A pedido de Ursula von der Leyen, Mário Draghi, antigo presidente do Banco Central Europeu coordenou um relatório sobre competitividade e dinamismo económico. Acredito que venha a ser a bússola da estratégia da UE para os próximos cinco anos.

Em cima da mesa está uma preocupante realidade: outrora um farol de desenvolvimento, a Europa atrasou-se e continua a reduzir a velocidade em relação aos seus dois principais concorrentes: EUA e China. Tem de abrir os olhos e acompanhar as mudanças no mundo.

Eis, ponto a ponto, o que diz e sugere Draghi.

Investimento. A Europa tem de mobilizar cerca de 800 mil milhões por ano, entre investimento público e privado, incluindo dívida comum, apenas para estar ao nível de EUA e China. Passar de um investimento de 22% do PIB para 27% As economias nacionais têm de crescer, em vez de continuar a decair, para que o contributo dos estados-membros e o investimento privado aumentem.

É que a solidariedade europeia não pode ser apenas um valor imaterial, mas tem que ser uma ação concreta que a todos beneficia. É um valor a praticar em toda a ação dos países membros.

Relação com a China. O relatório sugere mudar a forma de ver a China: de parceiro a ameaça. Nunca é demais lembrar (quando foi que nos esquecemos disso?) que a China não cumpre as mesmas regras nem partilha dos mesmos princípios que a Europa. Mesmo assim, a UE estribou-se na inovação e na tecnologia oferecidas pela China. Eles avançaram e nós não. Hoje tememos pela autonomia e segurança. Mas, se a China considera que a nossa fragilidade são os nossos valores democráticos e o cuidado com o planeta, temos de mostrar que essa é a nossa força. Saibamos usar o melhor do capitalismo e do humanismo.

Voltar a inovar. O “velho continente” perdeu ritmo tecnológico. EUA e China estão em alta velocidade. Draghi diz que as grandes empresas europeias são fundadas em “velhos” negócios e as novas empresas acabam por “migrar” pois não se conseguem expandir. Ficam as indústrias intermédias, desligadas da inovação e da IA. Não é só de Portugal que estão a sair jovens cérebros: é de toda a Europa. É a Europa que tem de se tornar num espaço de esperança e oportunidades.

Uma indústria comum. A experiência da UE tem décadas, mas os países têm sido incapazes de se coordenar entre si em áreas como fiscalidade e política comercial. Draghi dá o exemplo de onde devíamos trabalhar em comum: a produção automóvel. “É necessária uma abordagem global que abranja todas as fases” da investigação à exploração mineira, passando pelos dados, fabrico e reciclagem.

É necessário acelerar os processos de decisão administrativa (em Portugal, sobretudo!). Quando um negócio falha por não ter resposta de licenciamento, falha o projeto europeu.

Uma Europa mais ágil. Reduzir a burocracia e tornar mais eficientes as regras de decisão são passos essenciais para a UE. Leva-se em média 19 meses para aprovar novas leis, com vários vetos e entraves pelo meio. Pode legislar-se menos e mais rapidamente, pede Draghi. E pede bem.

Uma Europa mais segura. A Europa precisa de se unir na sua Defesa conseguindo um mercado e uma inovação e desenvolvimento comuns. Por outro lado, a segurança da Europa implica que atingir uma autonomia importante nos setores da energia, das matérias-primas e da inovação.

Tudo isto faz sentido. Haja coragem!

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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A neutralidade da tecnologia tem sido problemática filosófica que se tem revelado uma utopia. A realidade tem demonstrado que depende de como é utilizada, por quem, do seu potencial de transformação e da interação com outras tecnologias. Tudo isto a propósito das notícias veiculadas amplamente nos meios de comunicação social de que um recluso, no decurso de uma evasão de um estabelecimento prisional, poderia estar a usar um auricular para comunicar com aqueles que materialmente o auxiliavam do exterior. Se assim for, poder-se-á cogitar: com quem comunicou, em que termos, durante quanto tempo (e outras questões conexas, que deixarei ao leitor cogitar). 

Em termos jurídicos, estamos no âmbito das famosas problemáticas dos metadados, tendo Portugal publicado no dia 5 de fevereiro de 2024 a Lei nº 18/2024. O art.º 2, nº 1, al. g) da referida Lei define os crimes graves e pedia o favor de ter a paciência de ler o cardápio: crimes de terrorismo, criminalidade violenta, criminalidade altamente organizada, sequestro, rapto e tomada de reféns, crimes contra a identidade cultural e integridade pessoal, contra a segurança do Estado, falsificação de moeda ou de títulos equiparados a moeda, contrafação de cartões ou outros dispositivos de pagamento, uso de cartões ou outros dispositivos de pagamento contrafeitos, aquisição de cartões ou outros dispositivos de pagamento contrafeitos, atos preparatórios da contrafação e crimes abrangidos por convenção sobre segurança da navegação aérea ou marítima. 

