em nome de interesses imediatos e daqueles que resistem sempre ao progresso.

Os valores em que a União Europeia cresceu e se desenvolveu estão agora sob ameaça declarada de uma coligação dos partidos populistas, que têm sabido capitalizar o descontentamento das populações face às dificuldades do Estado social, dos novos constrangimentos que atingem os serviços públicos, por causa, nomeadamente, da transformação demográfica no Velho Continente. É importante que a campanha eleitoral seja esclarecedora sobre o que está em jogo.

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O acordo de cooperação e segurança assinado esta tarde, entre o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, prevê o compromisso de fornecer a Kiev apoio militar de pelo menos 126 milhões de euros este ano, incluindo contribuições financeiras e em espécie.

“Portugal contribuirá com apoio militar adicional para a Ucrânia, incluindo aquele a acordar no quadro da União Europeia, da NATO e de outros fora internacionais relevantes”, lê-se no acordo, válido por 10 anos.

“Desde 2022, Portugal apoiou de forma abrangente a Ucrânia, bilateralmente e através da União Europeia e da NATO, através do fornecimento de equipamento militar letal e não letal, incluindo carros de combate Leopard 2A6, sistemas de veículos aéreos não tripulados (UAV), veículos blindados de transporte de pessoal M113, veículos blindados de socorro e evacuação médica M577, e outro equipamento militar. Portugal é ainda parte da Coligação F-16, da Coligação Internacional de Capacidades Marítimas, e dos programas de aquisição conjunta de munições de grande calibre liderados pela República Checa e pela Agência Europeia de Defesa”, refere no documento.

O acordo expressa ainda a condenação, por parte dos países, “da guerra de agressão ilegal, não provocada, injustificada e brutal da Federação Russa contra a Ucrânia, que constitui uma ameaça à paz e segurança internacionais e uma violação flagrante do Direito Internacional, incluindo da Carta das Nações Unidas, da Ata Final de Helsínquia e da Carta de Paris”.

“Portugal apoia inabalavelmente a liberdade, independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia, dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas em 1991, incluindo o mar territorial, e reconhece o direito inerente da Ucrânia à legítima defesa, em conformidade com o Artigo 51.º da Carta das Nações Unidas”, sublinha-se no texto, citado pela agência Lusa.

Entre as formas de cooperação estão ainda programas de formação de formadores e assistência ao sistema ucraniano de apoio médico, para o tratamento e reabilitação de pessoal das forças de defesa.

Uma publicação do ‘informador’ Ice Universe na rede social chinesa Weibo aponta que a Samsung se está preparar para melhorar bastante as câmaras que vai integrar no próximo topo de gama, o Galaxy S25 Ultra.

De acordo com o rumor, o novo modelo poderá ter quatro câmaras com mais resolução: a principal de 200 MP, uma ultrawide de 50 MP, uma teleobjetiva com zoom ótico 3x com 50 MP e uma super-telefoto de 50 MP com zoom ótico de 5x.

Apesar de ser uma grande melhoria, a Samsung está a pecar por chegar tarde: numa altura em que a maior parte dos rivais já usa câmaras traseiras de 50 MP ou mais, a fabricante sul-coreana optou por manter os sensores de 10 MP e 12 MP, mesmo nos modelos de topo, lembra o Sam Mobile.

Nesta fase, ainda não há qualquer informação a circular sobre as escolhas das câmaras para as versões standard do Galaxy S25 e do S25+. A nova família deve chegar ao mercado no próximo ano e poderá trazer o processador Snapdragon 8 Gen 4, a interface One UI 7, inspirada no Android 15.

Os smartphones desta próxima gama podem também contar com os novos processadores Exynos, com núcleos da ARM e da Samsung Foundry, de três nanómetros.

Segundo fonte diplomática à agência Lusa, a reunião entre Volodymyr Zelensky e Luís Montenegro, em São Bento, em que estão também presentes os ministros de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e da Defesa Nacional, Nuno Melo, antecede a assinatura de um acordo de cooperação bilateral para dez anos.