Se atendêssemos só ao crime de evasão, previsto e punido pelo art.º 352º do nosso Código Penal, verificaríamos que se encontra prevista uma pena de prisão até dois anos. Ou seja, se formos só por este crime, manifestamente o legislador “ad quo” impossibilita a utilização de meios disponíveis de investigação a favor de evadidos que a Polícia Judiciária descreveu como  sendo extremamente violentos, com risco de cometimento de novos crimes. 

Por outro lado, importa sublinhar que o crime de evasão é um crime permanente, ou seja, enquanto estiverem em fuga, o referido crime prolonga-se, não decorrendo qualquer prazo prescricional. Como é fácil de concluir, se só daqui a alguns anos se lograr capturar alguém, nessa data o arguido terá de ser criminalmente responsabilizado. Se existisse um prazo máximo obrigatório para deduzir acusação após seu registo (v.g. 8 meses, contando de data de fuga), tal conduziria a uma aberração jurídica e só aumentaria o sentimento de insegurança bem como de impunidade. 

Ao legislador cabe analisar a realidade, decidir e legislar. O que for decidido, de preferência com estabilidade legislativa, tem impacto em todos nós e nela todos viveremos.

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“Shogun” é a primeira série de língua não inglesa a vencer o Emmy de Melhor Série Dramática. Chegou a esta edição dos Emmys com com 25 indicações, venceu 14 nas categorias técnicas e quatro das mais importantes. Retrato ficcional sobre o Japão do século XVI, “Shogun” tem no elenco o português Joaquim de Almeida e o luso-canadiano Louis Ferreira. 

A cerimónia de entrega dos prémios da Academia de Televisão, que decorreu esta madrugada, em Los Angeles, viu ainda triunfar “Baby Reindeer”, a produção da Netflix que bateu recordes de audiência quando estreou, em abril, e “Hacks”. 

“Baby Reindeer” arrecadou quatro Emmys na noite mais importante da televisão e, na comédia, uma surpresa: a terceira temporada de “Hacks” sobrepôs-se a “The Bear”.

Os vencedores nas principais categorias: 

Melhor série dramática: “Shogun”, FX

Melhor atriz em série dramática: Anna Sawai, “Shogun”, FX

Melhor ator em série dramática: Hiroyuki Sanada, “Shogun”, FX

Melhor atriz secundária em série dramática: Elizabeth Debicki, “The Crown”, Netflix

Melhor ator secundário em série dramática: Billy Crudup, “The Morning Show”, Apple TV+

Melhor série de comédia: “Hacks”, HBO Max

Melhor atriz em série de comédia: Jean Smart, “Hacks”, HBO Max

Melhor ator em série de comédia: Jeremy Allen White, “The Bear”, FX

Melhor atriz secundária em série de comédia: Liza Colón-Zayas, “The Bear”, FX

Melhor ator secundário em série de comédia: Ebon Moss-Bachrach, “The Bear”, FX

Melhor minissérie ou série de antologia: “Baby Reindeer”, Netflix

Melhor atriz em minissérie, série de antologia ou filme: Jodie Foster, “True Detective: Night Country”, HBO Max

Melhor ator em minissérie, série de antologia ou filme: Richard Gadd, “Baby Reindeer”, Netflix

Melhor atriz secundária em minissérie, antologia ou filme: Jessica Gunning, “Baby Reindeer”, Netflix

Melhor ator secundário em minissérie, antologia ou filme: Lamorne Morris, “Fargo”, FX

Melhor realização em série dramática: Frederick E.O. Toye, “Shogun”, FX

Melhor realização em série de comédia: Christopher Storer, “The Bear”, FX

Melhor realização em minissérie, série de antologia ou filme: Steven Zaillian, “Ripley”, Netflix 

Melhor escrita para série dramática: Will Smith, “Slow Horses”, Apple TV+

Melhor escrita para série de comédia: Lucia Aniello, Jen Statsky, Paul W. Downs, “Hacks”, HBO Max

Melhor escrita para minissérie, série de antologia ou filme: Richard Gadd, “Baby Reindeer”, Netflix

Melhor série de Variedades: “Last Week Tonight With John Oliver”, HBO Max

Melhor série de Variedades, talk show: “The Daily Show”, Comedy Central

A Polaris Dawn, a missão privada da SpaceX, foi concluída com sucesso ontem, depois do regresso de Jared Isaacman, Scott ‘Kidd’ Poteet, Sarah Gillis e Anna Menon. Os quatro chegaram a bordo da cápsula Dragon e amararam no Golfo do México na madrugada de domingo.