Na terça-feira, Rangel adiantou que este acordo abrange todas as áreas de cooperação entre os dois países nos últimos dois anos: “assistência humanitária, financeira, militar e política”. O acordo bilateral começou a ser planeado depois da última cimeira da NATO, em julho do ano passado.

Após a reunião e a conferência de imprensa conjunta com Luís Montenegro, Volodymyr Zelensky dirige-se ao Palácio de Belém para um encontro com Marcelo Rebelo de Sousa.

Da agenda de Zelensky para esta primeira visita a Portugal consta ainda um breve encontro com representantes da comunidade Ucrânia estabelecida em Portugal, bem como militares da GNR que participaram na missão da União Europeia de Aconselhamento sobre a Reforma do Setor Civil na Ucrânia (EUAM) e militares que participaram na missão de assistência militar da União Europeia à Ucrânia.

A política desportiva nacional vive em banho-maria. Em regime de existência a baixa temperatura. Após a tomada de posse do novo Governo, no início de abril, aguarda-se a implementação de duas das mais emblemáticas medidas anunciadas: o reforço orçamental do setor e a reforma da administração pública desportiva.

Não pondo em causa a sinceridade dos propósitos, não pode deixar de se registar a retirada do discurso político destes propósitos, porventura aqueles de maior grau de dificuldade em cumprir. Aguardemos.

Porque o Plano Nacional de Desenvolvimento Desportivo, outra medida emblemática do Governo, é o mais fácil de apresentar. E nem vale a pena enfatizar, como fez o ministro Pedro Duarte, que é com todos, com todas e já agora para não fugir à influência wokista com todes. E de baixo para cima. É como ir a Fátima: o caminho é conhecido. O resto é uma questão de fé. Existem vários planos e existe mesmo uma linha de produção comercial deste tipo de documentos. Que o digam as autarquias e as dezenas de planos de instituições públicas e privadas que existem por esse País fora.

Portugal, com décadas de atraso em matéria de políticas públicas desportivas e com um enorme défice de densificação da cultura e do pensamento desportivos, não pode olhar para a Europa como um exemplo a seguir acriticamente.

A Europa de há muito resolveu os problemas essenciais das suas políticas desportivas e vive hoje a regular a comercialização do desporto e uma nova agenda, que passa, entre outros aspetos, pela integridade das competições, a boa governação das organizações desportivas e a sustentabilidade das práticas desportivas em matérias ambientais.

A Europa, berço do desporto moderno, perdeu de há muito qualquer iniciativa de pensamento progressista sobre o desporto, engolida que foi pelos ventos da globalização e da americanização do desporto. Mas na Europa estas novas tendências encontram países com uma base desportiva desenvolvida e sustentada, mesmo com economias frágeis, como sucede com vários dos países que emergiram da orbita do sistema soviético. Porque a base generalizada da prática desportiva em indicadores elevados já existia e manteve-se.

É muito sedutor verificar a administração pública desportiva alinhada com os propósitos das organizações europeias do ativismo físico, onde, sublinhe-se, se gasta muito dinheiro sem que se perceba qual é o respetivo retorno social, enquanto, com aparente conforto, convive em termos nacionais com questões básicas e prementes do sistema desportivo nacional que continuam por resolver.

O Governo tem pela frente o habitual dilema: o papel que pretende que o desporto assuma na sociedade portuguesa. Um desporto que, mal ou bem, vá respondendo aos lugares-comuns e às lógicas em torno do espetáculo desportivo ou um desporto como manifestação cultural, com valores e socialmente reconhecido como um bem público e um ativo estratégico para o desenvolvimento do País?

A resposta ao dilema anterior ajudará a perceber se seremos capazes de passar de um desportozinho, com inegável sucesso no plano internacional em várias modalidades, mas com níveis baixíssimos de participação desportiva, para um desporto que naturalmente se integra na vida da comunidade sem a recorrente necessidade de permanentemente estar a recordar a sua importância e as falhas das políticas públicas.

Estará o atual Governo em condições de garantir um caminho diferente das governações anteriores? É cedo para responder. Mas, não se vislumbram, até agora, sinais que contrariem o nosso ceticismo.