Esta missão fica marcada por várias estreias: Gillis e Menon tornaram-se as mulheres a ir mais longe da Terra, Isaacman e Gillis fizeram o primeiro passeio espacial privado e a Polaris chegou a uma altitude de pico de 870 milhas, ou seja, cerca de 1400 quilómetros (mais alto desde o programa Apollo), noticia o Engadget.

Além de realizar algumas experiências científicas a bordo, a tripulação fez uma chamada de vídeo de cerca de 40 minutos para a Terra, enviou ficheiros para testar as capacidades de comunicação da Starlink, incluindo um vídeo de Gillis a tocar violino no espaço, que pode ouvir aqui.

De acordo com as previsões da Meteored Portugal, as temperaturas em Portugal continental deverão manter-se, nas próximas duas semanas, acima da média. A culpa é de um grande bloqueio anticiclónico entre o Mar do Norte e a Europa Central ou a Escandinávia, o que resultará em tempo seco e estável e céu pouco nublado ou limpo.

Quanto à precipitação, os especialistas preveem a existência de alguma chuva – embora pouca – para as próximas semanas, sobretudo em Portugal Continental e ilhas da Madeira. Já nos Açores está prevista precipitação acima da média, associada à potencial aproximação de sistemas ciclónicos tropicais ‘nascidos’ na bacia do Atlântico. Está ainda previsto, no continente, algum vento para esta semana, entre 16 e 23 de setembro.

Temperturas começam a baixar na última semana de setembro

Segundo as previsões, a temperatura deverá manter-se, em média, entre 1 a 3 ºC acima do normal para a época em Portugal continental e Açores e até 1 ºC acima do habitual na Madeira.

Destacam-se ainda, no continente, algumas anomalias de calor – entre os 3 e 6 ºC acima da média – na semana de 16 a 23 de setembro, sobretudo nos distritos da Guarda, Castelo Branco, Coimbra, Santarém, Viseu e Portalegre.

A temperatura só começam a baixar, no Continente, na última semana do mês. Contudo, as temperaturas nos distritos de Leiria, Lisboa e Faro deverão manter-se mais elevadas do que resto do território. Não foram detetadas mudanças significativas nos arquipélagos para a última semana do mês.

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Na semana em que mais de cem mil alunos começam o ano sem professores, discutimos um tema urgente e fundamental no dia-a-dia dos portugueses: a questão de Olivença. Prossegue a silly season, talvez como consequência do aquecimento global.

O Ministro da Defesa, Nuno Melo, afirmou esta sexta-feira numa entrevista que Olivença é “portuguesa” e que “por tratado, deverá ser entregue ao Estado português”. Para quem se possa ter distraído nos últimos séculos, Espanha reconheceu, num diploma assinado em 1817, a soberania portuguesa sobre o território e comprometeu-se a devolvê-lo a Portugal. Nunca aconteceu. Antes de, em 1801, Espanha anexar o território, Olivença pertencia a Portugal e ficou estipulado que seria devolvido. Nunca foi. O senhor Ministro tem razão no que toca ao papel. Mas qual papel? O papel.

Porque me lembro mal do ano 1817, era então bebé de colo, não posso avaliar se a devolução imediata teria, ou não, feito sentido. Passados mais de duzentos anos, e olhando para como evoluiu um país e outro, estou em condições de supor que os oliventinos prefiram ter hoje um salário mínimo 40% superior ao do país governado pelo Dr. Nuno Melo. Quando dizemos que Espanha deve entregar Olivença, estamos no fundo a propor levar à falência onze mil oliventinos.

Mas o ridículo desta ideia, em 2024, é também territorial: o interior português foi sendo condenado ao abandono ao longo da História. Portugal é um país relativamente pequeno que, com apenas 200 quilómetros de largura, fez a proeza de criar um “interior” e um litoral – o que é cómico, por exemplo, para qualquer brasileiro. Como pode ser tão difícil garantir um mínimo de coesão territorial num país que no Brasil seria uma junta de freguesia? É risível que uma nação concentrada nas cidades do litoral (e mesmo aí, será gentil falar em “estratégia”), com milhares de quilómetros quadrados ao abandono e à seca, reivindique mais território no interior. Precisamos de mais área para desertificar?

E é na falta de noção do ridículo que isto assenta. Foi o próprio dr. Nuno Melo quem alertou: “eu sei que muitos avaliam a circunstância caricatural”, mas o assunto “não é de ontem. É de hoje”. Quando hoje, a única coisa de que se pode acusar Espanha nesta matéria é de ter condenado onze mil pessoas a não partilhar nacionalidade com o Cristiano Ronaldo. Pastéis de nata à parte – e as nossas azeitonas, que são em tudo melhores que as espanholas -, conheço quem, no interior, não se importasse de ter sido anexado pelos nuestros hermanos. Não eu! Que não trocava o meu país nem por duas Barcelonas, três Bilbaos e dez Sevilhas. A mim, basta-me a Rua de Olivença em Évora, que essa sim é nossa, como tantas outras pelo país. Que são, de facto, nossas.

A deles, lá terá de ficar, com o seu invejável salário e as suas azeitonas péssimas.

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Não há país que eu conheça que viva tamanha obsessão mediática com o Orçamento do Estado como este cantinho à beira-mar plantado. Portugal vive há meses uma espécie de tai chi retórico, um karaté em câmara lenta, que tem como objetivo convencer-nos de que o sol nasce e põe-se apenas e só se o Orçamento for aprovado e toda a gente se portar bem.

Quando fui de férias, a meio de agosto, era o tema quente. Voltei, e o tema é o mesmo. Pior do que isso, a discussão continua a ser feita da mesmíssima forma, com bluffs e contra-bluffs de Governo e do PS, temperada com as costumeiras pressões de Marcelo. A bem da novidade, valha-nos o Chega, que à custa da sua impaciência e inconsequência nunca deixa de alimentar a narrativa com factóides novos (a última foi a de que viabilizaria o OE se o Governo não falar com o PS, uma versão nada atualizada do infantil “não vou ser mais teu amigo se fores amigo daquele”).

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A fragilidade humana é proporcional ao portento artístico. Ao longo de uma hora e 40 minutos nunca nos desligamos do som da música em detrimento da imagem. No drama e no recato do preto-e-branco, sem público a assistir, há luz, há sombras, há reflexos, há movimentos, há um homem, as suas mãos e o piano, no registo mais íntimo de músico e instrumento.

Ryuichi Sakamoto: Opus é um verdadeiro best of do legado do compositor japonês que morreu em março de 2023, aos 71 anos, na sequência de um cancro, precisamente um ano antes da estreia do filme nos cinemas. Foram sete dias de gravações, em setembro de 2022, no estúdio 509 do edifício em Tóquio da NHK, rádio pública japonesa.

São 20 temas, tocados em duas a três peças por sessão, sem faltarem temas de bandas sonoras de filmes como Feliz Natal, Mr. Lawrence (1983), de Nagisa Oshima, O Último Imperador (1987) e Um Chá no Deserto (1990), ambos de Bernardo Bertolucci, e O Monte dos Vendavais (1992), de Peter Kosminsky. “Depois [da rodagem], senti-me completamente vazio e o meu estado de saúde piorou durante cerca de um mês. Mesmo assim, sinto-me aliviado por ter conseguido gravar, antes da minha morte, uma atuação que me deixou satisfeito”, escreveu Sakamoto.

Neo Sora, realizador e filho de Ryuichi Sakamoto. Foto: Kab Inc./KAB America Inc.

Atrás da câmara estava Neo Sora, 33 anos, realizador e filho de Ryuichi Sakamoto, com a sua última companheira, Norika Sora, também sua agente. Com Bill Kirstein, diretor de fotografia, Neo pensou numa iluminação que representasse as mudanças de luz ao longo do dia, levando ao reajuste do alinhamento para que os temas se encaixassem melhor.

Perfecionista, Ryuichi Sakamoto vai duvidar, procurar as notas certas e fazer uma pausa em Bibo no Aozora (1995), numa secção em que costumava improvisar. Na pós-produção, o músico escolheu todos os takes que considerou melhores, exceto nessa canção, em que fez questão de incluir o erro, a hesitação. No final, a luz do candeeiro não se apaga e nós continuaremos sempre numa plateia imaginária.

Ryuichi Sakamoto: Opus > TVCine Edition > Estreou 13 set, sex 22h > 98 min